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Sofia Clark

North Hills,Califórnia

Quando meus olhos finalmente se abrem, sou recebida pela luz fria e branca do hospital. O ambiente ao meu redor parece distante, como se não pertencesse a este mundo. Minha cabeça lateja, e há uma sensação de desorientação que me domina. Meus músculos parecem enfraquecidos, como se estivessem presos em um nevoeiro denso, e tudo ao meu redor está um pouco turvo. Fragmentos de memórias começam a surgir, mas a primeira imagem clara que invade minha mente é o rosto de Lucas.

Meu coração dispara, a pressão no peito se intensifica.

- Lucas... - sussurro, minha voz rouca e fraca.

Olho ao redor, esperando vê-lo ao meu lado. Ele sempre estava lá, especialmente nos momentos em que eu mais precisava. Eu posso quase sentir sua presença, o toque de suas mãos, o som de sua risada. Mas o quarto está vazio, exceto pelo bip suave das máquinas que monitoram meu corpo.

A porta se abre, e vejo o Dr. Sloan entrar, seguido pela minha mãe. O alívio que sinto ao vê-los é rapidamente substituído por uma estranha sensação de inquietação. O rosto da minha mãe está abatido, seus olhos inchados e vermelhos, como se tivesse chorado por dias. Ela se aproxima da cama com cuidado, segurando minha mão com delicadeza.

- Mãe... - minha voz falha, e a pergunta vem em seguida, carregada de urgência e medo. - Onde está Lucas?

O nome dele parece suspenso no ar, mas o silêncio que o segue me faz sentir um peso no estômago. Minha mãe desvia o olhar por um momento, como se estivesse se preparando para dizer algo difícil. Dr. Sloan respira fundo antes de se aproximar da cama, o rosto neutro, mas os olhos revelando algo mais profundo.

- Sofia... - ele começa, a voz controlada, como se estivesse escolhendo cuidadosamente cada palavra.

- Quem é Lucas?

Minha testa se franze de confusão. O que ele quer dizer com isso? Minha cabeça está girando, mas tenho certeza do que vivi.

- Lucas, meu namorado - digo com mais firmeza, mesmo com a fraqueza na voz.

- Ele esteve comigo aqui no hospital. Como assim "quem é Lucas?" - insisto, a tensão crescendo.
- Ele passou todo esse tempo ao meu lado.

O olhar que Dr. Sloan e minha mãe trocam é carregado de um peso que não consigo entender. Minha mãe aperta minha mão, seu rosto pálido e com os olhos cheios de lágrimas. Mas ela não diz nada, e isso me assusta.

- Sofia - Dr. Sloan continua, sua voz calma, mas o conteúdo das palavras me atinge como um soco.

- Não houve ninguém chamado Lucas aqui no hospital. Não há registros de visitas, e ninguém com esse nome foi mencionado pelos enfermeiros ou médicos.

Meus pensamentos congelam. Eu balanço a cabeça, recusando-me a aceitar o que ele está dizendo.

- Não... vocês estão errados - digo, sentindo o pânico crescer dentro de mim. - Lucas estava aqui! Ele... ele cuidou de mim, nós passamos tudo isso juntos! Ele estava aqui todas as noites! Como podem dizer que ele não existe?

Minha voz começa a tremer, as lágrimas já ameaçando escorrer. Minha mãe engasga com um soluço, suas mãos tremendo levemente enquanto continua a me segurar. Dr. Sloan permanece calmo, mas suas palavras seguintes desmoronam a realidade que eu acreditava ser verdadeira.

- Sofia, tudo o que você acredita ter vivido nos últimos meses... não foi real.
Você ficou em coma desde que seu corpo começou a rejeitar o tratamento.

Meu coração disparou, como se tentasse escapar da verdade que agora se revelava.
As imagens de Lucas, de nós dois juntos, os sorrisos, os toques, as conversas íntimas passaram pela minha mente como um turbilhão. Era impossível. Era real. Tinha que ser real!

- Não pode ser - balbuciei, sentindo a pressão das lágrimas crescendo atrás dos meus olhos.
- Eu me lembro dele, de tudo o que passamos... do pedido de namoro, das nossas conversas, dos planos...

Minha voz foi sumindo, como se o peso da verdade estivesse roubando minha capacidade de falar. Meus olhos buscavam a confirmação de que aquilo era apenas um mal-entendido, que Lucas apareceria pela porta a qualquer momento.

- Sofia - Dr. Sloan interveio, sua voz calma, mas firme.

- O que você experimentou enquanto esteve em coma foi a sua mente criando uma realidade alternativa. Um mecanismo de defesa contra o trauma físico e emocional que você estava enfrentando. Mas... Lucas não existiu. Ele era uma criação da sua mente.

O chão pareceu desmoronar sob mim. Era como se tudo estivesse desintegrando, como se o ar ao meu redor estivesse me esmagando. Eu queria gritar, dizer que eles estavam errados, que tudo o que eu vivi era real. Lucas era real! Mas a verdade já começava a se enraizar em mim, cada pedaço da história desmoronando sob o peso de suas palavras.

Minha mãe me puxou para um abraço apertado, mas eu mal conseguia sentir seus braços ao meu redor. Tudo o que eu podia sentir era o vazio, a dor de uma ausência que agora fazia mais sentido do que eu queria admitir.

- Ele... não era real? - perguntei, mais para mim mesma do que para eles.

O silêncio que se seguiu foi ensurdecedor. Minha mãe soluçava baixinho, enquanto o Dr. Sloan apenas confirmava com um leve aceno de cabeça. Eu fechei os olhos, as lágrimas queimando minha pele enquanto deslizavam pelo meu rosto.

Eu tinha amado alguém que nunca existiu. Tudo o que eu vivi, tudo o que eu senti, não passava de uma ilusão. O Lucas, o homem que me acompanhou nos momentos mais sombrios, com quem compartilhei os momentos mais íntimos, o amor que pensei que tinha encontrado... nunca foi real.

Minha mente girava, tentando processar tudo isso. O mundo ao meu redor parecia distorcido, fora de foco. Como eu poderia confiar em qualquer coisa agora? Como eu poderia aceitar que o amor, a conexão, o cuidado, tudo aquilo era um produto da minha mente tentando se proteger?

Mas agora, sentindo o peso da realidade, percebo que nada daquilo foi real.

E ao encarar essa verdade, murmuro, quase inaudível:

- Nada era real.

Coração em Colapso Onde histórias criam vida. Descubra agora