Capítulo 1

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A Nova Capitã

O sol ainda não havia se erguido completamente no horizonte quando a Capitã Olivia Benson  entrou no prédio da delegacia. O corredor silencioso parecia ecoar com o peso de sua posição recém-assumida. Os corredores, tão familiares para ela, tinham uma nova gravidade agora que ela havia subido ao posto de capitã, algo que poucos imaginavam que uma mulher, e tão jovem, pudesse alcançar.

Ela percorreu o caminho até seu novo escritório com passos decididos, mas não conseguia evitar sentir a tensão no ar. Os olhares dos colegas, que antes a viam como uma igual, agora carregavam um misto de respeito e curiosidade. Em meio a esse novo papel, a Capitã sabia que não tinha tempo a perder para mostrar que merecia estar ali.

Assim que entrou em sua sala, ainda se acostumando com o espaço mais amplo e a vista da cidade abaixo, ela respirou fundo. A mesa estava vazia, exceto por uma única pasta preta, contendo o relatório de um caso em andamento que ela precisaria revisar antes da reunião com sua equipe. Sentou-se na cadeira de couro e, por um momento, permitiu-se sentir o peso simbólico daquela posição. Era uma conquista, sem dúvida, mas também uma responsabilidade enorme.

Benson abriu a pasta e começou a ler, mergulhando nos detalhes do caso. Havia algo reconfortante na rotina do trabalho, nos detalhes técnicos que exigiam sua atenção total. No entanto, à medida que os minutos passavam, ela não podia deixar de pensar em como sua vida mudara. Ser capitã era um sonho realizado, mas também trazia novos desafios, especialmente o de manter sua vida pessoal tão bem guardada como sempre.

A primeira reunião da manhã com sua equipe estava marcada para as 8h. Antes disso, ela precisava preparar sua mente para lidar com a dinâmica de liderar pessoas que, até pouco tempo, eram seus pares. Ela sabia que precisaria provar seu valor novamente, apesar de seu currículo impecável. E então havia o fato de que ela, até agora, havia mantido sua vida privada completamente reservada. Nenhum dos seus colegas sabia sobre sua orientação sexual, e era assim que ela pretendia manter.

Quando o relógio indicou 7h45, a Capitã se levantou, ajeitou o casaco preto que usava sobre a camisa branca impecavelmente passada e saiu de sua sala, caminhando em direção à sala de reuniões. À medida que se aproximava, escutava a voz de Fin ecoando no corredor.

“Ah, a nova chefona está chegando, então vamos nos comportar, pessoal,” disse Fin em um tom descontraído, mas carregado de respeito.

A Capitã entrou na sala com um pequeno sorriso. “Bom dia, equipe,” disse ela, olhando para cada um deles. Fin, Amanda, Carisi, Elliot e Ana estavam sentados à mesa, seus rostos voltados para ela com atenção. Havia uma mistura de confiança e expectativa no ar.

“Bom dia, Capitã,” responderam em uníssono.

Ela se sentou à cabeceira da mesa, sentindo a posição de liderança se manifestar fisicamente. “Sei que esse é um momento de transição para todos nós, mas quero deixar claro desde o início que, embora minha posição tenha mudado, continuamos a ser uma equipe. Precisamos um do outro, agora mais do que nunca. Então, vamos ao trabalho.”

Elliot, sempre o primeiro a entrar em ação, entregou a ela uma pasta com mais detalhes sobre o caso que estavam investigando – um sequestro com poucas pistas concretas. “Estamos correndo contra o relógio neste aqui, Capitã. Temos uma janela curta para encontrar a vítima antes que a situação piore.”

Ela pegou a pasta, mas antes de abrir, olhou para ele. “Obrigado, Elliot. Vou precisar de todos vocês ao máximo neste caso.”

Enquanto discutiam o plano de ação, a Capitã não pôde deixar de notar a presença de Ana, a detetive mais nova da equipe. Ana era eficiente, precisa e tinha um olhar que parecia captar mais do que os outros percebiam. A Capitã havia observado essas qualidades desde que Ana se juntara à equipe, mas algo mais começou a se insinuar em seus pensamentos: uma atração crescente e inesperada.

A Capitã afastou esses pensamentos rapidamente. Havia um trabalho a ser feito, e ela não podia se dar ao luxo de ser distraída por sentimentos pessoais, especialmente quando esses sentimentos ameaçavam desestabilizar a muralha que ela havia construído ao redor de sua vida privada.

Conforme a reunião se desenrolava, ela manteve o foco no caso, delegando tarefas, organizando a estratégia de investigação e garantindo que todos estivessem alinhados. No entanto, a presença de Ana continuava a pesar em sua mente, uma distração que ela não esperava e que, em um momento de vulnerabilidade, temia não ser capaz de controlar.

Após a reunião, a equipe se dispersou para começar o trabalho. A Capitã voltou para seu escritório, mas antes que pudesse se concentrar novamente no caso, houve uma batida na porta. Ana entrou, sua expressão tranquila e profissional.

“Capitã, eu só queria discutir alguns detalhes sobre a análise que estamos fazendo,” disse Ana, entregando-lhe um relatório.

“Claro, Ana, sente-se,” respondeu a Capitã, tentando manter o tom firme e neutro. Ela pegou o relatório e começou a lê-lo, mas estava consciente da proximidade de Ana, do som de sua respiração, da leve fragrância de seu perfume. Era desconcertante, e a Capitã sabia que precisava manter o controle.

Eles discutiram o relatório, cada uma mantendo o profissionalismo que a situação exigia, mas a Capitã não pôde deixar de notar o conflito interno crescendo. Ela sabia que tinha que enterrar esses sentimentos, mas a realidade era que, quanto mais tentava ignorá-los, mais eles se intensificavam.

Quando Ana saiu, a Capitã sentiu um alívio misturado com frustração. Ela se levantou e caminhou até a janela, olhando para a cidade abaixo. Sentia-se como se estivesse à beira de um precipício, tentando manter o equilíbrio enquanto o vento soprava forte, tentando derrubá-la.

Mas ela era a Capitã. E ceder ao que estava sentindo não era uma opção.

O resto do dia foi um borrão de atividades, reuniões, ligações, e tentativas de avançar no caso do sequestro. Cada vez que a Capitã se encontrava a sós, seus pensamentos voltavam para Ana, mas ela os afastava com a mesma disciplina que usava para lidar com situações de risco. Ainda assim, sabia que estava em uma batalha com ela mesma, e a primeira batalha era sempre a mais difícil de vencer.

Quando finalmente chegou em casa naquela noite, a Capitã sentou-se em sua poltrona favorita, exausta. A solidão da sua casa era ao mesmo tempo um alívio e uma lembrança de tudo o que ela havia sacrificado para chegar onde estava. Ela sabia que a vida que havia escolhido não permitia fraquezas, mas ali, sozinha em seu apartamento, as barreiras que ela mantinha tão firmemente erguidas começavam a mostrar pequenas rachaduras.

E essas rachaduras a aterrorizavam.

Ela precisava de uma solução, uma maneira de lidar com o que estava sentindo sem comprometer sua carreira, sua equipe, e a vida que havia construído com tanto esforço. Mas essa solução parecia distante, como uma miragem no deserto.

A Capitã fechou os olhos e respirou fundo, tentando acalmar sua mente. Amanhã seria outro dia, e ela tinha que estar pronta. Mas no fundo, ela sabia que o verdadeiro desafio não era o caso do sequestro ou as demandas da liderança – era algo muito mais pessoal, e muito mais perigoso.

Com esse pensamento inquietante, a Capitã finalmente se levantou e foi se preparar para dormir, sabendo que o próximo dia traria mais perguntas do que respostas, e que o equilíbrio entre o dever e o desejo estava prestes a ser testado de maneiras que ela nunca imaginou.

Ruptura SilenciosaOnde histórias criam vida. Descubra agora