capítulo 46

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Depois daquele dia emocionante na delegacia, Olivia sentia uma mistura de gratidão e amor que a envolvia de uma maneira quase indescritível. Cada pequeno gesto de seus amigos, o sacrifício de Ana e a doçura de Myrela a enchiam de uma força renovada. Embora o tratamento estivesse longe de ser fácil, com todos os efeitos colaterais que vinham junto, ela sabia que não estava sozinha.

Fin continuava presente em cada etapa, como uma rocha sólida ao lado dela. Ele insistia em acompanhá-la nas consultas médicas e, embora Olivia tentasse aliviar a tensão com piadas sobre o fato de Fin agora ter menos cabelo do que ela, era evidente que a presença dele fazia toda a diferença.

Ana, por sua vez, se mostrava a parceira ideal. Mesmo com o trabalho e as responsabilidades como mãe, ela sempre encontrava tempo para cuidar de Olivia. Em momentos em que Liv se sentia vulnerável ou insegura, Ana estava lá, com um toque carinhoso, uma palavra de encorajamento ou simplesmente um silêncio compartilhado, onde as emoções falavam mais alto do que qualquer frase poderia.

Uma tarde, enquanto Olivia descansava em casa após uma sessão de quimioterapia particularmente exaustiva, Ana chegou com uma sacola de compras e um sorriso brilhante no rosto.

— O que você está aprontando agora? — Olivia perguntou, curiosa, enquanto se levantava do sofá com esforço.

Ana colocou a sacola na mesa e começou a tirar os itens.

— Decidi que precisamos de uma noite divertida, só nós três. — Ela levantou uma garrafa de suco e alguns ingredientes frescos. — Que tal uma noite de pizza caseira com Myrela?

Olivia sorriu, sentindo o cansaço no corpo, mas o calor no coração.

— Isso soa perfeito. Mas você sabe que eu na cozinha sou desastrada, né?

Ana riu, aproximando-se de Olivia e colocando um braço ao redor de sua cintura.

— Não se preocupe. Eu cuido de tudo. Você só precisa estar lá e aproveitar. Ah, e talvez cortar alguns ingredientes,sem cortar os dedos kkkkk— Ela piscou, fazendo Olivia rir suavemente.

Pouco tempo depois, Myrela chegou correndo da sala onde estava brincando, animada ao saber que fariam pizza juntas. Ela puxou Olivia pela mão, levando-a até a cozinha e insistindo que queria ajudar com a massa. Era difícil para Olivia não se contagiar com a alegria da menina, que, mesmo com o corte de cabelo curto, irradiava uma confiança e uma felicidade que enchiam a casa.

Enquanto preparavam a pizza, Olivia observava Ana e Myrela rindo juntas, se divertindo com a bagunça que faziam ao espalhar farinha por toda parte. Por um momento, Liv se permitiu relaxar e sentir o calor da cena familiar. Havia tanto amor ali, tanto apoio incondicional. Era difícil acreditar que, em meio a todo o caos que o tratamento e as incertezas da vida traziam, ela havia encontrado algo tão bonito e verdadeiro.

Mais tarde naquela noite, depois que a pizza foi devorada e Myrela estava aninhada no colo de Olivia no sofá, quase adormecida, Ana se aproximou e se sentou ao lado delas, segurando a mão de Olivia com um olhar sereno.

— Liv... eu sei que você está passando por muita coisa agora. E sei que há momentos em que você se sente fraca, mas quero que saiba que nunca vi alguém tão forte quanto você. — Ana apertou a mão dela suavemente. — Eu e Myrela estamos aqui, sempre, para o que você precisar. Eu te amo, e não importa o que aconteça, estamos nessa juntas.

Olivia respirou fundo, tentando controlar as emoções que ameaçavam transbordar. Olhou para Ana com um sorriso trêmulo e então para a pequena Myrela, adormecida em seu colo.

— Eu sei. E eu sou tão sortuda por ter vocês. — Ela fez uma pausa, os olhos cheios de lágrimas. — Eu nunca pensei que alguém pudesse me amar assim... de verdade. Com tudo o que está acontecendo.

Ana balançou a cabeça, seus olhos brilhando.

— Liv, o que acontece por fora não muda o que sentimos por você. Você é incrível, do jeito que é. Sempre foi e sempre será.

Olivia não pôde evitar deixar uma lágrima escapar, e Ana gentilmente enxugou seu rosto. Elas se abraçaram ali, com Myrela entre elas, e naquele momento, Olivia soube que, por mais dura que fosse a estrada à frente, ela tinha tudo o que precisava.

Os dias continuaram a passar, e com eles, Olivia teve altos e baixos. Algumas semanas eram melhores do que outras. Havia dias em que ela se sentia mais disposta e animada, e conseguia até trabalhar meio período na delegacia, o que a fazia sentir-se mais conectada com sua antiga vida. Em outros momentos, o cansaço e os efeitos dos remédios a atingiam de uma forma que a obrigava a ficar em casa, descansando o máximo possível.

Nesses dias difíceis, Ana sempre estava por perto, mesmo quando o trabalho chamava. Myrela também trazia uma luz incomparável à casa, fazendo com que Olivia sentisse que, apesar de todas as adversidades, havia algo profundamente bom e certo em sua vida.

Uma tarde, Ana chegou em casa mais cedo, surpresa ao encontrar Olivia sentada no quintal, olhando para o céu com uma expressão distante. A quimioterapia naquela semana havia sido particularmente dura, e Ana sabia que Liv estava tentando se recuperar emocionalmente também.

— Está tudo bem? — Ana perguntou suavemente, se aproximando e sentando ao lado dela.

Olivia suspirou, inclinando a cabeça no ombro de Ana.

— Só estava pensando em como tudo isso mudou tão rápido. Em como, em um minuto, minha vida estava de um jeito, e no outro... tudo virou de cabeça para baixo.

Ana apertou a mão dela.

— Eu sei que é difícil. Mas você não está sozinha. E vamos superar isso, juntas.

Olivia sorriu levemente, olhando para o céu que começava a tingir-se de laranja com o pôr do sol.

— Eu sei. E isso é o que me faz continuar todos os dias. — Ela olhou para Ana, seus olhos sérios. — Eu não sei o que teria feito sem você e Myrela. Vocês me deram mais do que amor... me deram algo pelo qual lutar.

Ana sorriu, inclinando-se para beijar Olivia suavemente.

— Nós somos uma família, Liv. E famílias enfrentam tudo juntas, não importa o que venha.

O coração de Olivia se aqueceu com aquelas palavras. Mesmo nos dias mais sombrios, havia uma luz que a guiava. E essa luz vinha de Ana e Myrela, as pessoas que ela mais amava.

Mais tarde naquela noite, Olivia estava deitada na cama, já sentindo o cansaço acumulado do dia, mas com o coração leve. Ana deitou-se ao seu lado e puxou-a para um abraço reconfortante. Liv fechou os olhos, permitindo-se relaxar no calor dos braços de Ana, e sussurrou:

— Eu te amo, Ana. Muito mais do que palavras podem dizer.

Ana sorriu no escuro, acariciando os cabelos curtos de Olivia.

— Eu também te amo, Liv. Vamos superar isso, juntas, dia após dia.

E assim, envolta pelo amor de sua família, Olivia adormeceu com o coração cheio de esperança e a certeza de que, mesmo nas batalhas mais difíceis, o amor que elas compartilhavam seria sempre sua maior força.

Ruptura SilenciosaOnde histórias criam vida. Descubra agora