Capítulo 21

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Olivia ficou sentada na poltrona da sala, encarando o nada, enquanto a notícia que havia acabado de receber no consultório do médico ainda ecoava em sua mente. Ela mal conseguia processar a palavra "câncer", muito menos os detalhes sobre o estágio dois e a necessidade de uma biópsia. Uma onda de medo e incerteza tomou conta dela, mas, ao mesmo tempo, sentiu uma estranha calma—como se seu corpo estivesse tentando protegê-la do impacto total da revelação.

Ela se levantou, ainda meio atordoada, e foi até a cozinha. Tentou se concentrar em atividades mundanas—fazer um café, organizar a bancada—mas sua mente continuava voltando à consulta. Como ela iria contar isso para as pessoas que ama? Como ela conseguiria lidar com o tratamento sem que ninguém percebesse? Olivia sabia que sua força sempre foi uma de suas maiores qualidades, mas agora sentia como se essa força estivesse sendo posta à prova de uma maneira que ela nunca imaginou.

Ela pegou o celular e viu várias mensagens de amigos e colegas, mas não tinha forças para responder. Decidiu que, por enquanto, manteria o segredo para si mesma. Queria tempo para processar tudo, para entender o que isso significaria para sua vida e sua carreira. Sentia que, se falasse sobre isso agora, o câncer se tornaria real demais, algo inescapável.

Enquanto terminava o café, sua mente começou a traçar estratégias. Como ela poderia continuar com sua rotina sem levantar suspeitas? Como poderia manter sua performance no trabalho e ao mesmo tempo enfrentar um tratamento que, com certeza, a debilitariam? Olivia sabia que, mais cedo ou mais tarde, teria que contar a alguém—talvez Fin, que era como um irmão para ela, ou talvez Ana, que havia se tornado uma amiga próxima e sempre mostrava preocupação com seu bem-estar. Mas não agora. Agora, ela precisava de tempo para assimilar, para encontrar seu equilíbrio novamente.

Ela tomou um gole do café e fechou os olhos por um momento, tentando acalmar a tempestade de pensamentos. Quando os abriu, decidiu que manteria sua rotina o mais normal possível. Esse era o plano: agir como se nada tivesse mudado, enquanto processava a realidade por conta própria.

No dia seguinte, Olivia seguiu seu plano. Levantou-se cedo, fez sua rotina matinal e se preparou para mais um dia na delegacia. Apesar da dor de cabeça persistente e do peso emocional da notícia, ela se forçou a agir normalmente. Quando chegou à delegacia, cumprimentou os colegas com um sorriso tranquilo, como sempre fazia, e mergulhou nos relatórios e nas investigações pendentes.

No fundo, Olivia sabia que sua fachada não poderia durar para sempre. As pessoas ao seu redor eram perceptivas, especialmente Fin e Ana, que já estavam preocupados com ela desde que suas dores de cabeça começaram. Mas ela estava determinada a manter a calma e controlar a situação, pelo menos até ter mais informações sobre seu estado e sobre as opções de tratamento.

Durante o dia, Olivia teve vários momentos de distração, onde sua mente voltava ao consultório do médico, ao olhar grave que ele lhe deu antes de entregar o diagnóstico. A sensação de irrealidade persistia, como se tudo fosse parte de um pesadelo do qual ela logo iria acordar. Ela se obrigou a voltar sua atenção para o trabalho cada vez que esses pensamentos surgiam, mas era difícil.

Mais tarde, durante uma reunião com a equipe, Olivia percebeu que Fin a observava atentamente. Ele era um dos poucos que conseguia perceber quando algo estava errado com ela, e Olivia sabia que não demoraria muito para que ele perguntasse o que estava acontecendo. Ela tentou se manter neutra, focando nos detalhes do caso em discussão, mas sentia o olhar de Fin queimando sobre ela.

Quando a reunião terminou e os outros começaram a sair da sala, Fin se aproximou. "Olivia, posso falar com você por um minuto?" ele perguntou, com um tom sério que indicava que ele não estava apenas querendo discutir o caso.

Olivia assentiu e esperou até que todos saíssem. "O que foi, Fin?"

"Você está bem?" Ele foi direto ao ponto, como sempre. "Você não parece... você mesma, sabe? Está tudo bem de verdade?"

Olivia sentiu seu coração acelerar. Ela sabia que Fin estava tentando ajudá-la, mas a ideia de compartilhar sua situação com ele naquele momento era assustadora. Ela forçou um sorriso. "Estou bem, Fin. Só um pouco cansada, sabe como é... tudo normal."

Fin continuou olhando para ela, claramente não convencido. Mas ele também sabia que Olivia não se abria facilmente, então assentiu devagar, sem pressionar mais. "Se precisar de alguma coisa, qualquer coisa, você sabe que pode contar comigo, certo?"

Ela assentiu, agradecida por sua preocupação. "Eu sei, Fin. Obrigada."

Eles se despediram, e Olivia voltou ao seu escritório, fechando a porta atrás de si. Sentou-se à mesa e passou as mãos pelo rosto, tentando afastar o cansaço que parecia maior do que nunca. Fin estava certo—ela não estava bem. Mas ainda não estava pronta para admitir isso para ninguém.

Mais tarde naquela noite, Olivia estava em casa, sozinha, tentando distrair sua mente com um livro, mas cada palavra parecia se dissolver em seus pensamentos sobre o futuro. Ela sabia que o câncer era uma batalha longa e difícil, e o estágio dois significava que ela ainda tinha uma chance significativa de recuperação. No entanto, o medo do desconhecido, o medo de como isso afetaria sua vida e carreira, era esmagador.

Ela pensou em Ana, que havia sido tão carinhosa e prestativa nas últimas semanas. Ana perceberia que algo estava errado, especialmente se Olivia começasse a faltar a compromissos ou aparecesse no trabalho visivelmente abatida pelos tratamentos. Talvez fosse com Ana que ela deveria falar primeiro—talvez Ana entendesse e pudesse oferecer o tipo de apoio discreto que Olivia precisava naquele momento.

Enquanto esses pensamentos circulavam em sua mente, Olivia pegou o telefone. Sem pensar muito, mandou uma mensagem para Ana, perguntando se poderiam se encontrar no dia seguinte. Não mencionou o motivo, apenas disse que precisava conversar. Depois de enviar a mensagem, sentiu uma leve sensação de alívio, como se dar o primeiro passo para falar sobre isso fosse o começo de sua batalha pessoal contra o câncer.Naquela noite, Olivia finalmente conseguiu dormir, embora o sono tenha sido leve e perturbado por sonhos confusos. No entanto, quando o dia amanheceu, ela estava mais determinada do que nunca a enfrentar o que estava por vir—sozinha, se necessário, mas com a força que sempre a caracterizou. Ela sabia que o caminho à frente seria difícil, mas também sabia que tinha a resiliência para superá-lo, desde que conseguisse encontrar a coragem para compartilhar sua carga com as pessoas certas, no momento certo.No dia seguinte, Olivia se preparou para encontrar Ana. Havia uma mistura de ansiedade e alívio em saber que ela poderia, finalmente, falar sobre o que estava passando. Ao chegar ao local combinado, Olivia ainda não tinha certeza de como começaria a conversa, mas sabia que precisava tentar. Sentiu-se ligeiramente mais forte, pronta para o próximo passo, independentemente de onde esse caminho a levaria.Essa era apenas a primeira parte de sua luta. Contar a verdade seria o início de uma jornada que Olivia nunca imaginou ter que trilhar, mas que, de alguma forma, já havia aceitado como parte de sua vida.

Ruptura SilenciosaOnde histórias criam vida. Descubra agora