Ruptura Silenciosa

capítulo 3

Foco e Determinação

Na manhã seguinte, Olivia acordou com um propósito claro em mente: focar inteiramente em seu trabalho e deixar de lado qualquer coisa que pudesse desviar sua atenção, inclusive os sentimentos que começavam a brotar por Ana. Ela não podia se permitir distrações, não com a responsabilidade de comandar sua equipe e garantir a segurança da cidade. Era hora de colocar tudo em perspectiva e retomar o controle completo de sua vida.

O despertador tocou às 5h30, e, como de costume, Olivia saiu da cama imediatamente. A rotina matinal era quase ritualística – café forte, exercícios para aliviar a tensão e um banho gelado para acordar de vez. Enquanto se preparava para o dia, repetia mentalmente sua decisão: manter o foco, liderar com eficiência e não deixar espaço para emoções que pudessem interferir em suas responsabilidades.

Depois de revisar os relatórios matinais, Olivia se preparou para uma reunião importante com o Comissário. Ele queria discutir novas estratégias para a segurança pública e revisar os últimos avanços nos casos em andamento. Era uma oportunidade para Olivia demonstrar sua capacidade de liderança e provar, mais uma vez, que merecia o posto de Capitã.

Ela chegou ao prédio da sede central da polícia meia hora antes da reunião, como era de seu hábito. Sua pontualidade e preparação eram marcas registradas que contribuíram para sua ascensão rápida. O Comissário, um homem de poucas palavras, mas de grande influência, a recebeu em sua sala com um aceno de cabeça.

"Capitã," ele disse, indicando a cadeira em frente à sua mesa. "Vamos ao que interessa."

A reunião durou pouco mais de uma hora. Discutiram novos protocolos de segurança, estratégias para lidar com crimes emergentes e revisaram os relatórios sobre os últimos casos, incluindo o resgate do dia anterior. Olivia estava no auge de sua capacidade, respondendo a cada pergunta com precisão e apresentando soluções claras e eficazes. O Comissário ficou satisfeito.

"Bom trabalho, Capitã. Continue assim, e tenho certeza de que veremos mais melhorias em breve," ele disse ao final da reunião.

"Obrigada, senhor," Olivia respondeu, com a postura firme e o olhar determinado que sempre a caracterizavam. Sabia que precisava manter esse padrão de excelência, não apenas para justificar sua posição, mas também para se manter focada e evitar as distrações emocionais.

Depois da reunião, Olivia voltou para a delegacia. Quando entrou, percebeu um clima diferente no ar, mas não deu muita atenção. Estava ainda processando a conversa com o Comissário e pensando nos próximos passos que precisaria tomar com sua equipe. Mas havia algo nas interações entre os detetives que a fez parar e observar por um momento.

Na sala de reuniões, sua equipe estava reunida, mas eles não pareciam estar discutindo o caso atual. Em vez disso, as vozes abafadas e os sorrisos sugeriam algo mais leve, talvez até descontraído. Ela se aproximou da porta, mas antes que pudesse abrir, ouviu a voz de Amanda.

"Ela merece uma surpresa. Ninguém esperava que Olivia chegasse onde chegou tão rápido, e acho que isso merece uma comemoração," disse Amanda, com um tom entusiasmado.

"E eu concordo," acrescentou Fin. "A gente pode organizar algo simples, mas significativo. Talvez uma social aqui na delegacia mesmo, depois do expediente."

"Podemos comprar um bolo e trazer alguns salgadinhos," Carisi sugeriu. "Nada muito elaborado, mas algo que mostre que reconhecemos o que ela conquistou."

Ana, que até então estava calada, falou em seguida. "Ela sempre nos apoia, está na hora de fazermos algo por ela. Vai ser bom para todos."

Olivia sentiu uma mistura de emoções ao ouvir aquilo. Parte dela ficou tocada pelo gesto da equipe, enquanto outra parte – a parte mais disciplinada e focada – se preocupava que uma comemoração pudesse ser uma distração em um momento crítico. Ela hesitou por um instante, ponderando se deveria interromper a conversa e pedir que se concentrassem no trabalho, mas acabou se afastando da porta. Decidiu que seria melhor não interferir e deixou que a equipe continuasse com os planos.

Ela se dirigiu ao seu escritório, tentando se concentrar nas tarefas do dia. Havia relatórios a revisar, chamadas a fazer e uma pilha de documentos que precisavam de sua assinatura. Mas, apesar de seus esforços, os pensamentos sobre Ana e a surpresa planejada pela equipe continuavam a rondar sua mente. Não importava o quanto tentasse, a realidade era que Olivia não conseguia escapar totalmente da vida que estava tentando manter em segundo plano.

Ao longo do dia, ela continuou com suas atividades habituais, mantendo o profissionalismo e a eficiência de sempre. No entanto, a presença de Ana, que passava ocasionalmente para atualizar Olivia sobre as investigações, trazia um lembrete constante do conflito interno que ela estava enfrentando. Cada interação com Ana era carregada de uma tensão que Olivia lutava para suprimir, mas que parecia ficar mais intensa a cada encontro.

Quando o expediente estava prestes a terminar, Olivia sentiu o cansaço mental começando a se manifestar. Mas, ao mesmo tempo, sentia uma estranha antecipação. Sabia que a equipe estava planejando algo e, apesar de suas reservas, não podia deixar de se sentir um pouco ansiosa para ver o que eles tinham preparado.

Pouco antes do horário de saída, Fin apareceu na porta do escritório de Olivia. "Capitã, a equipe queria falar com você na sala de reuniões antes de você sair."

Olivia assentiu e seguiu Fin. Quando entrou na sala, foi recebida com uma pequena explosão de aplausos e sorrisos. Havia um bolo sobre a mesa, decorado com as palavras "Parabéns, Capitã!", e alguns salgadinhos espalhados ao redor.

"Isso é... uma surpresa," disse Olivia, sem saber ao certo como reagir. Ela não estava acostumada a ser o centro das atenções fora do contexto de seu trabalho.

"Você merece, Olivia," disse Amanda, entregando-lhe uma pequena taça de champanhe. "Estamos muito orgulhosos de você, e queríamos marcar essa conquista de alguma forma."

Olivia sorriu, sentindo um calor no peito que ela raramente permitia a si mesma sentir. "Eu agradeço, realmente. Mas, honestamente, tudo o que fiz foi trabalhar duro, assim como todos vocês. Somos uma equipe, e esse sucesso é tanto de vocês quanto meu."

"Não seja tão modesta," disse Carisi, rindo. "Você é nossa líder agora, e nós estamos todos felizes de poder trabalhar com você."

Ana, que estava ao lado, sorriu e disse suavemente: "Você nos inspira, Capitã. Isso merece ser celebrado."

Olivia olhou para cada um deles, sentindo-se tocada e, ao mesmo tempo, lembrando-se do compromisso que havia feito consigo mesma naquela manhã. "Obrigada, pessoal. Isso significa muito para mim. Mas sabemos que amanhã teremos mais trabalho pela frente, então, por hoje, vamos comemorar um pouco e depois nos preparar para continuar fazendo o que fazemos de melhor."

A equipe concordou, e a pequena comemoração continuou em um clima descontraído e alegre. Para Olivia, era uma lembrança de que, apesar de toda a pressão e responsabilidade, ela tinha um time em quem podia confiar. Mesmo que a vida pessoal fosse complicada, ao menos no trabalho, ela sabia que não estava sozinha.

No entanto, conforme a noite avançava e a social ia chegando ao fim, Olivia não pôde deixar de notar o olhar de Ana, que encontrava o dela ocasionalmente. Era um olhar que carregava algo mais do que simples admiração profissional, e Olivia sabia que precisava ser cuidadosa. A batalha para manter suas emoções sob controle estava apenas começando, e o desafio de equilibrar o profissionalismo com os sentimentos pessoais parecia estar mais presente do que nunca.

Com a comemoração encerrada e a equipe começando a se dispersar, Olivia se despediu de todos e voltou para seu escritório para pegar suas coisas. Quando finalmente saiu da delegacia, a noite estava clara, e as ruas estavam tranquilas. Ela respirou fundo, sentindo o frescor do ar noturno, e começou a caminhar em direção ao carro.

Enquanto dirigia para casa, Olivia sabia que o foco no trabalho era essencial, mas também percebeu que algumas batalhas internas não podiam ser ignoradas. Elas precisavam ser enfrentadas, de uma forma ou de outra. Amanhã seria mais um dia, e ela estaria pronta para encará-lo – mas com a compreensão de que, às vezes, a força real vem de reconhecer suas próprias fraquezas.