capítulo 38

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Myrela

Myrela estava deitada na cama de Olivia, abraçada ao seu ursinho de pelúcia favorito, os olhos fixos no teto enquanto a luz suave do abajur iluminava o quarto. Ela sabia que era hora de dormir, mas sua mente não parava de pensar. A imagem de Olivia, sempre tão forte e sorridente, agora parecia um pouco diferente. Ela percebia que sua "titia Liv" estava mais cansada, que às vezes não conseguia brincar com ela como antes, e que passava muito tempo descansando. Myrela não sabia muito sobre o que era estar doente, mas sabia o suficiente para entender que sua mamãe estava preocupada.

Ela lembrava de uma vez, não fazia muito tempo, quando ela tinha entrado no quarto de sua mãe e a visto de joelhos, rezando baixinho. A mãe dela estava pedindo a Deus pela saúde de Olivia, pela sua recuperação. Myrela ficou quietinha na porta, sem querer atrapalhar, mas aquilo ficou em sua mente. Se mamãe estava pedindo ajuda para a titia Liv, era porque ela estava muito doente, mais doente do que Myrela conseguia imaginar.

"Será que a titia vai ficar bem?", pensava a menina. Ela tinha medo de perguntar, porque não queria assustar sua mamãe. E, no fundo, Myrela queria acreditar que Olivia era como uma super-heroína — forte o suficiente para vencer qualquer coisa, mesmo essa doença que a deixava tão abatida.

Mas, por mais que soubesse que Olivia estava doente, Myrela não conseguia evitar um pensamento que vinha rondando sua cabeça há algum tempo: como seria ter Olivia como mamãe também? Desde que Ana e ela começaram a passar mais tempo na casa de Olivia, uma nova dinâmica surgiu entre elas. Olivia cuidava dela de um jeito diferente, um jeito que Myrela adorava. Ela sabia que Olivia não era sua mãe de verdade, mas, em muitos momentos, parecia que era. Olivia a abraçava com carinho, fazia seu café da manhã favorito, e até ajudava com as lições da escola. Myrela sentia-se especial ao lado dela, como se a vida fosse mais alegre e divertida quando as três estavam juntas.

"Se a titia Liv fosse minha mãe também, nós seríamos a família mais feliz do mundo", pensava Myrela, com um sorriso tímido nos lábios. Era engraçado como essa ideia a fazia se sentir tão bem. Ela amava sua mãe com todo o coração, mas a ideia de ter Olivia como parte dessa família parecia algo natural, como se sempre tivesse sido assim.

Ela imaginava como seriam os dias com Olivia como sua segunda mãe. Pensava em como seria acordar todas as manhãs e encontrar não só a mamãe Ana, mas também Olivia na cozinha, preparando o café da manhã. As três juntas, rindo, conversando, planejando o que fariam no fim de semana. Myrela adorava a ideia de ir ao parque com as duas, brincar, talvez até fazer uma viagem juntas, como aquelas que as famílias faziam nos filmes.

Myrela sabia que sua mãe estava feliz com Olivia por perto. Ela via o jeito como os olhos da mamãe brilhavam quando falava sobre Liv. Havia algo diferente no olhar dela, algo que Myrela não entendia completamente, mas que sabia ser importante. Ela podia sentir a conexão entre as duas, e isso a deixava feliz. A mamãe parecia menos sozinha, e Myrela também. Elas eram como três partes de um todo, uma família que, de certa forma, já estava formada, mesmo que ninguém tivesse dito isso em voz alta.

A pequena se lembrava de um dia, voltando da escola com sua mãe, quando não conseguiu mais segurar a pergunta que estava martelando em sua mente. “Mamãe, você acha que a titia Liv poderia ser minha mãe também?”. Ana havia rido, surpresa com a pergunta, mas havia uma ternura em seu riso, como se já tivesse pensado nisso também. Myrela não se lembrava exatamente da resposta que a mãe havia dado, mas o que ficou claro para ela foi que sua pergunta não era tão estranha. Talvez, no fundo, sua mãe também quisesse aquilo.

“Titia Liv seria uma mãe incrível”, pensava Myrela, enquanto fechava os olhos devagar. Ela já se sentia assim, já via Olivia como parte de sua vida, alguém que ela poderia contar para tudo. Mesmo com a doença, mesmo com os momentos em que Olivia parecia mais distante, Myrela sabia que ela estava ali para ela. E isso a fazia se sentir segura, amada.

Ela sabia que Olivia estava passando por algo muito difícil, que a doença a estava deixando cansada e triste às vezes. Mas Myrela acreditava, com toda a fé que uma criança de dois anos pode ter, que Olivia iria melhorar. Sua mãe rezava todas as noites, e ela também fazia suas orações, pedindo a Deus para que cuidasse da titia Liv. "Deus, faz a titia Liv ficar bem logo, por favor. Eu quero que ela brinque comigo de novo e que a gente seja uma família feliz para sempre."

Enquanto caía no sono, Myrela se sentia em paz. Ela sabia que, não importa o que acontecesse, as três estariam juntas. Sua mamãe, Olivia e ela. Elas formariam uma bela família, com amor suficiente para enfrentar qualquer coisa.

Ruptura SilenciosaOnde histórias criam vida. Descubra agora