Enquanto o aroma do jantar enchia a casa, Olivia sentiu uma sensação de tranquilidade que não sentia há dias. Embora o cansaço e a fraqueza ainda pesassem sobre ela, a presença de Myrella, que agora assistia a um desenho animado, e de Ana, que estava ocupada na cozinha, proporcionava-lhe uma sensação de segurança. Era como se, pelo menos por um momento, ela pudesse escapar das duras realidades que tinha enfrentado recentemente.
Olivia se recostou no sofá, fechando os olhos por alguns minutos, tentando se concentrar no som da TV e nas risadas de Myrella. O turbilhão de pensamentos sobre sua saúde, o câncer e o que isso significava para seu futuro ainda pairava em sua mente, mas agora estava em segundo plano. Era quase impossível esquecer completamente a gravidade da situação, mas naquele instante, ela se permitiu respirar, mesmo que só por um momento.
Minutos depois, Ana voltou à sala, limpando as mãos em um pano de prato. "Jantar estará pronto em meia hora, Liv. Você quer tomar um banho enquanto isso? Talvez te faça sentir melhor."
Olivia abriu os olhos devagar, pensando na sugestão. Ela realmente não tinha forças para se levantar, mas sabia que Ana tinha razão. Um banho quente poderia ajudar a aliviar as tensões acumuladas. "Acho que sim," respondeu ela com um sorriso fraco. "Vou tentar."
Ana assentiu e ajudou Olivia a se levantar lentamente. "Eu vou ficar de olho na Myrella enquanto você toma seu banho. Vá com calma."
Com a ajuda de Ana, Olivia subiu as escadas devagar e foi para o quarto. Lá, ela parou por um momento em frente ao espelho do banheiro, observando seu reflexo com atenção. O rosto pálido e os olhos cansados refletiam a batalha interna que ela estava travando. Ela suspirou, ligou o chuveiro e, ao sentir a água quente tocar sua pele, permitiu que lágrimas silenciosas caíssem. Não era uma explosão de choro, mas apenas um momento de liberação, algo que ela estava segurando há muito tempo. A água escorria pelo seu corpo, lavando, mesmo que temporariamente, o peso da realidade.
Após o banho, Olivia se enrolou em um roupão e voltou ao quarto. Sentia-se um pouco mais leve, como se o calor tivesse ajudado a acalmar seus nervos. Quando desceu novamente para a sala, Myrella correu até ela com um sorriso brilhante no rosto.
"Titia Liv, você está cheirosa!" exclamou Myrella, abraçando as pernas de Olivia.
Olivia riu, ajoelhando-se para ficar à altura da menina. "Obrigada, pequena. Você já está pronta para o jantar?"
"Sim! A mamãe fez algo muito gostoso, eu acho."
Ana surgiu na porta da cozinha com um sorriso orgulhoso. "Jantar está servido. Vamos nos sentar?"
As três foram até a mesa de jantar, onde Ana havia preparado um prato simples, mas reconfortante: frango grelhado com vegetais e arroz. Mesmo sem muito apetite, Olivia sabia que precisava comer para se manter forte, então se sentou à mesa com as duas e serviu-se de uma porção pequena.
"Você está comendo o suficiente, Liv?" Ana perguntou, observando Olivia cuidadosamente enquanto a amiga pegava um pequeno pedaço de frango com o garfo.
"Estou tentando," Olivia respondeu, forçando um sorriso. "Ainda não tenho muito apetite, mas sei que preciso me alimentar."
Myrella, alheia às preocupações dos adultos, estava concentrada em cortar seu frango com uma seriedade encantadora. "Mamãe sempre diz que comida deixa a gente forte," disse a menina com a boca cheia.
Olivia sorriu, tocando levemente o cabelo de Myrella. "Sua mãe está certa."
A refeição continuou em silêncio por algum tempo, até que Ana, incapaz de conter sua preocupação, finalmente tocou no assunto que vinha adiando. "Liv, você sabe que pode contar comigo para o que precisar, não é? Eu não quero te pressionar, mas estou aqui. Se precisar falar sobre o que está acontecendo, eu sou toda ouvidos."
Olivia parou de comer por um momento, pensando nas palavras de Ana. Ela sabia que sua amiga estava preocupada, e sentiu uma enorme gratidão por isso. No entanto, ainda não se sentia pronta para compartilhar todos os detalhes de sua batalha com o câncer. Não queria preocupar ainda mais as pessoas que amava, mas também sabia que, eventualmente, precisaria se abrir.
"Eu sei, Ana. E sou muito grata por você estar aqui, de verdade. Ainda estou tentando processar tudo isso, sabe? Mas quando estiver pronta, prometo que vou falar sobre isso."
Ana assentiu, respeitando o espaço de Olivia. Ela não queria forçar a barra, mas a preocupação não diminuía. "Tudo bem, Liv. Só saiba que estou aqui, sempre."
Após o jantar, Olivia estava visivelmente exausta, e Ana a encorajou a descansar no sofá enquanto ela cuidava da louça. Myrella, por sua vez, se aconchegou ao lado de Olivia, abraçando seu ursinho de pelúcia, enquanto um novo desenho animado começava na TV.
Enquanto lavava a louça, Ana refletia sobre a força de Olivia. Ela sempre soubera que Olivia era forte, alguém que nunca recuava diante dos desafios. No entanto, a situação atual era diferente. Era algo que Olivia não podia simplesmente enfrentar com sua habitual determinação e coragem. Ana sabia que, por mais forte que Olivia fosse, ela também precisava de apoio.
Quando terminou na cozinha, Ana voltou para a sala e encontrou Olivia já adormecida no sofá, com Myrella dormindo ao lado dela. O cansaço havia finalmente vencido Olivia, e Ana sentiu uma pontada de tristeza ao ver sua amiga naquele estado. Ela se aproximou silenciosamente e pegou um cobertor, cobrindo ambas suavemente.
Ana sabia que o caminho de Olivia seria longo e difícil. O tratamento, a incerteza sobre o futuro, tudo isso estava pesando sobre os ombros de sua amiga, e ela se sentia impotente diante disso. No entanto, havia uma coisa que Ana sabia com certeza: ela estaria ao lado de Olivia em cada passo desse caminho, oferecendo todo o apoio e carinho que pudesse,pois ela sabia o quão doloroso era essa doença.
Enquanto se sentava em uma poltrona próxima, Ana pegou o celular e começou a revisar os compromissos de trabalho que teria no dia seguinte. Ela estava dividida entre a responsabilidade no trabalho e o desejo de ficar perto de Olivia, mas sabia que, por mais difícil que fosse, precisaria conciliar as duas coisas.
A noite avançou, e a casa ficou em completo silêncio, exceto pelo som suave da respiração de Olivia e Myrella. Ana, embora preocupada, finalmente se permitiu relaxar um pouco. Ela sabia que ainda havia uma longa batalha pela frente, mas estava determinada a enfrentar isso junto com Olivia. Não importava o que acontecesse, ela estaria ao lado de sua amiga.
O dia seguinte começou com a luz suave do amanhecer entrando pelas janelas da sala. Olivia foi a primeira a acordar, sentindo-se um pouco melhor após uma noite de sono, embora o peso de tudo o que estava acontecendo ainda estivesse em sua mente. Myrella ainda dormia tranquilamente ao seu lado, e Ana estava encolhida na poltrona.
Olivia se levantou devagar para não acordar ninguém e foi até a cozinha para tomar um copo d'água. Enquanto bebia, ela refletiu sobre o que deveria fazer a seguir. Sabia que não poderia continuar escondendo a verdade por muito tempo. Eventualmente, o comissário e o alto escalão , precisaria saber.
Com esse pensamento em mente, Olivia tomou uma decisão. Ela iria contar a verdade, mas em seus próprios termos, quando estivesse pronta. Sabia que não precisava enfrentar isso sozinha, mas queria fazer isso de maneira que se sentisse no controle.
Quando voltou à sala, encontrou Ana acordada, já olhando para ela com preocupação. "Como você está se sentindo hoje, Liv?" perguntou Ana, com a voz ainda carregada de sono.
Olivia sorriu levemente. "Um pouco melhor. Ainda cansada, mas vou ficar bem."
Ana assentiu, mas seus olhos mostravam que ainda estava preocupada. "Você sabe que pode tirar o dia de folga, certo? Ninguém vai te culpar."
"Eu sei," Olivia respondeu, sentando-se no sofá novamente. "Mas acho que ir ao trabalho vai me fazer bem. Preciso manter minha rotina."
Ana não insistiu. Sabia que Olivia era teimosa quando se tratava de trabalho. E, de certa forma, ela entendia. Manter-se ocupada era uma maneira de Olivia se sentir no controle, mesmo quando tudo ao seu redor parecia fora de alcance.
Com um último suspiro, Ana se levantou e foi até a cozinha para preparar o café da manhã, determinada a continuar cuidando de Olivia e de Myrella da melhor maneira possível.
E assim, a rotina recomeçou, mas algo havia mudado.
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Ruptura Silenciosa
FanfictionSinopse Aos 28 anos, a Capitã Olivia Benson fez história ao se tornar a primeira mulher a alcançar o posto de capitã na polícia, liderando uma equipe de elite composta por Elliot, Amanda, Fin, Carisi e Ana. Respeitada por sua competência e determin...