Com Ana 💭
Ana estava na cozinha de Olivia, como já havia se tornado rotina nas últimas semanas. O sol da manhã entrava suavemente pelas janelas, iluminando o espaço de uma maneira que tornava a casa de Olivia ainda mais acolhedora. Enquanto preparava o café da manhã, ela pensava em tudo o que tinha acontecido recentemente. Era estranho, talvez até um pouco assustador, o quanto sua vida havia mudado em tão pouco tempo.
Ana não estava apenas ajudando Olivia; ela estava ao lado dela, sustentando uma das pessoas mais fortes que já conhecera durante o período mais frágil de sua vida. Era uma tarefa que ela abraçava com todo o coração, mas também trazia à tona lembranças que preferia esquecer.
Enquanto cortava frutas para o café da manhã, Ana refletia sobre o que significava ter amigos de verdade durante um momento de crise. Ver Olivia passar por tudo aquilo, lutando contra o câncer, a fez lembrar de sua própria jornada, uma que havia trilhado sozinha. Ela se lembrava de cada detalhe: as longas horas de quimioterapia, o cansaço que parecia esmagador, e a solidão, sempre presente, como uma sombra que nunca desaparecia.
Ana nunca teve ninguém ao seu lado quando passou por sua própria batalha contra o câncer. O diagnóstico a pegou desprevenida, e na época, sua vida estava um caos. Ela não tinha família próxima, e os poucos amigos que tinha estavam ocupados com suas próprias vidas. O apoio que tanto precisava nunca chegou. Ela se lembrava de voltar para casa depois de cada sessão de quimioterapia, esgotada, enjoada e sozinha. Ninguém estava lá para segurar o balde quando ela vomitava ou para lhe oferecer um copo d'água quando mal conseguia se levantar da cama. Havia noites em que tudo o que ela queria era uma mão amiga para segurar a sua, alguém para lhe dizer que tudo ficaria bem, mas essas palavras nunca vieram. Ana sobreviveu àquele período, mas o preço da solidão foi alto.
Agora, vendo Olivia enfrentar algo semelhante, Ana fazia o que podia para garantir que a amiga não passasse pelo mesmo que ela. Olivia era forte, todos sabiam disso, mas até os mais fortes precisavam de apoio. E Ana estava determinada a ser esse apoio. Ela estava lá para Olivia, tanto nos bons momentos quanto nos ruins, porque sabia como era a sensação de não ter ninguém por perto.
Enquanto mexia o café, Ana deixou sua mente vagar para uma memória recente, um momento que, de alguma forma, havia plantado uma semente de algo mais profundo dentro dela. Lembrava-se de uma manhã comum, quando estava levando Myrela para a escola. A pequena estava sentada no banco de trás, balançando os pés, como fazia sempre que estava empolgada. O dia parecia igual a tantos outros, mas a pergunta que Myrela fez naquela manhã ficou gravada na mente de Ana desde então.
“Mamãe,” Myrela começou, sua voz suave quebrando o silêncio do carro. “A tia Liv pode ser minha mãe também?”
Ana se lembrava de ter ficado atordoada com a pergunta. Ela olhou pelo espelho retrovisor, encontrando os olhos brilhantes de sua filha no reflexo, e não soube como responder de imediato. Era uma pergunta inocente, vinda da mente de uma criança que claramente adorava Olivia. Mas, para Ana, aquilo foi muito mais do que isso. Foi como se, naquele momento, Myrela tivesse vocalizado algo que Ana nem mesmo sabia que estava sentindo.
Nos dias que se seguiram, aquela pergunta ecoou na mente de Ana inúmeras vezes. Ela começou a se questionar sobre seus próprios sentimentos por Olivia, sentimentos que ela vinha ignorando ou empurrando para o fundo de sua mente. Claro, sempre foi evidente que elas eram boas amigas. Ana admirava Olivia há muito tempo. Sua força, sua determinação, o jeito como ela cuidava das pessoas ao seu redor — tudo isso a atraía. Mas, à medida que os dias passavam e elas se tornavam ainda mais próximas, Ana começou a perceber que seus sentimentos iam além de simples amizade.
Era nas pequenas coisas que Ana percebia essa mudança em si mesma. O jeito como ela olhava para Olivia enquanto a outra falava; a forma como seu coração acelerava sempre que Olivia a agradecia por algo, com aquele sorriso cansado, mas ainda assim tão doce; ou a maneira como ela sentia um desejo instintivo de proteger Olivia, não apenas fisicamente, mas emocionalmente também.
Ao pensar em tudo isso, Ana começou a imaginar como seria uma vida com Olivia, não apenas como amigas, mas como algo mais. A ideia parecia absurda e ao mesmo tempo incrivelmente tentadora. Ana nunca havia considerado a possibilidade de ter uma família assim, uma família com Olivia. Ela sempre se concentrou em criar Myrela sozinha, mas agora, ao ver a relação que sua filha tinha com Olivia, começou a sonhar com algo mais. Myrela adorava Olivia de todo o coração, e Olivia, apesar de suas lutas, claramente retribuía o carinho da menina.
Ana se imaginava voltando para casa depois de um longo dia de trabalho, com Olivia e Myrela a esperando. Ela imaginava as risadas à mesa de jantar, os passeios no parque durante os finais de semana, e até mesmo as noites em que Olivia e ela estariam sentadas no sofá, compartilhando conversas profundas enquanto Myrela dormia tranquila em seu quarto. Era uma visão tão clara, tão real, que Ana quase podia tocá-la.
Mas com essa visão vinham as dúvidas. E se Olivia não sentisse o mesmo? E se, para ela, tudo isso fosse apenas uma grande amizade, nada mais? Ana não queria complicar as coisas, especialmente agora, quando Olivia estava passando por um momento tão difícil. Ela sabia que Olivia precisava de apoio, de amor, mas não sabia se deveria cruzar aquela linha entre amizade e algo mais.
Enquanto continuava a preparar o café da manhã, Ana refletiu sobre o que significava amar alguém que estava vulnerável, alguém que, apesar de toda a força, estava lutando contra um inimigo invisível que tomava sua energia a cada dia. Ana sabia que, independentemente do que acontecesse, ela estaria ao lado de Olivia. Se fosse como amiga, como irmã de coração, ou algo mais, não importava. O que importava era que Olivia soubesse que nunca estaria sozinha, não enquanto Ana estivesse por perto.
De repente, a voz suave de Myrela cortou os pensamentos de Ana. A pequena apareceu na porta da cozinha, esfregando os olhos de sono e arrastando seu cobertor pelo chão.
“Mamãe, eu tô com fome,” disse Myrela, sua voz sonolenta e adorável.
Ana sorriu, como sempre fazia quando via sua filha. “O café já está quase pronto, meu amor. Vai acordar a tia Liv?”
Myrela assentiu com a cabeça e correu em direção ao quarto de Olivia, claramente animada com a ideia de acordá-la. Ana ficou observando a cena por um momento, sentindo seu coração se aquecer. A relação entre Olivia e Myrela era tão natural, tão bonita de se ver. Era como se, de alguma forma, elas tivessem sido destinadas a se encontrar.
Enquanto terminava de arrumar a mesa, Ana ouviu as risadas de Myrela vindo do quarto de Olivia. Era um som que trazia um sorriso automático ao seu rosto. Logo, as duas apareceram na cozinha, Myrela segurando a mão de Olivia, guiando-a até a mesa.
“Bom dia,” disse Olivia, com sua voz ainda rouca de sono, mas o sorriso em seu rosto deixava claro que, pelo menos naquele momento, ela estava em paz.
“Bom dia,” respondeu Ana, sentindo um aperto familiar no peito ao olhar para Olivia. Ela não sabia ao certo como lidar com o que estava sentindo, mas naquele momento, decidiu apenas aproveitar o presente.
Sentaram-se à mesa, e enquanto conversavam sobre coisas triviais, Ana não pôde deixar de observar a interação entre Olivia e Myrela. Era como se as duas já fossem parte de uma família. E talvez, em um futuro próximo, elas pudessem ser.
A dúvida continuava presente, mas junto com ela havia esperança. E por enquanto, isso era o suficiente. Ana sabia que o amor tinha maneiras estranhas de florescer, e que, no fim das contas, o que importava era estar presente, oferecer apoio e deixar o coração seguir seu curso, mesmo que isso significasse trilhar um caminho incerto.
Enquanto as três compartilhavam o café da manhã, Ana percebeu que, pela primeira vez em muito tempo, ela sentia que estava onde deveria estar. E, talvez, isso fosse um sinal de que o que ela sentia por Olivia era mais do que uma simples admiração.
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Ruptura Silenciosa
FanfictionSinopse Aos 28 anos, a Capitã Olivia Benson fez história ao se tornar a primeira mulher a alcançar o posto de capitã na polícia, liderando uma equipe de elite composta por Elliot, Amanda, Fin, Carisi e Ana. Respeitada por sua competência e determin...