Ana observava Olivia e Myrela conversando animadamente durante o café da manhã, e uma sensação de calor a envolvia. Era uma visão que ela não se cansava de admirar. Olivia parecia tão à vontade com Myrela, e a pequena sempre tinha um brilho nos olhos quando estava com a "tia Liv". Era fácil perceber a conexão entre as duas, uma ligação que ia além da amizade comum entre uma mulher e a filha de sua amiga. Ali, naquela cozinha ensolarada, Ana podia vislumbrar a vida que poderia ter, uma vida que ela nunca havia ousado sonhar até então.Conforme as semanas passavam, a presença de Ana e Myrela na casa de Olivia se tornara algo natural. Elas estavam ali para apoiar Olivia, especialmente agora que seu corpo começava a mostrar sinais da batalha que estava enfrentando. Olivia havia feito mais duas sessões de quimioterapia, e os efeitos colaterais começavam a aparecer. Seu cabelo, antes uma de suas marcas mais fortes, estava começando a cair, fios se soltando sempre que ela passava a mão pela cabeça. Ana percebia que, apesar da força que Olivia demonstrava, esse era um golpe difícil de lidar. Cada mecha de cabelo perdida parecia um lembrete da luta constante que ela enfrentava.
Ana sempre tentava estar lá para ajudar, para apoiar nos momentos mais difíceis, mas havia uma parte de Olivia que continuava tentando manter sua independência. Ela não gostava de se mostrar vulnerável, e Ana entendia isso, mais do que ninguém. Ana sabia o quanto era difícil aceitar ajuda, o quanto era doloroso admitir que você não podia fazer tudo sozinha. Ela própria havia resistido a isso durante sua batalha contra o câncer. A diferença é que, naquela época, Ana não tinha ninguém. E agora, tudo o que ela queria era garantir que Olivia não passasse pelo mesmo tipo de solidão.
Lembrando-se de seu passado, Ana se perguntava como teria sido sua vida se tivesse tido o apoio que Olivia estava recebendo agora. Ela havia enfrentado tudo sozinha: as sessões de quimioterapia, os enjoos, a dor física e emocional. Não havia ninguém para segurar sua mão, para confortá-la quando ela se sentia desmoronando. E agora, vendo Olivia passar por isso, era impossível não reviver suas próprias dores e traumas. Mas, ao mesmo tempo, isso a motivava a estar ainda mais presente, a garantir que Olivia não sentisse o mesmo vazio que ela sentira.
Enquanto o café da manhã seguia, Ana se viu observando Olivia de uma maneira diferente. Havia algo além da amizade, algo que ela estava começando a aceitar. Os sentimentos que ela vinha tentando ignorar ou, pelo menos, manter sob controle, começaram a se tornar mais evidentes a cada dia que passava. Ana sabia que o que sentia por Olivia ia além de simples amizade. O cuidado, a preocupação, o desejo de estar ao lado dela não eram apenas reflexos de uma boa amizade. Eram sinais de algo mais profundo, algo que Ana vinha evitando admitir para si mesma.
Ela se lembrava claramente da pergunta de Myrela, há algumas semanas, no carro, a caminho da escola. “A tia Liv pode ser minha mãe também?” Naquele momento, Ana não soubera o que responder. Era uma pergunta tão inocente, mas que tinha um peso enorme. Como explicar para uma criança o que ela mesma mal conseguia entender? A pergunta de Myrela, no entanto, plantou uma semente na mente de Ana, uma semente que, com o passar dos dias, crescia cada vez mais. A ideia de Olivia ser algo mais do que uma amiga, de ela e Myrela formarem uma verdadeira família com Olivia, era algo que Ana não conseguia mais ignorar.
Conforme o tempo passava, Ana começou a imaginar como seria essa vida. Olivia, Myrela e ela, juntas, compartilhando os altos e baixos da vida, construindo uma família unida pelo amor e pelo apoio mútuo. Ana sabia que Olivia seria uma mãe maravilhosa. Já era evidente pelo jeito que ela cuidava de Myrela, sempre atenta, sempre carinhosa. Myrela, por sua vez, adorava Olivia. Sempre falava sobre ela, sempre queria estar perto da "tia Liv". Era quase como se a pequena já soubesse algo que Ana ainda estava tentando entender.
Mas, com esses pensamentos, vinham também os medos e as incertezas. Ana não sabia se Olivia sentia o mesmo. E, mesmo que sentisse, seria justo colocar esse tipo de pressão sobre alguém que estava lidando com uma doença tão séria? Ana não queria complicar a vida de Olivia, não queria ser mais uma fonte de preocupação para ela. Olivia já tinha tanto em que pensar — o tratamento, o trabalho, sua recuperação física e emocional. Ana se perguntava se seus sentimentos eram algo que ela deveria guardar para si mesma, pelo menos até que Olivia estivesse em um lugar mais estável.
No entanto, havia momentos em que Ana sentia que talvez Olivia também estivesse começando a perceber algo. Havia olhares, pequenos toques, momentos de silêncio compartilhado que pareciam cheios de significados não ditos. Ana não sabia se estava interpretando demais, se era apenas o desejo de que algo mais estivesse acontecendo, mas esses momentos a faziam acreditar que talvez houvesse uma chance.
Depois do café, enquanto Olivia e Myrela assistiam a um desenho na sala, Ana foi até a varanda para tomar um ar fresco. A brisa da manhã era leve, e o som das risadas de Myrela preenchia a casa. Ali, sozinha com seus pensamentos, Ana tentou fazer sentido de tudo o que estava sentindo. O amor, a confusão, o medo de perder algo que ela nem sabia se tinha.
Ela se encostou na grade da varanda, olhando para o horizonte e permitindo que seus pensamentos vagassem. Lembrou-se de como, quando estava doente, sonhava em ter alguém ao seu lado, alguém que a amasse incondicionalmente. Agora, ela tinha Olivia e Myrela, mas o medo de que seus sentimentos pudessem destruir essa dinâmica era grande.
Ana sabia que precisava tomar uma decisão. Ela não podia continuar guardando esses sentimentos para si mesma, mas também não queria pressionar Olivia em um momento tão delicado. Talvez a resposta estivesse em ser paciente, em dar tempo ao tempo e ver como as coisas se desenrolariam. Mas, em algum momento, ela teria que confrontar esses sentimentos e, eventualmente, ter uma conversa com Olivia.
Enquanto Ana ponderava sobre tudo isso, Olivia apareceu na porta da varanda, interrompendo seus pensamentos.
"Está tudo bem?" perguntou Olivia, sua voz suave, mas cheia de preocupação. "Você parece distante."
Ana sorriu, tentando afastar a nuvem de incertezas que pairava sobre sua cabeça. "Sim, só... pensando na vida, eu acho."
Olivia caminhou até ela, parando ao seu lado na varanda. O silêncio entre elas era confortável, mas havia uma tensão subjacente, algo não dito que pairava no ar. Ana sabia que, naquele momento, poderia dizer tudo o que estava sentindo, confessar seus medos, suas esperanças, seus desejos. Mas, ao invés disso, ela optou por manter o silêncio, pelo menos por enquanto.
"Eu só queria te agradecer, Ana," Olivia disse de repente, virando-se para encará-la. "Você tem sido incrível, com Myrela, comigo... Não sei o que faria sem você."
O coração de Ana apertou ao ouvir essas palavras. Ela queria tanto dizer que faria qualquer coisa por Olivia, que o que sentia ia além de amizade, mas as palavras ficaram presas em sua garganta.
"Não precisa agradecer, Liv," Ana respondeu, sua voz mais suave do que pretendia. "Eu estou aqui porque quero estar. E sempre estarei."
Olivia sorriu, um sorriso que, apesar de tudo o que estava passando, ainda conseguia iluminar o dia de Ana. "Isso significa muito para mim."
Enquanto as duas se olhavam, Ana sentiu que aquele momento poderia ser um ponto de virada. O futuro ainda era incerto, e havia tantas coisas a serem resolvidas, mas naquele instante, elas estavam juntas, e isso era o que importava.
E, talvez, com o tempo, elas pudessem construir algo ainda maior juntas.
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Ruptura Silenciosa
Fiksi PenggemarSinopse Aos 28 anos, a Capitã Olivia Benson fez história ao se tornar a primeira mulher a alcançar o posto de capitã na polícia, liderando uma equipe de elite composta por Elliot, Amanda, Fin, Carisi e Ana. Respeitada por sua competência e determin...