capítulo 30

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Ana estava na cozinha, cortando frutas enquanto o cheiro do café recém-passado se espalhava pela casa silenciosa. O sol da manhã filtrava-se pelas cortinas, criando padrões suaves na mesa. Suas mãos se moviam de forma automática, preparando o café da manhã para Olivia e Myrella, mas sua mente estava a mil.

Os sentimentos que borbulhavam dentro dela nos últimos dias a deixavam inquieta. Ana olhava para a jarra de café, observando o vapor subir, enquanto sua mente vagava pelos pensamentos confusos e intensos que tinha guardado há algum tempo. Ela se preocupava imensamente com Olivia, não apenas por causa da doença, mas também por tudo o que isso despertava em seu próprio coração. Ao ver Olivia fragilizada, Ana não podia deixar de lembrar de seu próprio passado, da vez em que ela mesma enfrentou uma batalha parecida.

Havia alguns anos, Ana tinha passado por dois cânceres em estágio intermediário, semelhante ao de Olivia. Na época, foi um choque enorme, e ela teve que lutar sozinha, escondendo a doença de quase todos ao seu redor. Sua única companheira durante todo o processo foi ela mesma . Ana lembrava-se de acordar de madrugada, suada e com medo, com o coração apertado e sem ninguém para quem pudesse desabafar. Ela não tinha amigos próximos como Olivia tinha agora; sempre foi mais reservada e solitária. E, por isso, sentia-se profundamente grata por ver que Olivia estava cercada de pessoas que a amavam.

Mas, ao mesmo tempo, era essa proximidade que a fazia sentir-se desconfortável. Ana sabia que seus sentimentos por Olivia iam além da simples amizade. Já fazia algum tempo que sentia algo mais profundo, uma conexão que não tinha certeza se deveria existir. Sempre admirou Olivia por sua força, coragem e determinação. Mas com a recente doença, algo havia mudado. Ela se pegava pensando mais e mais em Olivia, querendo estar ao seu lado o tempo todo, cuidar dela, protegê-la. E isso a deixava confusa.

Ana suspirou profundamente, colocando os pratos sobre a mesa. O que estava sentindo não era algo que poderia simplesmente ignorar, mas tampouco sabia como lidar com isso. A situação de Olivia, a sua fragilidade atual, a necessidade de apoio... tudo isso a fazia hesitar. Ela se questionava se deveria confessar seus sentimentos ou se isso complicaria ainda mais a relação entre elas, especialmente agora que Olivia estava lidando com algo tão sério.

Enquanto organizava os pratos, Ana olhou para a porta que dava para a sala, onde Olivia olhava a pequena Myrella ainda dormia no sofá. Elas pareciam tão serenas, com Myrella abraçada ao lado de Olivia, e a imagem encheu o coração de Ana de uma ternura inexplicável. Seu amor por sua filha era imenso, mas havia algo sobre a forma como Olivia interagia com Myrella que a tocava profundamente. Olivia sempre fora carinhosa com sua filha, e Myrella a adorava, como se Olivia fosse parte da família. E, de certa forma, ela era.

Ana balançou a cabeça, tentando afastar os pensamentos. “Concentre-se no agora,” murmurou para si mesma, voltando a atenção para o café da manhã. Mas o peso em seu peito continuava ali, implacável.

Enquanto finalizava de preparar a mesa, ouviu um leve movimento vindo da sala. Myrella acordou, espreguiçando-se como uma gatinha preguiçosa. Seus olhos ainda estavam semicerrados, mas ela logo avistou a Olívia cochilando nmao seu lado e a mãe na cozinha e sorriu.

"Bom dia, mamãe," disse Myrella, com a voz suave de quem ainda estava saindo do sono.

Ana sorriu e se agachou para abraçá-la. "Bom dia, meu amor. Dormiu bem?"

"Sim, mas a Titia Liv ainda tá dormindo," respondeu a menina, apontando para o sofá.

"Ela precisa descansar, meu bem. Vamos deixá-la dormir mais um pouco, enquanto tomamos o café da manhã, tá?"

Myrella assentiu e, com a ajuda da mãe, sentou-se à mesa. Ana serviu à filha um pouco de suco e frutas, tentando focar-se naquele pequeno momento de normalidade. Estava ali, com sua filha, cuidando de sua rotina, e, mesmo assim, sua mente voltava incessantemente para Olivia, que ainda dormia.

Ruptura SilenciosaOnde histórias criam vida. Descubra agora