No mês seguinte
Um mês havia se passado desde que Olivia começou seu tratamento. A quimioterapia já estava deixando suas marcas. Cada sessão parecia roubar um pouco mais de sua energia, e os primeiros fios de cabelo começaram a cair. Não era algo que Olivia não esperasse, mas ver os fios acumulados na escova de cabelo ou espalhados no travesseiro ainda lhe causava um aperto no coração.
Ela se olhava no espelho todas as manhãs, notando as mudanças sutis que o tratamento trazia. Seu rosto estava um pouco mais pálido, os olhos, um pouco mais cansados. Apesar de tudo, ela continuava trabalhando, mesmo que em meio período, revezando entre os turnos da manhã e tarde, conforme a capacidade de seu corpo permitia. Olivia era determinada a seguir sua rotina, mas agora sabia respeitar seus limites. Havia dias em que seu corpo simplesmente não suportava o cansaço, e nesses momentos, ela era obrigada a admitir que precisava de ajuda.
Ana e Myrela praticamente tinham se mudado para a casa de Olivia nesse período. Ana, sabendo bem os efeitos que o tratamento podia causar, não queria que Olivia passasse por isso sozinha, especialmente durante as noites mais difíceis. A pequena Myrela, sempre cheia de energia e amor, também havia se apegado muito à Olivia, chamando-a de “Titia Liv” o tempo todo e fazendo questão de estar perto.
Ana cozinhava para Olivia, cuidava da casa, e fazia o que podia para que sua amiga se sentisse confortável. Olivia, por sua vez, ficava tocada com todo o cuidado que recebia. Mesmo sendo independente e orgulhosa, ela agora sabia que não precisava enfrentar essa batalha sozinha. Tinha uma rede de apoio forte ao seu redor, e isso fazia toda a diferença. Ana era uma presença constante, e apesar de nunca falarem diretamente sobre isso, ambas sabiam o quanto aquela proximidade e apoio eram importantes.
Em uma tarde ensolarada, após mais uma sessão de quimioterapia, Olivia chegou em casa exausta. Sentia-se fraca, mas tentava manter a compostura. Ana percebeu seu cansaço assim que ela entrou pela porta e logo se ofereceu para preparar algo leve para comer.
“Você precisa descansar, Liv,” disse Ana, com sua voz firme, mas carinhosa. “Eu faço uma sopa para você, vai te ajudar a se sentir melhor.”
“Não precisa se preocupar tanto comigo, Ana,” Olivia respondeu, sentando-se no sofá. “Já estou me acostumando com a rotina.”
Ana sorriu de lado, mas seus olhos demonstravam preocupação. Ela sabia que, apesar da força que Olivia mostrava, o tratamento estava cobrando seu preço.
Enquanto Ana preparava a sopa na cozinha, Myrela veio correndo até Olivia, segurando uma boneca de pano em uma das mãos e um bloco de desenhos na outra.
“Titia Liv, olha o que eu desenhei!” disse Myrela, animada, mostrando o bloco com uma série de rabiscos coloridos.
Olivia sorriu ao ver o entusiasmo da menina. “Que lindo, Myrela! Você desenha muito bem.”
Myrela se aproximou e subiu no sofá ao lado de Olivia, acomodando-se perto dela. Apesar de sua exaustão, Olivia sentiu o coração aquecer com o carinho e a energia da pequena. Ela nunca imaginou que a presença de uma criança pudesse ser tão reconfortante.
“Titia Liv, você tá dodói?” perguntou Myrela, com a curiosidade inocente de uma criança.
Olivia fez uma pausa antes de responder. Não sabia como explicar a complexidade da sua situação para uma criança tão jovem, mas ao mesmo tempo, queria ser honesta.
“Sim, pequena, eu tô dodói. Mas estou tomando remédios que vão me ajudar a ficar boa de novo,” ela respondeu, tentando manter a simplicidade.
Myrela pareceu refletir por um momento antes de balançar a cabeça, aceitando a resposta. “Quando você ficar boa, a gente pode brincar no parque?”
Olivia sorriu. “Claro que sim. Assim que eu ficar boa, nós vamos brincar muito no parque.”
A resposta fez os olhos de Myrela brilharem, e a menina voltou a desenhar em seu bloco, feliz por ter a promessa de tempos melhores.
Depois de algum tempo, Ana voltou com uma tigela de sopa, colocando-a na mesa de centro diante de Olivia. Ela olhou para Myrela e sorriu ao ver como a pequena havia se apegado à Olivia.
“Obrigada, Ana,” disse Olivia, segurando a tigela e sentindo o aroma reconfortante da sopa. “Você realmente não precisava se dar tanto trabalho.”
“Liv, você já fez tanto por todos nós. Agora é a nossa vez de cuidar de você,” Ana respondeu com um sorriso gentil.
Aquela dinâmica havia se tornado natural entre elas. Ana cuidava das coisas práticas, enquanto Olivia, mesmo em meio à luta contra o câncer, fazia o possível para continuar sendo a mulher forte que sempre fora. A presença de Myrela trazia um ar leve à casa, algo que Olivia precisava mais do que qualquer outra coisa.
Nas semanas que se seguiram, Olivia continuou com seu trabalho em meio período. Sua equipe na delegacia também estava sempre ao seu lado, especialmente Fin, Carisi e Amanda, que faziam questão de se revezar para acompanhá-la durante os dias mais difíceis. Eles sabiam que Olivia não pediria ajuda, então ofereciam sem que ela tivesse que pedir. Eram como uma família não só no trabalho, mas também na vida pessoal.
No entanto, as mudanças físicas começaram a ficar mais evidentes. A queda de cabelo, que havia começado com alguns fios, agora era mais notável. Olivia evitava usar espelhos grandes, preferindo focar no que realmente importava — sua recuperação. Mas havia momentos em que a vulnerabilidade aparecia. Numa noite, após mais uma sessão de quimioterapia, ela estava no banheiro de sua casa, olhando para si mesma no espelho. Passou a mão pelos cabelos e viu mais fios presos entre seus dedos. A realidade da doença, que às vezes parecia distante, agora estava ali, bem diante dela.
Ana, que estava do outro lado da porta, parecia sentir o que Olivia estava passando. Ela entrou sem bater, encontrando Olivia ainda segurando os fios de cabelo.
“Isso vai passar, Liv,” disse Ana suavemente, colocando uma mão no ombro dela. “Você vai superar isso.”
Olivia fechou os olhos, sentindo o peso daquelas palavras. Ela sabia que precisaria ser forte, mas naquele momento, tudo o que queria era deixar as lágrimas rolarem. E foi o que aconteceu. Ana a abraçou, permitindo que Olivia tivesse aquele momento de vulnerabilidade. Elas ficaram ali, em silêncio, por um tempo, até que Olivia respirou fundo e se recompôs.
“Eu odeio isso,” Olivia disse, com a voz embargada. “Odeio me sentir fraca.”
“Você não é fraca,” Ana respondeu, firme. “Está enfrentando algo gigantesco, mas isso não te torna fraca. Te torna mais forte do que qualquer pessoa que eu conheço.”
Olivia olhou para Ana e, por um momento, sentiu-se grata por tê-la ali. Elas tinham se aproximado muito nas últimas semanas, e a amizade se transformou em algo mais profundo. Não era apenas o apoio físico que Ana oferecia, mas o emocional, a presença constante que Olivia tanto precisava.
O mês passou rapidamente entre consultas médicas, sessões de tratamento e o suporte inabalável de sua equipe e amigos. O câncer havia, de certa forma, mudado a vida de Olivia, mas ao mesmo tempo, reforçava os laços que ela tinha com as pessoas ao seu redor. A delegacia se tornou mais do que um local de trabalho — era um lugar onde ela sabia que poderia contar com seus colegas.
Myrela, com sua energia contagiante, também era uma luz nas noites mais sombrias. Quando Olivia se sentia esgotada, era a pequena quem a fazia rir, trazendo uma inocência e alegria que a doença não conseguia apagar. Aos poucos, Olivia começou a aceitar a ajuda sem se sentir culpada ou menos capaz. Ela sabia que, para vencer essa batalha, precisava do apoio daqueles que a amavam.
Apesar de todo o cansaço e as lutas diárias, Olivia continuava a lutar, inspirada pela força que via em sua equipe, em Ana e em Myrela. Sabia que havia um longo caminho pela frente, mas com aquele apoio inabalável, estava disposta a enfrentá-lo, um dia de cada vez.
Nota: Precisamos de amigos que também são família...
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Ruptura Silenciosa
Hayran KurguSinopse Aos 28 anos, a Capitã Olivia Benson fez história ao se tornar a primeira mulher a alcançar o posto de capitã na polícia, liderando uma equipe de elite composta por Elliot, Amanda, Fin, Carisi e Ana. Respeitada por sua competência e determin...