capítulo 10

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Após o café da manhã, Ana não deu espaço para mais discussões. Elas saíram juntas, Myrela segurando firmemente a mão de Ana enquanto Olivia, ainda um pouco zonza, caminhava ao lado. Apesar do esforço de disfarçar, Ana notava as pequenas pausas que Olivia fazia, como se cada passo fosse uma luta contra a dor que insistia em permanecer. Sabendo que estava fazendo a coisa certa, Ana rapidamente acomodou Myrela no banco de trás do carro, e as três seguiram em direção ao consultório médico.

O caminho até o consultório foi relativamente silencioso, com Myrela entretida com um brinquedo no banco de trás, enquanto Olivia olhava pela janela, aparentemente perdida em seus pensamentos. Ana respeitou o silêncio, compreendendo que Olivia estava processando o que estava acontecendo. Não era fácil para uma mulher tão forte admitir que precisava de ajuda, e Ana sabia o quanto aquela situação devia estar sendo desconfortável para ela.

Ao chegarem ao consultório, Ana e Olivia foram recebidas por uma recepcionista sorridente que rapidamente as encaminhou para a sala de espera. Ana manteve Myrela ocupada com livros infantis enquanto esperavam, mas Olivia estava claramente inquieta, tentando esconder o desconforto crescente.

Finalmente, o nome de Olivia foi chamado, e as duas mulheres se levantaram. Myrela ficou com a recepcionista enquanto Olivia e Ana seguiram em direção à sala do médico. Assim que entraram, foram recebidas pelo Dr. Bernstein, um homem de meia-idade com uma expressão gentil e profissional.

"Capitã Benson," ele cumprimentou, acenando com a cabeça para Ana também. "Vamos dar uma olhada no que está acontecendo, certo?"

Olivia assentiu, sentando-se na cadeira indicada pelo médico. Ana ficou ao lado dela, observando atentamente enquanto o Dr. Bernstein começava a fazer perguntas e anotar as respostas. Ele perguntou sobre a frequência das dores de cabeça, o nível de dor, possíveis fatores desencadeantes, e se Olivia havia notado outros sintomas associados, como a náusea que a levara a vomitar naquela manhã.

Após a conversa inicial, o médico solicitou uma série de exames. Olivia foi encaminhada para diferentes salas, onde passou por tomografias, exames de sangue, e uma avaliação completa do sistema neurológico. Durante todo o processo, Ana permaneceu ao lado dela, oferecendo suporte silencioso. A cada exame concluído, Olivia parecia mais exausta, mas também mais aliviada por estar finalmente buscando respostas.

Quando os exames terminaram, Olivia e Ana voltaram ao consultório do Dr. Bernstein para uma última conversa. O médico, agora com um olhar mais sério, explicou que os resultados levariam cerca de uma semana para ficar prontos. Ele também reforçou a necessidade de Olivia descansar e evitar qualquer tipo de estresse que pudesse agravar os sintomas.

"Capitã, sei que você está acostumada a lidar com situações de alta pressão, mas neste momento, sua saúde precisa ser a prioridade. Vou pedir que tire alguns dias de folga até termos os resultados dos exames," Dr. Bernstein aconselhou, com a voz cheia de preocupação genuína.

Olivia, apesar de relutante, sabia que o médico estava certo. O cansaço, a dor de cabeça persistente e a náusea não eram algo que ela podia simplesmente ignorar. Ela acenou com a cabeça, aceitando as recomendações, e logo depois elas se despediram do médico.

Ao saírem do consultório, Ana imediatamente assumiu o comando. "Vamos para casa. Você vai descansar hoje," disse ela com uma firmeza suave, enquanto segurava a mão de Myrela, que já esperava com a babá.

Olivia queria protestar, mas estava tão exausta que apenas concordou em silêncio. O trajeto de volta para casa foi igualmente tranquilo, com Myrela adormecendo no banco de trás. Ana a levou para casa primeiro, deixando a garotinha aos cuidados da babá antes de voltar ao carro para levar Olivia para seu apartamento.

Ao chegarem, Ana ajudou Olivia a subir até seu apartamento, garantindo que ela estivesse confortável antes de sair. "Qualquer coisa, Liv, qualquer coisa mesmo, me liga. Eu estarei por perto," Ana disse, lançando um olhar preocupado para Olivia.

"Obrigada, Ana. De verdade. Eu não sei o que faria sem você hoje," Olivia respondeu, a gratidão em sua voz inconfundível.

"Você faria o mesmo por mim," Ana respondeu com um sorriso suave antes de se despedir.

Sozinha em seu apartamento, Olivia se sentou no sofá, finalmente permitindo que a exaustão tomasse conta. Ela sabia que precisava descansar, mas sua mente não parava de repassar os eventos dos últimos dias. A dor de cabeça, que havia diminuído após o café da manhã, começava a retornar, embora menos intensa. Era um lembrete constante de que algo estava errado, e isso a deixava inquieta.

Tentando se distrair, Olivia pegou o controle remoto e ligou a televisão, mas nenhum programa parecia ser capaz de prender sua atenção. Ela se sentia à deriva, como se estivesse esperando por algo, embora não soubesse exatamente o quê. Talvez fosse apenas o resultado dos exames, ou talvez fosse o medo de descobrir algo mais sério do que estava preparada para enfrentar.

As horas passaram lentamente, e Olivia alternava entre cochilos leves e períodos de vigília, onde a ansiedade voltava a surgir. Cada som no apartamento, cada movimento da luz pela janela, parecia amplificar seu estado de nervosismo. Ela se levantou algumas vezes, andando pelo apartamento, tentando sacudir a sensação de impotência que começava a tomar conta dela.

Finalmente, depois do que pareceu uma eternidade, Olivia decidiu tomar outro analgésico, na esperança de que a dor de cabeça aliviaria o suficiente para que ela pudesse descansar de verdade. Ela voltou para o sofá e se cobriu com uma manta, fechando os olhos com força, tentando afastar os pensamentos turbulentos.

Enquanto o remédio fazia efeito, Olivia se viu pensando em Fin. Ele estava sempre presente em sua mente, mas agora, mais do que nunca, ela sentia a falta dele. Sabia que os amigos estavam cuidando dele naquele momento, mas isso não fazia a saudade desaparecer. Ela queria estar ao lado de Fin, queria ouvir sua voz rouca e sentir o conforto de sua presença.

O pensamento de que Fin poderia não sair daquela situação a assombrava, e a ideia de perder alguém tão importante era mais do que ela conseguia suportar. Ele era seu confidente, seu parceiro de tantas batalhas, e a ideia de continuar sem ele parecia insuportável.

Com o corpo finalmente começando a ceder ao cansaço e ao efeito do remédio, Olivia se aninhou no sofá, permitindo que as lágrimas que vinha segurando finalmente escapassem. Ela sabia que precisava ser forte, mas naquele momento, sozinha em seu apartamento, permitiu-se desmoronar um pouco, deixando que a preocupação e a dor a dominassem.

Mas antes que pudesse afundar completamente na tristeza, seu telefone vibrou. Ela o pegou, limpando rapidamente as lágrimas, e viu uma mensagem de Ana: "Como você está? Precisa de algo?"

A simples mensagem trouxe um pequeno sorriso aos lábios de Olivia. Não estava sozinha, afinal. Com um suspiro, ela respondeu: "Estou bem. Só preciso descansar um pouco mais. Obrigada por tudo, Ana."

Ana respondeu quase que instantaneamente: "Sempre aqui para você, Liv. Descanse bem."

Fechando os olhos novamente, Olivia sentiu o peso do sono começar a tomar conta. Desta vez, porém, foi um sono mais tranquilo, uma pausa necessária em meio ao caos de seus pensamentos. Sabia que os próximos dias seriam de espera e incerteza, mas naquele momento, escolheu se permitir descansar, confiando que, quando o momento certo chegasse, ela teria a força necessária para enfrentar o que viesse.

Ruptura SilenciosaOnde histórias criam vida. Descubra agora