À Prova de Fogo ( ROMANCE LESBICO )

Capítulo 03: Conversas Entre Chamas

O som dos alarmes ecoava pelos corredores do hospital quando Clara terminou de atender outro caso de emergência. Eram momentos como aquele que lembravam Clara do porquê escolheu a medicina. Salvar vidas era sua paixão, mas, mesmo assim, havia algo além disso que estava mexendo com ela ultimamente. A imagem de Luísa continuava a invadir seus pensamentos nos momentos mais inesperados, e Clara não conseguia evitar.

Após horas de plantão, ela finalmente conseguiu um momento de descanso. Encostou-se em uma das paredes frias do hospital e suspirou. O movimento frenético à sua volta contrastava com o silêncio interno que ela sentia. Era como se algo dentro dela estivesse esperando para ser preenchido, algo que ia além do cansaço físico e das exigências de seu trabalho.

Enquanto Clara estava perdida em seus pensamentos, ouviu uma voz familiar.

-cansada, doutora?

Clara levantou os olhos e encontrou Luísa parada à sua frente. A bombeira estava em trajes civis dessa vez, sem o uniforme pesado que geralmente a acompanhava. Estava de calça jeans e uma camiseta simples, mas ainda exalava a mesma presença forte de sempre. Clara sentiu o coração acelerar.

-Um pouco - respondeu Clara com um sorriso suave. - Mas faz parte da rotina.

Luísa deu um pequeno sorriso, aquele meio sorriso que Clara já começava a reconhecer. Havia algo contido na maneira como Luísa se expressava, como se sempre guardasse parte de si. E isso só aumentava a curiosidade de Clara.

- Eu sei como é - disse Luísa, encostando-se na parede ao lado de Clara. - Às vezes, parece que o trabalho nunca acaba.

Clara assentiu, apreciando o raro momento de quietude compartilhada.

- O que te trouxe ao hospital hoje? - perguntou Clara, tentando não parecer excessivamente interessada, mas não conseguindo esconder totalmente sua curiosidade

- Na verdade, só passei para ver como estava um colega de trabalho que foi internado. Mas, ao passar por aqui, vi você e pensei em cumprimentá-la - Luísa respondeu, com aquele tom casual que parecia esconder algo mais.

Clara não sabia se era só impressão, mas sentiu um certo nervosismo por parte de Luísa. Era incomum vê-la fora do papel de bombeira implacável. Ali, sem o uniforme, Luísa parecia um pouco mais... acessível.

- Eu fico feliz que tenha passado - Clara disse, arriscando um comentário mais pessoal. - Não te vejo muito fora das emergências.

Luísa riu, e o som de sua risada ecoou suavemente pelos corredores.

- É, geralmente nos vemos nas piores situações possíveis, não é? - ela comentou, cruzando os braços sobre o peito. - Mas... quem sabe podemos mudar isso.

Clara ficou surpresa com a sugestão, mas se pegou sorrindo com a ideia. Será que Luísa estava insinuando algo?

- Quem sabe - respondeu Clara, tentando soar natural. - Seria bom te ver em um contexto menos caótico.

Luísa observou Clara por alguns segundos, como se estivesse avaliando a resposta. Havia um brilho curioso em seus olhos, algo que Clara ainda não tinha visto. Mas antes que pudesse dizer algo mais, um chamado de emergência soou no corredor, fazendo com que Clara se sobressaltasse.

- Deveria ter imaginado - disse Clara com uma risada leve. - Parece que meu descanso acabou.

O trabalho nunca espera - respondeu Luísa, com um sorriso compreensivo. - Mas... quem sabe possamos continuar essa conversa em outra hora. Em algum lugar fora daqui.

Clara sentiu um calor inesperado subir pelo peito. Ela não sabia o que dizer de imediato, então simplesmente sorriu e acenou com a cabeça.

- Vou gostar disso - respondeu Clara, antes de se despedir rapidamente e voltar ao trabalho.