Capítulo 04: Chamas que Ardem em Silêncio

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Clara acordou no dia seguinte ao encontro com Luísa com uma sensação de leveza, como se algo tivesse finalmente se encaixado em sua vida. Ela passou o dia no hospital, atendendo seus pacientes como de costume, mas, de tempos em tempos, sua mente voltava para a noite anterior. As conversas que tiveram, os olhares trocados, tudo isso pairava sobre ela como uma brisa suave, aquecendo seus pensamentos.

Enquanto Clara estava em uma pausa rápida, seu celular vibrou no bolso. Ela o retirou e viu uma nova mensagem de Luísa. Clara sentiu o coração acelerar e abriu a mensagem com uma curiosidade infantil. A mensagem dizia:

- Mais um dia corrido

A frase era seguida por uma foto de Luísa. Na imagem, Luísa estava suada, com o cabelo preso de maneira casual, ainda usando o uniforme de bombeira. O cenário ao fundo sugeria que ela havia acabado de sair de uma missão, mas o sorriso cansado no rosto mostrava um misto de exaustão e satisfação. Clara não pôde evitar o sorriso que se formou em seus lábios. Ela respondeu rapidamente:

- Você parece ótima, mesmo depois de um dia corrido

A resposta veio pouco depois, com um emoji de risada e um simples:

- Obrigada. E você? Como foi seu dia, doutora

Clara sentiu o calor subir pelo rosto. Era estranho o quanto aquela conversa casual estava afetando-a, mas ela decidiu não pensar muito sobre isso. Em vez disso, respondeu de forma descontraída:

- Corrido, como sempre. Mas acho que não tanto quanto o seu

Elas continuaram trocando mensagens por mais alguns minutos, falando sobre os desafios do dia e, ocasionalmente, fazendo pequenas piadas para aliviar o peso da rotina. Clara se pegou rindo sozinha algumas vezes, surpresa pela leveza que Luísa trazia para seu dia.

Mais tarde, naquele mesmo dia, enquanto Clara se preparava para sair do hospital, outra mensagem chegou. Dessa vez, era um convite:

- Está afim de um jantar hoje à noite? Nada muito formal, só algo para relaxarmos depois de mais um dia agitado

Clara hesitou por um segundo antes de responder. A ideia de se encontrar novamente com Luísa fora do trabalho era tentadora, e, mesmo que não admitisse para si mesma, ela estava ansiosa para vê-la de novo. Respondeu com um simples:

- Adoraria. Onde nos encontramos

À noite, Clara se encontrou com Luísa em um restaurante discreto, um lugar acolhedor com luzes suaves e um ambiente tranquilo. Era o tipo de lugar que Clara provavelmente nunca teria escolhido sozinha, mas parecia perfeito para a ocasião. Quando entrou, viu Luísa já sentada em uma mesa perto da janela. Ela estava de costas para a entrada, mas o perfil forte e familiar era inconfundível. Clara respirou fundo antes de se aproximar.

- Que bom que você veio - disse Luísa, levantando-se e sorrindo de maneira calorosa.

- Eu não perderia por nada - Clara respondeu com um sorriso.

As duas se sentaram, e logo fizeram seus pedidos. Enquanto esperavam a comida, a conversa começou a fluir naturalmente, assim como antes.

- Hoje foi intenso - disse Luísa, apoiando o queixo nas mãos. - Tivemos que lidar com um incêndio em um prédio residencial. Felizmente, ninguém ficou gravemente ferido, mas foi bem desgastante

Clara assentiu, imaginando o cenário que Luísa descrevia. Ela tinha visto muitos pacientes em sua carreira, mas nunca havia presenciado o caos de um incêndio de perto. Admirava a coragem de Luísa.

- Você sempre parece tão calma depois de tudo isso - disse Clara, inclinando-se um pouco para frente. - Eu acho que ficaria em pânico se estivesse no seu lugar

- Acho que é uma questão de prática - Luísa respondeu com um sorriso suave. - No começo, é assustador. Você sente o medo, a adrenalina, mas com o tempo aprende a canalizar tudo isso para o trabalho. No fim, o foco é o que mantém a gente em pé

Clara sorriu, admirando a força de Luísa.

- Isso é impressionante - ela disse suavemente. - Eu realmente admiro o que você faz

Luísa deu de ombros, como se não fosse grande coisa, mas o leve rubor em suas bochechas entregava que ela apreciava o elogio.

- E você? - perguntou Luísa, mudando o foco da conversa. - Como lida com a pressão no hospital

Clara ficou em silêncio por um momento, pensando na pergunta.

- Acho que é parecido com o que você descreveu - respondeu ela. - No começo, é esmagador. A responsabilidade de ter a vida de alguém nas suas mãos... É algo que te assombra no início. Mas, com o tempo, você aprende a confiar no seu treinamento, no seu instinto. Não quer dizer que o medo desaparece, mas você aprende a controlá-lo

- Isso faz sentido - disse Luísa, assentindo. - Acho que é isso que temos em comum. O medo está sempre presente, mas nós o enfrentamos de qualquer forma

Clara olhou para Luísa com uma nova perspectiva. Havia algo reconfortante em saber que, apesar das diferenças em suas profissões, elas compartilhavam essa conexão. Ambas enfrentavam o perigo e a responsabilidade de salvar vidas todos os dias, e, de alguma forma, isso as unia de uma maneira que Clara ainda estava descobrindo.

Enquanto conversavam, a comida chegou, e as duas aproveitaram a refeição em um clima descontraído. De vez em quando, Clara se pegava observando Luísa enquanto ela falava, fascinada pela forma como a bombeira conseguia ser ao mesmo tempo forte e vulnerável. Era uma combinação intrigante, e Clara sentia que queria conhecê-la ainda mais.

- Sabe, eu estava pensando - disse Luísa de repente, colocando o garfo de lado. - Talvez devêssemos fazer isso mais vezes. Nos encontrar fora do trabalho, quero dizer. Acho que faz bem pra gente, não acha

Clara sorriu, sentindo um calor espalhar-se por seu peito.

- Eu acho uma ótima ideia - respondeu Clara. - Gosto de passar tempo com você... fora do hospital

- Então, está combinado - disse Luísa, erguendo o copo em um brinde improvisado. - A partir de agora, vamos tentar nos ver mais vezes fora das emergências

Clara riu e levantou seu copo também, batendo levemente contra o de Luísa.

-Às novas oportunidades - disse Clara, com um sorriso.

O jantar continuou em um clima leve e agradável, e, quando finalmente se despediram, Clara sentiu que algo importante havia mudado. Não era apenas uma conexão profissional que as unia agora. Havia algo mais, algo que ambas pareciam dispostas a explorar, mesmo que com cautela.

Enquanto voltava para casa, Clara sentia que o fogo que Luísa carregava dentro de si estava começando a se espalhar para sua própria vida, e, pela primeira vez em muito tempo, ela se permitiu acreditar que talvez estivesse pronta para algo novo e inesperado.

À Prova de Fogo ( ROMANCE LESBICO )Onde histórias criam vida. Descubra agora