Capítulo 15: O Peso das Decisões

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Clara se afastou da casa de Luísa, o coração pesado como uma âncora afundando nas profundezas do desespero. O frio da noite parecia invadir seu ser, tornando cada passo mais difícil. Lágrimas escorriam por seu rosto, e o peso da decisão que acabara de tomar se fazia sentir em cada célula de seu corpo. Sentia-se esgotada e perdida, a dor de ter que se afastar de Luísa era quase física.


Ela vagou pelas ruas da cidade, cada passo ecoando com a sensação de que estava se afastando de algo vital. As luzes da cidade piscavam, distantes e indiferentes, e as pessoas ao seu redor pareciam alheias à tempestade interna que Clara enfrentava. O sentimento de ser invisível e incompreendida aumentava a cada instante.


Finalmente, Clara chegou a um pequeno parque, um lugar que costumava ser seu refúgio quando precisava de paz. O parque estava vazio, exceto por algumas luzes suaves dos postes que iluminavam o caminho de pedra. Clara seguiu por esse caminho até um banco de madeira perto de um lago artificial, onde costumava sentar-se para refletir.


Ela se sentou no banco, envolta pelo silêncio da noite, e abraçou os próprios joelhos. O lago à sua frente estava tranquilo, a superfície do água refletindo as luzes do parque em padrões distorcidos. Clara sentiu um aperto no peito, e a tristeza tomou conta dela, tornando os soluços incontroláveis. Sua mente estava em um turbilhão, repleta de dúvidas e arrependimentos. Teria tomado a decisão certa ao se afastar de Luísa? Será que havia uma chance de consertar as coisas, ou era tarde demais?


O frio da noite começava a penetrar em seu casaco, mas Clara mal o notava. Seu mundo parecia ter encolhido até o tamanho daquele banco, do lago e das árvores ao seu redor. Era como se o resto do mundo tivesse desaparecido, deixando-a sozinha com sua dor e confusão. Ela se perguntava o que faria a seguir, como poderia se reerguer após essa noite devastadora.Depois de um tempo, Clara se levantou, sentindo que precisava ir embora daquele lugar, procurar algum refúgio mais acolhedor. Ela decidiu ir para a casa de Amanda, uma amiga próxima que sempre a apoiara. Amanda morava em um prédio não muito longe dali, e Clara sabia que, mesmo sem explicar todos os detalhes, sua amiga a acolheria.


Ao chegar ao prédio de Amanda, Clara tocou a campainha com dedos trêmulos. A voz de Amanda no interfone era familiar e acolhedora, embora Clara estivesse emocionalmente exausta.


— Clara? O que aconteceu? Pode subir, vou deixar a porta aberta — disse Amanda, percebendo o tom angustiado na voz de Clara.


Clara subiu as escadas, cada degrau parecendo um esforço monumental. Quando chegou ao apartamento de Amanda, sua amiga a recebeu com um abraço apertado, sem perguntas imediatas. Amanda sentou Clara no sofá e, sem pressioná-la, ofereceu um copo de água e um cobertor. Era o tipo de apoio silencioso que Clara precisava.


Enquanto Amanda preparava um chá, Clara olhou ao redor do apartamento, procurando algum tipo de normalidade que pudesse reconfortá-la. O lugar estava arrumado e acolhedor, uma verdadeira fuga do caos que Clara sentia por dentro.


Amanda voltou com o chá e se sentou ao lado de Clara, esperando que ela falasse quando estivesse pronta. Clara levou o chá aos lábios, tentando se aquecer e encontrar um pouco de conforto. As palavras que precisavam ser ditas pareciam impossíveis de formar, mas ela sabia que precisava tentar.


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Enquanto Clara buscava refúgio na casa de Amanda, Luísa estava em casa, lutando com seus próprios sentimentos de culpa e arrependimento. A noite anterior tinha sido um tormento, e a manhã não trouxe alívio. Luísa se levantou cedo, ainda atormentada pela ausência de Clara e pelas palavras não ditas. Cada vez que fechava os olhos, via Clara partindo, o rosto dela carregando uma dor que Luísa sentia como se fosse a sua própria.


Na manhã seguinte, Luísa se vestiu mecanicamente e foi para o hospital, sua mente ainda repleta de pensamentos caóticos. Ao chegar, seu corpo estava no automático, mas sua mente estava longe, perdida em pensamentos sobre o que poderia ter feito de diferente. Ela tentou não mostrar sua angústia para os colegas, mas era impossível não sentir o peso da culpa sobre seus ombros.


Luísa decidiu ir ao setor de emergência, na esperança de que pudesse encontrar alguma pista sobre Clara. Mas, ao chegar lá, foi informada que Clara não estava mais trabalhando no hospital. A recepcionista, com um olhar simpático, confirmou a notícia que Luísa temia.


— Clara pediu demissão. Não disse para onde iria ou por quê.


A informação caiu como um balde de água fria sobre Luísa. Seu coração afundou, e o arrependimento a invadiu com uma intensidade que a fez vacilar. Clara não estava apenas ausente; ela havia tomado uma decisão drástica, e Luísa sentia-se completamente impotente.Ela passou o resto do dia vagando pelo hospital, tentando entender como as coisas chegaram a esse ponto. Cada canto do lugar parecia carregar memórias de momentos compartilhados com Clara. A sensação de perda e de não ter dito o que sentia se tornou esmagadora.Quando o dia chegou ao fim, Luísa decidiu que precisava sair, precisar de ar fresco e de algum tipo de clareza. Pegou a moto e dirigiu sem rumo, sua mente uma neblina de desespero. Parou em um lugar que costumava frequentar para pensar, uma colina que oferecia uma vista panorâmica da cidade.


Ali, de frente para as luzes distantes, Luísa caiu de joelhos, o peso das decisões e das palavras não ditas esmagando-a. Ela se permitiu chorar, a dor dela e a de Clara se entrelaçando em uma melancolia que parecia não ter fim. A sensação de ter perdido a chance de se expressar, de lutar pelo que sentia, era devastadora. Luísa sabia que precisava tentar encontrar Clara, precisava corrigir seus erros, mas estava consumida pela dúvida e pelo medo de que já fosse tarde demais.


Com Clara na casa de Amanda, e Luísa consumida pela dor da culpa, ambos estavam em caminhos separados, carregando o peso de decisões e palavras não ditas. O futuro estava incerto, mas a intensidade das emoções e a profundidade do arrependimento estavam prestes a moldar o próximo capítulo de suas vidas, onde o entendimento e a reconciliação seriam essenciais para enfrentar o que estava por vir.

À Prova de Fogo ( ROMANCE LESBICO )Onde histórias criam vida. Descubra agora