Capítulo 17 - À Prova de Fogo

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Luísa estava sentada no sofá de sua sala, os olhos fixos no celular em suas mãos. Ela havia esperado ansiosamente pela resposta de Clara, desejando com toda a sua força que a médica ainda estivesse disposta a conversar. Cada segundo de silêncio parecia durar uma eternidade, e quando a notificação finalmente apareceu na tela, seu coração disparou. Era Clara.Com mãos trêmulas, Luísa abriu a mensagem, o que restava de esperança queimando lentamente dentro de seu peito. No entanto, à medida que seus olhos percorriam as palavras de Clara, o que antes era uma chama de esperança se transformou em um golpe devastador. Cada frase da mensagem parecia um soco direto no estômago, deixando-a sem fôlego.


"Luísa, não temos mais nada para conversar. Você teve as chances que precisava, mas escolheu me ignorar quando mais precisei de você. Eu não posso continuar assim. Adeus."


Por um momento, Luísa ficou paralisada. As palavras ecoavam em sua mente, repetidamente, como se estivesse tentando processar o impacto do que aquilo significava. Clara havia desistido. Ela realmente iria embora, e Luísa sabia que, se não fizesse algo agora, poderia perdê-la para sempre.


Num ímpeto, Luísa levantou-se de repente, sentindo o pânico tomar conta de seu corpo. "Ela está indo embora", repetia para si mesma, enquanto tentava encontrar uma solução. Ela sabia que Clara não teria muitas opções para sair da cidade. Havia apenas um aeroporto, e se Clara realmente estava decidida a deixá-la, era para lá que ela tinha que ir.


Com o coração martelando no peito, Luísa pegou as chaves da moto, correu para a porta e saiu de casa. O ar frio da noite cortou seu rosto, mas ela mal o sentiu. A necessidade de encontrar Clara era a única coisa que importava. Montou na moto e acelerou pelas ruas da cidade, que passavam como borrões enquanto sua mente estava concentrada em um único objetivo: alcançá-la antes que fosse tarde demais.


O caminho para o aeroporto parecia interminável, cada semáforo vermelho, cada carro mais lento na estrada a deixava mais nervosa. O que diria a Clara se conseguisse encontrá-la? Como convenceria a médica a dar mais uma chance ao que elas tinham? Perguntas sem resposta inundavam sua mente, mas Luísa sabia que precisava tentar. Não importava o que acontecesse, ela não podia deixar Clara partir sem lutar por elas.


Finalmente, as luzes do aeroporto apareceram à distância, e Luísa acelerou ainda mais. Ao chegar, mal teve tempo de estacionar a moto corretamente. Deixou o capacete no banco e correu para dentro do terminal. Olhos atentos, varrendo o ambiente à procura de Clara.O lugar estava relativamente calmo para o horário, o que facilitava a busca. Passou rapidamente pelas pessoas, seu olhar desesperado captando cada rosto, até que, ao longe, a viu. Clara estava na fila para o check-in, o rosto sério, os olhos fixos no balcão à sua frente, como se estivesse tentando manter o controle de suas emoções.


Luísa sentiu o ar faltar, mas não hesitou. Correu até ela, ignorando os olhares curiosos das pessoas ao redor, até finalmente chegar perto o suficiente para tocá-la. Quando Clara sentiu o toque em seu braço, virou-se bruscamente, surpresa ao ver Luísa ali, ofegante e visivelmente desesperada.


– Clara, por favor... – A voz de Luísa saiu entrecortada pela falta de ar, mas carregada de urgência. – Não vá embora assim... Precisamos conversar.


Clara olhou para Luísa com os olhos cheios de tristeza e cansaço. – Já te disse... Não temos mais nada para conversar. Você teve sua chance, Luísa.


– Eu sei... Eu sei que errei, que deixei o medo me paralisar, mas eu não posso deixar você ir sem tentar de novo. Eu... eu te amo, Clara. – As palavras saíram num sussurro, como se tivessem sido arrancadas à força do fundo de seu coração. Era a primeira vez que Luísa dizia aquilo, e o impacto da confissão pairou entre elas.


Clara ficou em silêncio por um momento, as palavras de Luísa penetrando sua mente como uma tempestade de emoções conflitantes. Ela não esperava ouvir aquilo, não naquele momento, não quando estava prestes a partir. Mas o que significava agora? Era tarde demais? Ou ainda havia uma chance para elas?


Luísa deu um passo à frente, seus olhos suplicantes encontrando os de Clara. – Por favor, me deixe mostrar que podemos fazer isso dar certo. Eu vou lutar por você, por nós. Não desista de mim agora...


Clara desviou o olhar por um segundo, respirando fundo, tentando controlar o turbilhão que sentia dentro de si. Ela havia se preparado para partir, para deixar tudo para trás, mas ouvir Luísa dizer aquelas palavras a desestabilizou completamente. A dor ainda estava lá, mas a dúvida também se fazia presente. Talvez ainda houvesse algo a ser dito, algo que não pudesse ser ignorado tão facilmente.


– Eu... – Clara começou, a voz hesitante. – Não sei se posso confiar em você de novo, Luísa. Não sei se tenho forças para isso.


Luísa deu mais um passo à frente, seu olhar fixo em Clara. – Eu entendo. Mas eu estou aqui, agora, pedindo para você me deixar tentar. Não vou desistir de você sem lutar, Clara. Me dê uma chance... só mais uma chance.


Clara respirou fundo, o olhar fixo nas mãos de Luísa que a seguravam. Era como se, por um breve instante, todo o peso que carregava em seu peito estivesse prestes a ser aliviado. Ela não sabia ao certo o que fazer, mas uma coisa era clara: Luísa estava ali, lutando por elas, e isso significava algo. Mesmo que ainda houvesse dor e mágoa, talvez fosse hora de tentar entender o que restava desse sentimento que as unia.


– Ok... – Clara finalmente disse, sua voz baixa, quase como um suspiro. – Vamos conversar.Luísa soltou um suspiro de alívio, seus olhos brilhando com uma mistura de gratidão e esperança. Elas ainda tinham um longo caminho pela frente, mas, por enquanto, haviam dado o primeiro passo para encontrar o caminho de volta uma para a outra.E, com isso, o destino de Clara e Luísa mudava mais uma vez, entrelaçado pelas decisões que tomariam daqui em diante.

À Prova de Fogo ( ROMANCE LESBICO )Onde histórias criam vida. Descubra agora