Capítulo 13: O Fim do Silêncio

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Clara passou dias tentando processar a crescente distância entre ela e Luísa. As respostas curtas, o silêncio nas chamadas e a frieza nos raros encontros estavam lentamente corroendo sua paciência e sanidade. O brilho inicial do relacionamento havia desaparecido, substituído por uma sensação de vazio e desconexão. Clara sabia que não poderia continuar assim. Então, em uma noite fria de sábado, ela tomou uma decisão.


Clara não avisou. Simplesmente foi até o apartamento de Luísa, o mesmo onde já havia passado tantas noites compartilhando risos, beijos e confidências. Aquelas paredes agora pareciam um lugar distante, inatingível.


Quando Clara chegou, hesitou por um momento em frente à porta. O silêncio do corredor fazia seu coração bater mais forte. Respirou fundo, tentando reunir a coragem que parecia se esvair de seus pulmões a cada segundo que passava. Ela bateu três vezes, sentindo o eco suave de seus próprios toques no peito.


Demorou um pouco até que a porta se abrisse. Luísa estava do outro lado, os olhos cansados, como se o peso do mundo estivesse sobre seus ombros. Quando viu Clara, uma mistura de surpresa e frustração passou pelo rosto dela.


- O que você está fazendo aqui, Clara? – A voz de Luísa soou fria, como uma faca cortando o ar entre elas.


Clara engoliu em seco. As palavras pareciam não querer sair, mas ela se forçou a continuar.


- Eu precisava te ver, Luísa. Precisamos conversar.


Luísa suspirou, cruzando os braços e se apoiando na porta como se quisesse impedir Clara de entrar, tanto física quanto emocionalmente.


- Eu já disse que não é o momento, Clara. Estou cansada, e... isso aqui não está funcionando agora.


Aquelas palavras atingiram Clara como um soco no estômago. Não estava funcionando? Ela sentia que algo estava quebrado, sim, mas ouvir isso de Luísa era uma dor diferente. Era como se estivesse sendo empurrada para fora, como se todos os momentos que compartilharam não significassem nada.


Clara olhou para Luísa, tentando encontrar algum traço da mulher que ela conhecia, da mulher que gostava. Mas tudo o que via era cansaço e uma barreira que ela não conseguia atravessar.


- Tudo bem, Luísa – Clara finalmente respondeu, a voz calma, mas carregada de uma tristeza profunda. – Eu só vim para me despedir.


As palavras pairaram no ar, suspensas entre elas, enquanto o rosto de Luísa se transformava em uma expressão de choque.


- O quê? – A frieza de antes desapareceu instantaneamente. Luísa descruzou os braços e deu um passo em direção a Clara. – Do que você está falando, Clara?


Clara deu de ombros, tentando não demonstrar a dor que estava sentindo. Ela precisava sair dali antes que seu coração explodisse de vez.


- Eu só queria dizer adeus. Não preciso mais ser um peso na sua vida – ela disse, se virando para ir embora.


Mas, antes que pudesse dar mais um passo, sentiu a mão de Luísa agarrar seu braço. O toque não era mais frio, mas sim desesperado.


- Clara, espera. Por favor, não faz isso. Não me deixa assim. O que está acontecendo? Por que você está falando em despedida?


Clara não respondeu. Apenas se soltou suavemente do aperto de Luísa, mantendo os olhos fixos à frente, evitando olhar para trás. Se ela o fizesse, sabia que desabaria.


- Clara, por favor! Fala comigo! – Luísa insistiu, a voz agora carregada de urgência, quase desespero. – Não vai embora desse jeito.


Clara apertou os lábios, lutando contra as lágrimas que já ameaçavam cair. Ela não podia responder. Se dissesse qualquer coisa, Luísa veria a dor em suas palavras, veria o quanto aquilo estava a destruindo. E, nesse momento, ela não queria expor mais uma vez suas vulnerabilidades.


Ela saiu pela porta, descendo as escadas rapidamente, ouvindo Luísa chamá-la do alto. Mas Clara não parou. Ela continuou andando até sair do prédio, respirando o ar fresco da noite, tentando afastar a sensação sufocante que apertava seu peito.


Assim que chegou ao carro, se sentou no banco do motorista, respirando fundo várias vezes. Ela fechou os olhos, deixando que as lágrimas finalmente escorressem por seu rosto, em silêncio.Seu celular, que estava no banco ao lado, começou a vibrar repetidamente. As mensagens começaram a chegar em uma enxurrada.


*Luísa: "Clara, por favor, fala comigo."*


*Luísa: "Você não pode simplesmente sair assim."*


*Luísa: "O que você quis dizer com despedida?"*


Clara segurou o celular nas mãos, as lágrimas caindo sobre a tela enquanto ela lia cada mensagem. Cada vibração era um lembrete do que havia deixado para trás, mas, ao mesmo tempo, ela sabia que não podia mais continuar daquele jeito.


As mensagens continuavam chegando, uma após a outra. Luísa estava claramente desesperada para entender, para resolver o que havia acontecido entre elas. Mas Clara não tinha mais forças para responder. Ela se sentia exausta, emocionalmente drenada. O peso da situação estava começando a sufocá-la, e tudo o que ela queria era encontrar um pouco de paz, mesmo que isso significasse afastar-se de Luísa.


Clara colocou o celular no modo silencioso e o jogou no banco de trás. Apoiou a cabeça no volante e ficou ali, tentando acalmar a mente, enquanto as luzes da cidade piscavam ao seu redor.


Ela sabia que aquilo ainda não era o fim definitivo, mas, naquele momento, precisava de distância para se recompor. E, por mais que doesse, sabia que, por ora, precisava se afastar da mulher que ainda gostava.

À Prova de Fogo ( ROMANCE LESBICO )Onde histórias criam vida. Descubra agora