Capítulo 16

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Clara passou a noite em claro, o conforto da presença de Amanda sendo o único alívio que conseguia encontrar em meio ao caos que dominava seus pensamentos. A amiga, sempre paciente, se limitava a estar ao seu lado, sem invadir o espaço de Clara, mas oferecendo o tipo de apoio que apenas anos de amizade poderiam proporcionar.


No entanto, a quietude do apartamento não era suficiente para silenciar as vozes em sua cabeça. Ela revivia cada palavra dita, cada gesto de Luísa na noite anterior, tentando entender como tudo havia desmoronado tão rapidamente. Talvez, se tivesse sido mais paciente, ou se Luísa tivesse se permitido ser mais vulnerável... Mas as suposições só a mergulhavam mais fundo em uma espiral de tristeza.


Na manhã seguinte, Clara se levantou do sofá sem fazer muito barulho. Amanda ainda dormia, e ela não queria incomodar. Deixou uma mensagem no celular da amiga, agradecendo por tudo e prometendo que voltaria a se sentir melhor em breve, embora nem ela mesma acreditasse nisso naquele momento. Precisava de espaço para pensar, para entender o que viria a seguir.Ao sair do apartamento, a cidade parecia fria e distante. Decidiu que o melhor era dar um tempo de tudo, talvez até viajar para algum lugar distante. Não sabia ao certo, mas precisava fugir da dor que parecia crescer a cada instante.


Enquanto isso, Luísa não conseguia encontrar paz. Sua mente revisitava cada detalhe das últimas interações com Clara, analisando minuciosamente suas próprias falhas. Era como se estivesse presa em um ciclo interminável de arrependimento e autopunição.O hospital, que sempre fora um lugar de conforto para ela, agora parecia sufocante. Cada corredor, cada rosto familiar, tudo lembrava Clara. O sorriso que ela costumava exibir mesmo nos dias mais difíceis, a forma como se concentrava nas cirurgias, sua dedicação... Era como se tudo tivesse sido arrancado, deixando apenas um vazio.


Luísa sabia que precisava agir, mas o medo de rejeição a paralisava. E se Clara não quisesse mais ouvi-la? Se já fosse tarde demais? Essas dúvidas a corroíam, fazendo-a hesitar cada vez que pensava em pegar o telefone para ligar.


No entanto, algo dentro dela insistia. A lembrança de Clara sorrindo para ela, de como seus olhos brilhavam ao falar de seus sonhos, de como suas mãos se tocavam nos momentos mais simples, mas significativos. Esses pequenos fragmentos de memória eram o que a mantinham esperançosa, apesar de tudo.


Naquela noite, depois de passar o dia inteira fugindo de seus próprios sentimentos, Luísa finalmente decidiu que não podia continuar assim. Pegou o telefone, as mãos tremendo, e escreveu uma mensagem para Clara. Não sabia exatamente o que dizer, então foi honesta."Clara, sei que te magoei. Sei que talvez seja tarde demais, mas eu preciso que você saiba que sinto muito. Eu... eu não posso simplesmente deixar isso assim. Se você me der uma chance de explicar, eu estarei esperando por você. Por favor, não vá embora sem me dar a chance de consertar isso."


Ela leu e releu a mensagem antes de finalmente apertar o botão de enviar. Depois, tudo o que pôde fazer foi esperar. O medo e a ansiedade se misturavam, mas, acima de tudo, havia um fio de esperança de que Clara ainda estivesse disposta a ouvi-la.Enquanto isso, Clara já estava no aeroporto, passando os dedos pelos bilhetes das diferentes cidades, em busca de algo que a fizesse esquecer.


Clara sentou-se no banco do aeroporto, olhando para a tela do celular que exibia a mensagem de Luísa. As palavras "me dá uma chance" ecoavam em sua mente, mas ela se sentia esgotada. A dor ainda era muito presente, e o peso do que havia acontecido entre elas parecia insuportável. Respirou fundo antes de digitar a resposta, cada palavra carregando o fardo de seu coração machucado.


"Luísa, não temos mais nada para conversar. Você teve as chances que precisava, mas escolheu me ignorar quando mais precisei de você. Eu não posso continuar assim. Adeus."Ela olhou para a mensagem por um longo momento antes de enviá-la. A dor era aguda, mas Clara sabia que não podia continuar esperando por algo que talvez nunca acontecesse. Luísa tinha desperdiçado o tempo em que poderiam ter se entendido, e agora, era tarde demais. Não havia mais espaço para mágoas e promessas vazias.


Após enviar a mensagem, Clara desligou o celular, decidida a seguir em frente. Guardou o aparelho na bolsa, levantou-se e foi até o balcão de embarque. A decisão estava tomada, e apesar da tristeza que ainda a envolvia, havia uma pequena chama de determinação queimando dentro dela. Ela precisava se reencontrar, longe de tudo aquilo que a fazia sofrer.


À Prova de Fogo ( ROMANCE LESBICO )Onde histórias criam vida. Descubra agora