Capítulo 22: Um Passo em Frente

105 11 0
                                    



Na manhã seguinte, Clara entrou no hospital com o coração acelerado. O ambiente familiar, com o som constante de passos apressados e monitores cardíacos ao fundo, parecia acolhedor e ao mesmo tempo intimidante. Cada pessoa que passava por ela, seja paciente ou colega de trabalho, trazia consigo a lembrança de um passado recente do qual ela ainda tentava se recuperar.


Clara parou diante da porta do Dr. Almeida, respirou fundo e bateu levemente antes de abrir. O médico, um homem de meia-idade com uma expressão sempre séria, ergueu os olhos do computador e indicou para que ela se sentasse.


– Clara, bom te ver – ele começou, entrelaçando os dedos sobre a mesa. – Espero que você esteja melhor.


Clara assentiu, mas ainda havia um peso em seus ombros que ela não conseguia sacudir completamente.


 – Eu estou tentando... E sei que minha saída foi abrupta. Fui impulsiva, e isso não reflete quem eu sou como profissional.

Dr. Almeida a observou por um longo momento antes de responder. – Clara, você sempre foi uma das melhores médicas daqui. Sabemos que todos passam por momentos difíceis. O que importa é como lidamos com eles. Então, me diga, você realmente acha que está pronta para voltar?


Clara sentiu o coração apertar com a pergunta. Ela sabia que ele tinha razão em perguntar, mas também sabia o quanto precisava daquele emprego, não só financeiramente, mas para se sentir em controle de sua vida novamente.


– Eu estou pronta. Sei que não posso garantir que nunca mais terei momentos difíceis, mas estou aprendendo a lidar melhor com isso. E tenho suporte agora... não estou mais sozinha – Clara respondeu, pensando em Luísa e no que isso significava.


Dr. Almeida assentiu, satisfeito com a resposta.


 – Fico feliz em ouvir isso. Vamos fazer o seguinte: você volta, mas por enquanto vamos diminuir um pouco a sua carga horária. Quero que você tenha tempo para se ajustar novamente. O que acha?

Clara sentiu uma onda de alívio atravessá-la. – Acho ótimo. Obrigada, Dr. Almeida. Não vou decepcionar.


Ele sorriu levemente. – Eu sei que não. Vamos dar um passo de cada vez, certo?


Clara assentiu, e com isso, a reunião foi encerrada. Enquanto saía do escritório, sentia-se mais leve, como se tivesse finalmente recuperado uma parte de si que havia perdido. Ao sair pelas portas do hospital, foi surpreendida pelo som familiar de uma moto.


Luísa estava ali, encostada em sua moto, usando o capacete embaixo do braço e sorrindo de um jeito que Clara sempre achava encantador. – Como foi? – perguntou, sua voz cheia de curiosidade e apoio.


– Consegui meu emprego de volta – Clara respondeu, não conseguindo conter o sorriso. – Com carga horária reduzida por enquanto, mas é um começo.


Luísa sorriu ainda mais e estendeu o capacete para Clara. – Que tal comemorarmos? Quer passar a noite lá em casa?


Clara hesitou por um momento, mas logo assentiu.


 – Acho uma ótima ideia.

Subindo na moto, Clara envolveu a cintura de Luísa com os braços, sentindo a familiaridade daquele gesto, mas também uma nova sensação de pertencimento. A moto acelerou pelas ruas, e o vento batendo em seu rosto fez Clara se sentir viva, como se estivesse tomando o controle de sua vida de volta, pouco a pouco.


Quando chegaram ao apartamento de Luísa, a noite já começava a cair, tingindo o céu de tons laranja e rosa. Elas entraram, e Luísa deixou Clara à vontade, indo até a cozinha para pegar algo para beber.


– Quer contar como foi a conversa? – Luísa perguntou, enquanto enchia dois copos com água e voltava para a sala.


Clara se sentou no sofá, aceitando o copo que Luísa lhe oferecia. 


– Foi... bom. Ele me entendeu, mas também me fez ver que preciso levar as coisas com calma. Vou voltar com menos horas, mas isso me dá tempo para processar tudo. Não quero me perder de novo.

Luísa se sentou ao lado dela, seus olhos mostrando a compreensão silenciosa que só alguém que já passou por dificuldades similares poderia oferecer. – Você não vai se perder. Eu vou estar aqui, te ajudando a encontrar o caminho sempre que precisar.


As palavras de Luísa aqueceram o coração de Clara, e por um momento, o peso de tudo parecia um pouco mais leve. Elas conversaram mais um pouco, sobre o futuro e sobre como as coisas poderiam ser diferentes agora. Mas quando o sono começou a pesar nos olhos de ambas, decidiram que era hora de dormir.


Deitaram-se na cama de Luísa, cada uma de um lado, mas o silêncio que caiu entre elas estava carregado de possibilidades. Clara sentiu Luísa hesitar ao seu lado, o corpo dela quase inclinado na direção de Clara, mas sem completar o movimento.


Sentindo a tensão no ar, Clara estendeu a mão para trás, puxando suavemente o braço de Luísa, convidando-a para mais perto. Luísa aceitou o convite com gratidão silenciosa, envolvendo Clara em um abraço por trás.


Os lábios de Luísa começaram a depositar beijos suaves no rosto de Clara, começando na bochecha e seguindo em direção ao pescoço, cada toque carregando uma promessa de carinho e proteção. Clara fechou os olhos, permitindo-se relaxar no conforto daquele gesto, sabendo que, pelo menos por aquela noite, as coisas estavam exatamente onde deveriam estar.

À Prova de Fogo ( ROMANCE LESBICO )Onde histórias criam vida. Descubra agora