Capítulo 18

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O aeroporto parecia menos movimentado, como se o tempo tivesse desacelerado ao redor de Clara e Luísa. As palavras "Vamos conversar" ainda pairavam no ar, ecoando nos pensamentos de ambas. Clara sentia o peso da decisão em cada fibra de seu corpo. Ela não sabia se estava pronta para isso, mas algo em Luísa parecia diferente. Havia uma sinceridade desesperada em seus olhos que Clara não conseguia ignorar.


As duas se afastaram da fila, buscando um lugar mais tranquilo para conversarem. Sentaram-se em um dos bancos perto da área de embarque, onde o som de malas sendo arrastadas e os anúncios do sistema de som do aeroporto se tornavam um pano de fundo distante.Clara cruzou os braços, tentando se proteger do frio emocional que ainda sentia. Olhou para Luísa, esperando que ela falasse, mas a bombeira parecia igualmente perdida. O silêncio entre elas era quase palpável, até que Luísa finalmente quebrou a barreira com uma voz baixa e hesitante.


– Eu não sei nem por onde começar – ela disse, passando a mão pelos cabelos curtos e respirando fundo. – Eu... sempre fui péssima em falar sobre o que sinto. Você sabe disso. Mas eu nunca imaginei que o medo de me abrir poderia acabar nos destruindo.


Clara manteve o olhar fixo no chão. – Eu só queria que você estivesse lá, Luísa. Queria sentir que eu importava o suficiente para você lutar por nós... mas em vez disso, você se afastou. E eu... eu me senti tão sozinha.


As palavras de Clara atingiram Luísa em cheio. Ela sabia que era verdade, sabia que tinha se fechado quando Clara mais precisava dela. 


E agora, estava pagando o preço por sua própria covardia. – Eu fui egoísta, Clara. Pensei que, se eu evitasse falar sobre o que estava sentindo, o problema desapareceria. Mas eu estava errada. Eu sei disso agora.

Clara finalmente olhou para Luísa, seus olhos carregados de dor, mas também de algo mais. Talvez uma pequena faísca de esperança, embora Clara ainda não estivesse pronta para admitir isso. – E agora? O que mudou?


Luísa não hesitou desta vez. – Eu percebi que, se continuar assim, vou perder a única coisa que realmente importa para mim. Percebi que não posso mais deixar o medo me controlar. Eu amo você, Clara, e vou fazer o que for preciso para consertar as coisas. Eu não quero perder você.Clara fechou os olhos por um momento, deixando as palavras de Luísa penetrarem em sua mente. Era tudo o que ela sempre quis ouvir, mas a mágoa ainda estava lá, como uma sombra pairando sobre elas.

 – Não é tão simples, Luísa. Não é só dizer que vai mudar e esperar que tudo fique bem.


Luísa assentiu, compreendendo o peso daquilo. – Eu sei. E não espero que você confie em mim imediatamente. Só estou pedindo uma chance de provar que estou falando a verdade. Não quero mais perder tempo. Quero consertar isso, passo a passo, juntos.


Clara respirou fundo, o peito ainda apertado pela incerteza. Mas ela sabia que, apesar de tudo, havia uma parte dela que ainda amava Luísa profundamente. E talvez, só talvez, pudesse haver um caminho de volta. – Passo a passo – repetiu, quase para si mesma. – Mas, Luísa... se você me magoar de novo, eu não vou conseguir continuar.


Luísa segurou a mão de Clara com firmeza, seus olhos fixos nos dela com uma determinação que Clara não via há tempos. – Eu não vou magoar você de novo. Prometo que dessa vez vou lutar por nós.


Clara assentiu levemente, sentindo uma mistura de medo e esperança. Havia um longo caminho pela frente, mas talvez, com tempo e paciência, elas pudessem se reencontrar de verdade. Por enquanto, elas tinham decidido dar o primeiro passo – e isso já era algo.

À Prova de Fogo ( ROMANCE LESBICO )Onde histórias criam vida. Descubra agora