Capítulo 42 - Flores e Lágrimas

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Era uma manhã tranquila no hospital, ou pelo menos tão tranquila quanto aquele lugar poderia ser. Os raios de sol entravam pelas janelas do quarto de Clara, iluminando suavemente os móveis brancos e os aparelhos que a cercavam. O silêncio ali dentro era quase absoluto, quebrado apenas pelo som ritmado das máquinas que monitoravam seus sinais vitais. Clara ainda estava presa aos tubos, impossibilitada de falar ou se mover livremente, mas seus olhos permaneciam atentos, vivos, embora carregados de emoção.


Luísa, por outro lado, sentia o coração batendo mais rápido do que o normal enquanto se aproximava do hospital. Nas mãos, ela segurava um buquê de rosas vermelhas, cuidadosamente escolhidas, com as pétalas perfeitamente intactas. Cada rosa parecia contar uma história, uma memória, e ela sabia que Clara entenderia o significado por trás delas.


Ao entrar no hospital, Luísa passou rapidamente pela recepção e subiu direto para o quarto de Clara. Seus passos, que normalmente eram decididos, estavam um pouco mais lentos, talvez pela mistura de ansiedade e emoção que a tomava por completo. Quando se aproximou da porta, fez uma pausa por um segundo, respirando fundo. O buquê, agora ainda mais firme em suas mãos, parecia ser uma extensão de sua própria vontade de ver Clara sorrir novamente.Ao abrir a porta do quarto, seus olhos imediatamente encontraram os de Clara. Ela estava acordada, como na última vez, mas havia algo diferente naquele olhar. Havia uma emoção contida, uma expectativa silenciosa. Luísa entrou com cuidado, fechando a porta atrás de si, e se aproximou da cama, sentindo o coração acelerar.


— Olha o que eu trouxe para você, amor — disse Luísa suavemente, estendendo o buquê de rosas na direção de Clara.


Clara olhou para as flores com uma expressão que misturava surpresa e vulnerabilidade. Seus olhos, que já estavam marejados, começaram a brilhar ainda mais à medida que as lágrimas surgiam sem aviso. Elas escorreram lentamente pelo rosto pálido dela, traçando um caminho silencioso até o travesseiro. O impacto daquele gesto simples, mas cheio de significado, era mais do que Clara conseguia suportar naquele momento. Estava viva, acordada, e ali estava Luísa, com suas flores, seu amor, sua dedicação inabalável.


Luísa se aproximou ainda mais, colocando as rosas com cuidado ao lado da cama, sobre a pequena mesa. Ela observou Clara por um momento, vendo as lágrimas caírem uma a uma, sentindo o aperto em seu próprio peito aumentar. Ver Clara chorar dessa forma a partia por dentro, mas ao mesmo tempo sabia que aquelas lágrimas eram um reflexo de tudo o que haviam passado – e sobrevivido – juntas.


— Ei, não chora, amor — Luísa murmurou, aproximando-se e segurando a mão de Clara. — Não precisa mais chorar... Eu estou aqui, com você.


Clara apertou a mão de Luísa com a pouca força que tinha, seu olhar carregado de gratidão e amor. Mesmo sem poder falar, seu olhar dizia tudo. Ela estava agradecida por Luísa estar ali, ao lado dela, depois de tudo.


Luísa então se sentou na cadeira ao lado da cama e, ainda segurando a mão de Clara, falou suavemente, tentando manter a calma, mas com a voz carregada de emoção.


— Eu conversei com os médicos, amor — começou ela, seus olhos fixos nos de Clara. — Eles disseram que, de tarde, vão retirar os tubos. Isso significa que você vai poder respirar sozinha de novo... e quem sabe até falar comigo.


Ao ouvir isso, uma nova onda de lágrimas tomou conta de Clara. Dessa vez, o alívio misturado com o medo era quase palpável. A ideia de finalmente se livrar daqueles tubos, de voltar a ter o controle sobre seu próprio corpo, era ao mesmo tempo assustadora e libertadora. Ela piscou várias vezes, tentando conter o choro, mas as lágrimas continuavam a descer, sem que ela pudesse fazer nada para pará-las.


Luísa, vendo o estado emocional de Clara, levantou-se da cadeira e se inclinou para perto dela, passando a mão pelo cabelo de Clara com carinho. Seus dedos deslizavam com suavidade, numa tentativa de acalmá-la, de dizer, sem palavras, que tudo ficaria bem.


— Eu sei que parece assustador agora, mas vai ficar tudo bem, eu prometo — disse Luísa, sua voz baixa e tranquila. — Os médicos disseram que você está reagindo muito bem. Em breve, vai poder sair daqui... e aí, eu vou cuidar de você, como prometi. Não vou deixar você sozinha, nunca mais.


Clara piscou lentamente, tentando se acalmar. A mão de Luísa em seu cabelo e a promessa suave em sua voz traziam um conforto que ela mal sabia como descrever. Tudo parecia tão distante, o momento do tiro, a dor, e agora a recuperação lenta e cheia de incertezas. Mas Luísa estava ali, como sempre, sendo seu porto seguro.


Por um momento, tudo parecia se acalmar. A sala silenciosa, o som constante das máquinas, o toque suave de Luísa – era como se aquele instante fosse apenas delas, longe de toda a confusão que viveram até ali.


— Sabe, amor — continuou Luísa, tentando aliviar um pouco a tensão. — Quando você sair dessa cama, vou te levar para jantar no seu lugar favorito... ou melhor, a gente vai direto para casa, para o nosso lugar. O que você acha?


Clara, mesmo sem poder responder, sorriu levemente com os olhos. Era tudo o que ela queria: voltar para a vida ao lado de Luísa, para os momentos simples e repletos de amor. Sentir o cheiro do café pela manhã, ouvir a risada dela, e estar segura, finalmente.


Luísa sorriu de volta, apertando mais uma vez a mão de Clara, sentindo o quanto aquele contato significava para ambas.


— Eu te amo — disse Luísa, com uma sinceridade que transbordava de seu coração. — E vou estar aqui o tempo todo, até você estar pronta para voltar para casa comigo.


Clara piscou devagar, mais uma vez, como se estivesse concordando com cada palavra, seu olhar transmitindo tudo o que as palavras ainda não podiam.


E assim, naquele quarto silencioso, em meio ao alívio, às lágrimas e ao amor incondicional, as duas permaneceram conectadas. O tempo parecia ter parado, e naquele momento, tudo o que importava era que, apesar de tudo, estavam ali – juntas.E juntas continuariam, enfrentando cada novo desafio, lado a lado.

À Prova de Fogo ( ROMANCE LESBICO )Onde histórias criam vida. Descubra agora