Capítulo 40 - Sombras do Passado

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O silêncio da sala pesava sobre Luísa enquanto ela se sentava na mesma cadeira ao lado de Clara, com os olhos fixos no monitor que registrava cada batimento cardíaco. O som contínuo e rítmico das máquinas era o único sinal de vida, e ainda assim parecia tão frágil. A mão de Clara, imóvel, entrelaçada à sua, não dava nenhum indício de melhora imediata. Aquele pequeno movimento que Clara havia feito antes fora a única pista de que ela estava lutando para voltar.Luísa suspirou profundamente, passando as mãos pelo rosto, cansada e sem saber o que esperar. A exaustão começava a tomar conta, e ela se perguntou quanto mais poderia suportar ver Clara naquele estado. Seus olhos vagaram pela sala, mas sua mente estava em outro lugar. Havia algo que ainda não tinha conseguido entender completamente, algo que continuava a atormentar seus pensamentos.


"O que aconteceu com o atirador?", ela pensou, subitamente acordada pelo peso dessa questão.Lembrava-se vividamente do caos no hospital, das luzes piscando em vermelho e do som das sirenes. O momento em que tudo se desfez em confusão ainda ecoava em sua mente. Ela segurava a mão de Clara quando tudo aconteceu, e então, em um piscar de olhos, Clara havia sido atingida. O choque, o desespero, a urgência de levá-la para a cirurgia... e depois, tudo ficou borrado em um turbilhão de emoções.


Mas o atirador... aquele homem que apareceu no meio do hospital com uma arma, como se estivesse determinado a causar o máximo de estrago possível. Quem ele era? E o que aconteceu depois?


Luísa fechou os olhos e voltou ao momento em que Clara, teimosa como sempre, havia soltado sua mão para correr em direção aos feridos, mesmo sob a mira do assassino. Aquela cena passava em sua cabeça repetidamente, como um pesadelo que não queria desaparecer. E enquanto Clara lutava pela própria vida, a questão sobre o destino do homem que provocou tudo aquilo pairava como uma sombra sombria.


Um som baixo na porta interrompeu seus pensamentos. Ela levantou a cabeça, percebendo que um enfermeiro entrava com alguns papéis na mão. Ele deu um olhar de simpatia para Luísa e, sem dizer muito, se aproximou para verificar os sinais de Clara. Quando ele estava prestes a sair, Luísa tomou coragem para perguntar.


— O atirador... — a voz de Luísa saiu baixa e rouca. Ela pigarreou e continuou. — O que aconteceu com ele? O homem que estava lá no hospital...


O enfermeiro hesitou por um segundo, mas parecia que a pergunta era algo que ele esperava.— Você não soube? — ele perguntou, e quando Luísa balançou a cabeça, ele suspirou. — Logo após Clara ser levada para a sala de cirurgia, o atirador foi interceptado por um dos policiais que chegaram ao local. Houve uma breve troca de tiros no corredor... e ele acabou morrendo.


Luísa ficou em silêncio por um momento, processando aquela informação. Ele estava morto. A pessoa responsável por todo o caos e pela dor que Clara estava sofrendo não estava mais lá. "Ele não deveria estar morto", pensou ela amargamente. "Clara não deveria estar aqui, deitada nessa cama. Ele deveria ser o único sofrendo."


Mas a realidade era imutável. Clara era quem estava ali, presa entre a vida e a morte, enquanto o homem que havia causado aquilo já não existia mais. O destino dele tinha sido selado no momento em que ele levantou a arma.


— Eu... eu não sabia disso — respondeu Luísa, sua voz quebrando no final. — Ele devia estar sofrendo... não Clara.


O enfermeiro assentiu com empatia.


— Infelizmente, as coisas não são sempre justas. Mas ele não pode mais machucar ninguém.Luísa agradeceu em um murmúrio, e o enfermeiro saiu da sala. O silêncio voltou a dominar o ambiente, e mais uma vez, Luísa estava sozinha com seus pensamentos e com Clara.


Ela olhou para a mulher na cama, tão indefesa, tão diferente da força que sempre exalava. A lembrança do atirador a consumia, e por mais que ela soubesse que ele não representava mais uma ameaça, a raiva que sentia não desaparecia. O homem que havia feito isso com Clara estava morto, mas ela não conseguia sentir qualquer sensação de justiça. Tudo o que queria era que Clara estivesse bem, que abrisse os olhos, que dissesse que estava tudo bem.Seus dedos apertaram a mão de Clara com força, buscando algum sinal, qualquer coisa que mostrasse que ela estava ali. As lágrimas, silenciosas e amargas, escorreram pelas suas bochechas.


 — Você não devia estar aqui, lutando pela sua vida por causa dele. Isso não é justo.


O mundo parecia tão cruel naquele momento. A pessoa que mais importava para ela, que era a razão pela qual seu coração batia mais forte, estava entre a vida e a morte, e nada que Luísa pudesse fazer parecia o suficiente para mudar isso.


Ela se levantou da cadeira, incapaz de ficar parada. Começou a andar de um lado para o outro na sala, suas emoções fervilhando sob a superfície. O destino do atirador não a importava mais, mas a injustiça da situação a corroía. O que Clara havia feito para merecer isso? Ela era uma médica, dedicava a vida a salvar os outros, e agora, ali estava ela, precisando ser salva.


— Eu daria qualquer coisa para te tirar daqui... — disse Luísa, com a voz embargada.


Depois de algum tempo andando, ela finalmente parou ao lado de Clara novamente. Inclinou-se sobre a cama e, mais uma vez, acariciou o rosto dela com a ponta dos dedos.


— Eu só quero que você volte pra mim — sussurrou, enquanto os bips das máquinas preenchiam o silêncio mais uma vez. O tempo passava, mas Clara permanecia imóvel, e Luísa sabia que a batalha de sua amada ainda não tinha acabado.

À Prova de Fogo ( ROMANCE LESBICO )Onde histórias criam vida. Descubra agora