Capítulo 21: Retomando o Controle

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O ar parecia mais leve, mas ainda havia uma tensão palpável entre as duas mulheres. Luísa permaneceu sentada no sofá, observando cada pequeno movimento de Clara com uma intensidade que deixava clara a gravidade do momento. Clara, por sua vez, estava de pé ao lado da janela, observando as ruas abaixo enquanto tentava organizar os pensamentos.


– Eu preciso voltar ao hospital – Clara quebrou o silêncio, sua voz baixa, quase hesitante. 

Ela sabia que precisava recuperar seu emprego, mas isso parecia ainda mais difícil com o peso emocional que carregava. – Pedi demissão... mas, se eu explicar o que aconteceu, talvez possam reconsiderar.

Luísa levantou-se lentamente, aproximando-se de Clara com passos cuidadosos, como se não quisesse invadir o espaço dela.


 – Você é uma ótima médica, Clara. Eles não vão querer te perder – disse com convicção, sua voz carregando uma suavidade que ela não usava com frequência.

Clara virou-se para ela, seus olhos finalmente encontrando os de Luísa.


 – Não é tão simples. Eles podem não querer alguém instável emocionalmente cuidando de pacientes.

Luísa estendeu a mão, tocando o braço de Clara com delicadeza.


 – Todos têm momentos difíceis. Você é humana, Clara. O que importa é como você lida com isso daqui para frente.

Clara respirou fundo, sentindo o conforto nas palavras de Luísa, mas sabendo que ainda havia muito a ser feito. Ela tinha que encarar o hospital, falar com seus superiores e, mais importante, provar para si mesma que ainda era capaz de exercer sua profissão com a mesma dedicação de antes.


– Vou ligar para eles hoje – decidiu Clara, sua voz mais firme. – Preciso tentar.Luísa assentiu, o orgulho evidente em seu olhar. – Eu sei que vai dar certo. E estou aqui para o que precisar.


Clara sentiu uma onda de gratidão, mas também de incerteza. Sabia que o caminho à frente seria complicado, tanto em sua vida profissional quanto em seu relacionamento com Luísa. Ainda assim, pela primeira vez em dias, sentiu que estava retomando o controle de sua vida, um pequeno passo de cada vez.


Ela pegou o celular do bolso e, com um último olhar para Luísa, discou o número do hospital.


Clara apertou o celular com força, ouvindo o som dos toques enquanto esperava que alguém atendesse do outro lado. Seus olhos estavam fixos em algum ponto além da janela, mas sua mente estava mergulhada nas possibilidades — e no medo de que as coisas não fossem como antes.


– Hospital São Francisco, com quem deseja falar? – A voz da recepcionista soou do outro lado da linha.


Clara engoliu em seco antes de responder.


 – Oi, é a Dra. Clara Rezende. Eu preciso falar com o Dr. Almeida, por favor. É urgente.

Houve uma pausa, o som de teclas sendo pressionadas ao fundo.


 – Um momento, por favor.

Enquanto esperava, Clara sentiu a presença de Luísa se aproximar novamente. Dessa vez, ela não se afastou. Sentia a necessidade do apoio dela, mesmo que não admitisse em voz alta. Finalmente, o som da linha sendo transferida fez seu coração acelerar.


– Dr. Almeida falando – A voz grave e familiar ecoou pelo telefone.


– Dr. Almeida, sou eu, Clara... – Ela começou, sua voz hesitante, mas decidida. – Eu... queria falar sobre a minha demissão. Foi uma decisão precipitada. Eu estava passando por um momento difícil, e sei que isso afetou meu julgamento. Gostaria de saber se há uma chance de reconsiderar isso.


O silêncio do outro lado da linha pareceu durar uma eternidade antes que Dr. Almeida falasse novamente.


– Clara, todos nós passamos por momentos complicados. Fiquei surpreso com sua decisão, mas entendo que você estava passando por algo sério. Podemos discutir isso pessoalmente? – Ele ofereceu, sua voz agora mais suave.


Clara sentiu um pequeno alívio, mas sabia que a conversa pessoal seria decisiva. – Claro, quando seria um bom momento?


– Amanhã de manhã, às 9h. Venha ao meu escritório – Ele respondeu, direto.


– Obrigada, Dr. Almeida. Estarei lá – Clara respondeu, antes de desligar o telefone.


Ela ficou parada por um momento, absorvendo o fato de que ainda havia uma chance. Quando finalmente virou-se para Luísa, viu o sorriso suave que a bombeira lhe oferecia.


– Vai dar tudo certo – Luísa repetiu, aproximando-se para segurar a mão de Clara.


Clara esboçou um sorriso, mas ainda havia dúvidas em seu olhar. – Espero que sim... preciso disso para me sentir estável de novo.


Luísa apertou a mão dela, oferecendo o máximo de conforto que podia. – E eu estou aqui para te apoiar, de todas as formas que precisar.


As duas se sentaram novamente no sofá, e Clara sentiu um pouco da tensão se dissipar, embora o dia seguinte trouxesse novas preocupações. A relação entre elas estava longe de ser resolvida, mas o simples fato de Luísa estar ali ao seu lado fazia toda a diferença.


Pela primeira vez em muito tempo, Clara permitiu-se acreditar que as coisas poderiam melhorar, tanto em sua carreira quanto em sua vida pessoal.

À Prova de Fogo ( ROMANCE LESBICO )Onde histórias criam vida. Descubra agora