Capítulo 08: Rotina e Desejo

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A noite anterior foi intensa. Depois de todo o calor do momento, Luísa levou Clara para sua casa, sem muita conversa, apenas a cumplicidade de quem sabia que havia cruzado uma nova linha. A casa de Luísa era simples, mas aconchegante, e Clara se sentiu confortável ao entrar. O cheiro do perfume da bombeira estava em cada canto, e isso a fez se sentir estranhamente em casa.Luísa a guiou para o quarto, onde se despiram com a mesma naturalidade com que tinham se beijado. Sem palavras, apenas toques e olhares. Depois de um último beijo, Clara adormeceu com Luísa ao seu lado, o corpo cansado, mas a mente ainda vagando pelos acontecimentos da noite.


Quando Clara abriu os olhos na manhã seguinte, o sol já entrava suavemente pelas frestas das cortinas. Ela se espreguiçou na cama, sentindo o peso agradável dos lençóis sobre sua pele, e foi então que ouviu o som do chuveiro ligado. Virou-se na cama e observou o banheiro, cuja porta estava entreaberta. De lá, saía uma leve névoa, acompanhada do som constante da água.Clara se levantou devagar, tentando fazer o mínimo de barulho possível. Ela deu alguns passos até a porta do banheiro e parou, espiando para dentro. Foi então que a viu.


Luísa estava saindo do banho, ainda molhada, com uma toalha enrolada de forma frouxa ao redor do corpo. Os cabelos dela pingavam, formando pequenas poças d'água no chão. Quando Luísa a viu, um sorriso surgiu em seu rosto, e ela levantou uma sobrancelha, divertida.


- Bom dia, doutora - disse Luísa, com a voz rouca de quem acabara de acordar.


Clara sorriu de volta, sentindo uma mistura de timidez e desejo ao ver a bombeira daquela forma, tão despreocupada e natural.


- Bom dia... Parece que alguém acordou cedo...


Luísa deu de ombros, aproximando-se da porta do banheiro enquanto secava os cabelos com a toalha.


- Turno de manhã cedo. Tem dias que mal consigo dormir, então estou acostumada a acordar antes do despertador.


Clara observou cada movimento de Luísa enquanto ela se preparava para sair. Aquele breve momento de intimidade era novo, mas estranhamente confortável. Clara sentia que estava começando a conhecer uma nova faceta de Luísa, aquela que existia fora do uniforme de bombeira e dos gestos heroicos.


- Vou deixar o café na mesa para você - disse Luísa, já se encaminhando para o quarto para se vestir. - Não sou uma cozinheira incrível, mas acho que consigo fazer um café decente.


Clara riu suavemente, ainda encostada na porta.


- Café é tudo o que eu preciso. E depois, um banho.


Luísa se vestiu rapidamente, escolhendo um uniforme limpo e já colocando as botas. Ela se aproximou de Clara, que ainda estava na porta do banheiro, e lhe deu um beijo rápido nos lábios, um gesto quase natural agora.


- Tenho que ir. Não quero me atrasar, mas... ontem à noite foi... - Luísa hesitou, buscando as palavras certas. - Bom, você sabe.


Clara sorriu, sentindo o rosto corar ligeiramente.


- Eu sei. Ontem foi... intenso.


Luísa sorriu de volta, inclinando-se para mais um beijo rápido.


- A gente se fala mais tarde, tá? Fica à vontade.


Clara assentiu, observando Luísa sair pela porta com o som das botas ecoando pelo corredor. Quando o silêncio voltou à casa, ela suspirou e se dirigiu ao banheiro, onde tomou um banho demorado. A água quente relaxou seus músculos e limpou os vestígios da noite anterior, mas as memórias ainda estavam frescas.


Depois de se vestir, Clara foi até a cozinha e encontrou o café que Luísa havia deixado. Simples, mas feito com cuidado, ele estava ali, esperando por ela. Clara sorriu para si mesma enquanto tomava um gole, sentindo o sabor forte e reconfortante que a preparava para enfrentar o dia.


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O dia de Clara no hospital passou em um misto de concentração e pensamentos dispersos. As memórias da noite anterior insistiam em invadir sua mente enquanto atendia pacientes e conversava com os colegas. Às vezes, ela se pegava sorrindo sozinha, revivendo pequenos momentos da madrugada.Porém, à medida que o dia avançava, a rotina do hospital a absorvia novamente. Clara gostava de seu trabalho, da forma como ele a envolvia e exigia sua total atenção. No final do expediente, ela se permitiu um último pensamento sobre Luísa antes de sair do hospital.Ela sabia que algo havia mudado entre elas, mas também sabia que havia muito ainda a descobrir.

À Prova de Fogo ( ROMANCE LESBICO )Onde histórias criam vida. Descubra agora