A capela estava envolta em uma penumbra reverente, onde o ar parecia pesado demais para ser respirado.
A luz fraca das velas mal iluminava os cantos do lugar, deixando sombras longas e escuras que pareciam sussurrar segredos de eras passadas.
O banco em que Catheryne estava sentada, embora almofadado, parecia um campo de espinhos sob seu corpo tenso.
Ela não conseguia desviar os olhos das duas figuras imponentes à sua frente.
Donnovan, o cardeal, com suas vestes brancas que destacavam ainda mais o brilho frio em seus olhos, observava-a com uma intensidade quase cruel. Ao lado dele, Claude, mantinha uma postura firme e impenetrável, seus olhos azuis eram como dois mares que a afogaram silenciosamente em um julgamento mudo.
A presença deles era esmagadora, como duas montanhas que ameaçavam desabar sobre ela a qualquer momento.
Catheryne, com suas pequenas pernas balançando no ar, sentia-se fragilizada, perdida e assustada.
O desconforto a dominava, e o peso da revelação que havia recebido anteriormente ainda a sufocava.
Aquela conversa repentina que à deixa inquieta mas calma, havia se transformado em um tribunal silencioso onde sua própria existência estava sendo julgada.
Ela encontrou um pequeno consolo em Félix, que se mantinha próximo como uma sentinela. De vez em quando, ele lançava-lhe um olhar gentil, seus lábios esboçando um leve sorriso que parecia dizer: "Estou aqui, você não está sozinha." Mas nem mesmo o calor daquele sorriso poderia afastar a frieza que se instalava em seu coração.
As palavras do cardeal, tão impiedosas quanto precisas, continuavam a ecoar em sua mente. "Transcendental", "destruição", "origens".
Termos que antes não faziam sentido agora pesavam como correntes de ferro em sua alma.
A cidade que ela havia destruído... sozinha. O conceito era inimaginável, mas as provas eram inegáveis.
Ela não era mais a garota inocente e desconhecida; ela era uma força incontrolável, um monstro, como os contos mais aterrorizantes de seus livros.
O pânico crescia dentro dela, e sua respiração começou a acelerar.
O ar parecia faltar, suas mãos tremiam enquanto tentava agarrar qualquer resquício de controle.
Sua visão começou a se desfocar, e tudo ao seu redor parecia se afastar, tornando-se um borrão indistinto de luzes e sombras. Ela podia sentir seu coração batendo violentamente contra suas costelas, e cada respiração parecia uma luta impossível.
Foi então que Félix se aproximou, rompendo a barreira de silêncio entre eles.
Em suas mãos, ele segurava um pequeno copo de água com açúcar.
Seus dedos ligeiramente calejados seguravam o copo com uma delicadeza que contrastava com sua postura imponente.
Ele estendeu o copo para Catheryne, seu olhar gentil e compreensivo.
- Beba. - Disse ele, sua voz suave como o murmúrio de um riacho.
Ela aceitou o copo com mãos trêmulas, sentindo o calor do líquido acalmar sua garganta seca.
Cada gole parecia trazer um pouco de vida de volta ao seu corpo, dissipando a névoa de terror que a envolvia.
Embora o peso da culpa e da verdade ainda estivesse ali, implacável, o simples gesto de Félix lhe deu forças para continuar.
Mesmo assim...
Seus olhos se voltaram contra ela.
As lágrimas rolavam silenciosamente pelo rosto de Catheryne, cada gota refletindo a pureza de sua alma confusa e assustada.
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𝚃𝚑𝚎 𝙾𝚖𝚗𝚒𝚙𝚘𝚝𝚎𝚗𝚝 𝙿𝚛𝚒𝚗𝚌𝚎𝚜𝚜 𝚁𝚒𝚜𝚎𝚜 𝙰𝚐𝚊𝚒𝚗
Fanfiction❁𝙒𝙝𝙤 𝙈𝙖𝙙𝙚 𝙈𝙚 𝘼 𝙋𝙧𝙞𝙣𝙘𝙚𝙨𝙨❁ Catheryne, uma garotinha albina criada no orfanato "Casa da Lareira" por Tália, a única que a tratava com gentileza. Quando descoberta como uma transcendental, ela foi levada até o imperador Claude de Alge...