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‎A tempestade caía sobre o campo aberto, o céu coberto por um manto cinzento, e o vento frio cortava como peqenas lâminas invisíveis.

As folhas das árvores balançavam furiosamente, e as poças de ama se espalhavam pelo solo, refletindo a luz trêmula dos relâmpagos distantes.

‎Talia corria sem hesitar, segurando firme o cabo do guarda-chuva enquanto tentava proteger a si mesma e ao pequeno pedaço de pano que levava dobrado em um dos braços.

Seus sapatos afundavam na lama, e sua saia já estava manchada de terra molhada, mas nada disso importava.

‎Ela havia procurado pela menina por quase uma hora.

‎- Catheryne!

‎A voz dela ecoou, misturada ao som da chuva pesada.

‎E então, finalmente, seus olhos pousaram sobre a figura encolhida sob uma grande árvore, distante do portão da propriedade.

‎A garotinha estava abraçada aos próprios joelhos, o corpinho tremendo de frio.

Seus longos cabelos esbranquiçados estavam molhados e grudavam na pele pálida, enquanto pequenas lágrimas corriam por seu rosto avermelhado.

‎Talia correu até ela sem hesitar, ajoelhando-se rapidamente na lama, pouco se importando com a sujeira.

Com um único movimento, ela envolveu Catheryne no pano grosso que trouxera, puxando-a contra seu peito, sentindo o quentinho do corpinho febril da menina.

‎- Você está doente! Não deveria ter saído assim! - Repreendeu-a, a preocupação evidente em sua voz.

‎Ela tentou puxá-la pela mão para que se levantasse, mas a pequena fez força para permanecer no mesmo lugar.

‎- Ryne? - Talia chamou suavemente, observando o rosto abatido da menina.

‎O silêncio entre elas foi preenchido apenas pelo som das gotículas de chuva batendo contra o guarda-chuva.

‎Foi então que Talia percebeu.

‎Havia lágrimas grossas se acumulando nos olhos da garotinha.

Seu rosto já estava úmido, não apenas pela chuva, mas pelo choro silencioso que ela tentava conter.

‎Talvez fosse a febre.

‎Talvez fosse algo pior.

‎Talia sentiu o coração apertar ao ver a criança soluçando baixinho.

‎- Meu amor, o que houve? - Sua voz suavizou, e ela se abaixou ainda mais, sentindo a lama fria sujar as dobras de sua saia.

‎Catheryne fungou, tentando usar as mangas do conjuntinho azul para secar os olhos, mas apenas manchou o tecido com sujeira e lágrimas.

‎- Eu não quero... - Ela começou, a voz embargada. - Eles continuam me maltratando... Hic* eu...

‎Talia piscou algumas vezes, sentindo um peso se instalar em seu peito.

‎- Eles? Maltratando...? - Ela desviou o olhar por alguns segundos, suas sobrancelhas franzidas em preocupação.

‎Ela não precisou perguntar de novo.

‎Catheryne fungou mais forte e escondeu o rosto contra o pano que Talia usava para cobri-la.

‎- Eles pegaram o Sr. Cenoura! - Ela choramingou. - E ainda me chamaram de monstro... banshee...

‎Talia congelou por um momento.

‎Sr. Cenoura era um coelhinho de pelúcia gasto, mas era o brinquedo favorito de Catheryne. Ela o carregava para todos os lugares, segurando-o como se fosse um verdadeiro amigo.

‎E aqueles três pestinhas tiveram a ousadia de tirar isso dela.

‎A criada cerrou os dentes, sentindo um gosto amargo na boca.

‎Ela já sabia que algumas crianças da propriedade tinham preconceito com Catheryne. O albinismo era algo raro, e para aqueles que não entendiam, era fácil associá-lo a algo demoníaco.

‎Talia sentiu um calor de raiva crescer dentro de si.

‎"Eu preciso dar uma lição nessas crianças."

‎Se ninguém ali sabia educá-los direito, então ela mesma o faria.

‎Ela se levantou com determinação, ajeitando o pano sobre a cabecinha de Catheryne antes de segurá-la nos braços.

‎A garotinha imediatamente se agarrou ao seu pescoço, rodeando as perninhas pequenas ao redor da cintura de Talia, como uma preguiça se agarrando a um tronco de árvore.

‎- Vamos ter uma conversa séria com eles. - Talia disse com firmeza, começando a caminhar de volta para dentro da casa. - E eles vão devolver o Sr. Cenoura.

‎Catheryne fungou baixinho, sua respiração quente e trêmula contra o pescoço de Talia.

‎O caminho de volta foi lento, a chuva ainda caindo em ondas, mas Talia ignorou completamente o frio.

‎Ela tinha um objetivo agora.

‎E três pestinhas iam aprender, de uma vez por todas, que ninguém tocava em Catheryne impunemente.

𝚃𝚑𝚎 𝙾𝚖𝚗𝚒𝚙𝚘𝚝𝚎𝚗𝚝 𝙿𝚛𝚒𝚗𝚌𝚎𝚜𝚜 𝚁𝚒𝚜𝚎𝚜 𝙰𝚐𝚊𝚒𝚗Onde histórias criam vida. Descubra agora