⏳Extra⏳

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Catheryne não conseguia dormir.

A escuridão de seu quarto, que deveria oferecer-lhe algum consolo, apenas amplificava o vazio em seu peito.

A cada tentativa de fechar os olhos, a angústia crescia, como se o próprio ar ao seu redor estivesse saturado de medos e incertezas.

A cama, que parecia ter sido desenhada para o conforto de uma princesa, era agora um campo de batalha silencioso.

O lençol de seda roçava sua pele, mas em vez de acalmar, parecia sufocá-la com seu toque macio.

Ela se mexia, mudava de lado, virava o travesseiro, mas nada a ajudava.

O sono, um aliado distante, recusava-se a visitá-la.

Seus pensamentos giravam em torno do ritual.

A ideia das sensações desconhecidas que enfrentaria no dia fatídico a consumia.

Não era apenas o medo do desconhecido, mas a certeza de que algo dentro dela seria alterado para sempre.

A água fria que cobriria seu corpo, a mana sendo fundida a ela, os artefatos... Eram imagens vívidas que assombravam sua mente.

E cada uma delas trazia um frio intenso, uma espécie de antecipação que congelava seu estômago, fazendo-o revirar.

O apetite já a havia abandonado há dias, e, de certa forma, isso parecia alegrar Pompidou, sempre tão rigorosa e atenta à sua postura.

Ela havia até comentado sobre como sua aparência estava mais digna, mais condizente com o que se esperava de uma futura herdeira de Obelia.

Mas Catheryne não via dignidade em sua palidez crescente, em sua fraqueza que a fazia vacilar ao caminhar pelos corredores.

Sentia-se como uma sombra de si mesma, alguém que estava lentamente se apagando.

Era como se, a cada refeição que rejeitava, a cada noite de insônia, uma parte de sua essência fosse se perdendo, desintegrando-se antes mesmo de ser selada.

Apenas 8 anos...

Ela fechava os olhos, tentando se forçar a dormir, mas a mente era incansável, correndo para lugares sombrios, lugares de onde não conseguia escapar.

Imaginava a água cobrindo-a, o peso dela sobre seu corpo frágil. Imaginava o frio da fonte, a sensação da mana atravessando seu ser, moldando algo que não poderia ser desfeito.

A ideia de perder o controle sobre si mesma, de ser modificada por forças que ela mal compreendia, a aterrorizava.

Ela não queria isso.

Não queria deitar-se naquela fonte, não queria sentir a mana do imperador em seu corpo.

Não queria ser selada.

Não queria.

Mas... o medo de desobedecer era ainda maior.

Sabia, em algum lugar profundo de seu ser, que o preço da rebeldia seria ainda mais cruel.

Se não obedecesse, o que lhe aconteceria? Seria rejeitada? Abandonada? Ou pior... punida?

Até agora, ela tinha mantido a cabeça baixa, sem nunca questionar.

Seguia os mandamentos, calada, silenciosa, cumprindo o papel que lhe foi imposto.

Mas, a cada passo que dava nesse caminho, sentia-se mais e mais distante de quem era — ou de quem um dia esperava ser.

E agora, ali, sozinha em seu quarto, com as cortinas fechadas e o luar bloqueado, o peso dessa obediência a esmagava.

As lágrimas começaram a descer de seus olhos antes mesmo que ela percebesse.

Primeiro, eram pequenas, silenciosas, como um sussurro de tristeza que não ousava se revelar.

Mas, com o tempo, se tornaram mais intensas, uma cascata de desespero que desaguava em sua mão.

O gosto salgado das lágrimas escorria em seus lábios, pingando de seu queixo em suas mãos trêmulas.

Era um tipo de dor que ela não sabia como expressar, uma dor que não tinha palavras.

Ela se encolheu, puxando as cobertas ao redor de si como se fossem uma armadura contra o mundo.

Seu corpo se dobrava em posição fetal, como se quisesse desaparecer, voltar a um estado onde pudesse se esconder de tudo.

Suas mãos, tão pequenas e delicadas, apertavam seu peito, buscando algum tipo de conforto em meio ao caos interno.

Cada batida de seu coração parecia ecoar em sua cabeça, forte, descompassada, como se seu corpo estivesse gritando por ajuda, mas não houvesse ninguém para ouvi-la.

O silêncio ao seu redor só tornava tudo mais difícil.

Não havia vozes para distraí-la, nem sons para confortá-la.

Apenas o vazio, o mesmo vazio que sentia crescer dentro de si.

As paredes de seu quarto, antes acolhedoras, agora pareciam se fechar, como se quisessem engoli-la.

A respiração de Catheryne tornou-se irregular, entrecortada pelos soluços silenciosos que sacudiam seu corpo frágil.

Sentia-se tão pequena, tão impotente diante de tudo.

Por que ela? Por que tinha que passar por aquilo? Por que não poderia ser apenas uma garota normal, livre para escolher seu próprio destino?

Mas, no fundo, sabia que essas perguntas não tinham resposta.

Sabia que seu destino havia sido selado no momento em que nasceu, e que não importava o quanto ela chorasse ou implorasse, não havia como escapar.

Porque ela era uma transcendental

E isso, talvez, fosse a pior parte.

Capítulo revisado

É uma parte que eu esqueci de por no capítulo 10.

𝚃𝚑𝚎 𝙾𝚖𝚗𝚒𝚙𝚘𝚝𝚎𝚗𝚝 𝙿𝚛𝚒𝚗𝚌𝚎𝚜𝚜 𝚁𝚒𝚜𝚎𝚜 𝙰𝚐𝚊𝚒𝚗Onde histórias criam vida. Descubra agora