O mês de dezembro passou como um borrão para a albina.
O tempo parecia correr enquanto sua vida se transformava em um turbilhão de tarefas e exigências.
Nesse meio tempo, sua caligrafia havia dado um salto significativo. Se antes mal sabia segurar um lápis, agora suas letras eram legíveis, perfeitas e aceitáveis, como o professor costumava dizer, embora sempre com um olhar de descontentamento. Havia uma expectativa constante de que ela fizesse mais, melhor e mais rápido.
As lições de etiqueta também estavam progredindo, mas ela ainda não conseguia aplicá-las com naturalidade. Cada movimento, cada gesto ensaiado, parecia artificial e forçado, como se ela estivesse apenas imitando o que lhe era ensinado, sem entender completamente o significado por trás de cada regra.
Com o passar dos dias, o tempo parecia ficar mais apertado. Seu horário diário agora estava repleto de encontros com o imperador, aulas de ciências humanas, ciências da natureza, e uma infinidade de outras disciplinas. As lições de etiqueta e política eram as mais desafiadoras, e sua única paz estava no sono, que, para sua tristeza, não durava muito. As noites, embora curtas, eram o único refúgio de uma rotina opressiva que a deixava exausta.
De vez em quando, Catheryne via o guarda ruivo, Félix, conversando com o imperador.
Ele parecia sempre preocupado com a saúde mental dela, temendo que uma criança tão jovem, de apenas 8 anos, pudesse desestabilizar-se sob tamanha pressão.
Sua preocupação era visível, mas a resposta dos adultos era sempre a mesma. Para eles, ela estava muito atrasada em sua educação para alguém destinada a herdar o trono.
Era como se não houvesse espaço para compreensão ou empatia. Tudo o que importava era que ela se ajustasse às expectativas da coroa, independentemente do impacto que isso tivesse em sua vida.
E lá estava ela, ao lado de Donnovan Kiel, o homem que havia requisitado uma audiência com ela, como se isso fosse algo tão simples e cotidiano.
Para Catheryne, nada ali parecia comum. O peso da formalidade ainda a sufocava.
Ele a recebeu de forma amistosa, com aquele sorriso habitual que sempre parecia um pouco falso, forçado.
Aquele abraço caloroso que ele lhe ofereceu a fez congelar por dentro. Ela não estava acostumada com esse tipo de contato, e tudo nela parecia gritar para recuar. Mas ela sabia que não podia. Com um olhar desconcertado e sem muita reação, permitiu-se ser envolvida naquele gesto, rígida como uma boneca de porcelana, antes de seguirem juntos para dentro da igreja.
O clima, embora agradável para a maioria, já começava a lhe causar apreensão.
Ela sabia que logo a primavera chegaria, e com ela o sol ficaria mais forte.
Não era sua estação favorita. Lembrava-se de como sua pele alva começava a queimar sob a luz intensa.
Seu albinismo severo a tornava vulnerável, quase frágil demais, e o calor do sol era mais um inimigo que ela tinha que enfrentar. Talia, a única que parecia se importar verdadeiramente com sua condição no orfanato, sempre a cobria com várias camadas de roupas para protegê-la.
Agora, Talia não estava mais ali.
E naquele dia em particular, o cardeal havia lhe dado um grande chapéu.
A aba era tão larga que cobria quase metade de seu rosto, projetando uma sombra reconfortante. Mesmo assim, o desconforto persistia.
Havia algo opressor em toda aquela formalidade, em como ela era conduzida de um lado para o outro, sem voz ou opinião, apenas uma figura decorativa.
VOCÊ ESTÁ LENDO
𝚃𝚑𝚎 𝙾𝚖𝚗𝚒𝚙𝚘𝚝𝚎𝚗𝚝 𝙿𝚛𝚒𝚗𝚌𝚎𝚜𝚜 𝚁𝚒𝚜𝚎𝚜 𝙰𝚐𝚊𝚒𝚗
Fiksi Penggemar❁𝙒𝙝𝙤 𝙈𝙖𝙙𝙚 𝙈𝙚 𝘼 𝙋𝙧𝙞𝙣𝙘𝙚𝙨𝙨❁ Catheryne, uma garotinha albina criada no orfanato "Casa da Lareira" por Tália, a única que a tratava com gentileza. Quando descoberta como uma transcendental, ela foi levada até o imperador Claude de Alge...