9:36 da noite
Aniversário da princesa Catheryne.
Por onde passava, as pessoas sorriam e inclinavam a cabeça em cumprimento.
Catheryne respondia com acenos discretos, mantendo a postura impecável que fora treinada para demonstrar em público.
Não era difícil perceber que muitos olhares recaíam sobre ela, avaliando-a, julgando cada detalhe - do modo como caminhava ao menor gesto de sua mão.
Não era um evento oficial da corte, mas mesmo assim, ela sabia que estava sendo observada como uma representante do império.
Claude decidira que ela faria essa viagem sozinha.
Uma decisão que, para Catheryne, parecia menos uma estratégia e mais uma desculpa para mantê-la à mercê da igreja e ele poder ficar longe das multidões que ele tanto desprezava.
Era frustrante.
Ela sabia que Claude era um antissocial nato, mas deixá-la sozinha em um evento como aquele?
Ainda mais em seu aniversário?
A missa e a recepção estavam sendo realizadas na igreja, em uma ocasião que poderia fortalecer os laços com a nobreza e até mesmo com o clero.
Mas, para Claude, aquilo parecia apenas mais uma formalidade irrelevante.
Catheryne pegou um prato com alguns aperitivos e se dirigiu a uma mesa vazia, tentando ignorar os olhares curiosos que sentia queimando sua pele.
Sentou-se com desconforto, ajustando as dobras do vestido enquanto começava a comer apressadamente, na tentativa de evitar prolongar o momento.
- Alteza.
Ela quase saltou da cadeira ao ouvir a voz grave atrás de si.
Virando-se, encontrou Donnovan, parado ao seu lado.
Ele apoiou uma das mãos no encosto de sua cadeira, inclinando-se levemente para observá-la de cima.
- Posso me sentar aqui? - perguntou, com um sorriso educado que não disfarçava completamente a intensidade de seu olhar.
Catheryne assentiu rapidamente, o nervosismo evidente em sua expressão.
A presença de Donnovan sempre a fazia sentir-se desconfortável, como uma criança sendo avaliada por um tutor exigente.
Ele puxou a cadeira e se sentou à sua frente, cruzando as mãos sobre a mesa.
- O que achou da missa? - perguntou, a voz carregada de formalidade, mas com um tom que indicava curiosidade genuína.
Catheryne engoliu o último pedaço de frango antes de responder, tentando manter o tom firme.
- Foi um momento memorável.
Donnovan sorriu, mas o sorriso logo deu lugar a um suspiro longo e pensativo.
- Creio que devemos cortar os diálogos triviais, alteza. - começou ele, com uma mudança repentina no tom. - Quando vossa majestade pretende anunciar ao mundo sobre seus poderes?
Catheryne sentiu a garganta se apertar.
A pergunta a pegou de surpresa, quase fazendo-a engasgar.
Ela depositou o garfo no prato e limpou a boca com o guardanapo antes de responder.
- Ele não me informou sobre o assunto. Parece não querer expor nada que amedronte o povo.
Donnovan inclinou a cabeça levemente, como se estudasse sua resposta.
- Bom, mas as pessoas ainda parecem possuir dúvidas a respeito de vossa coroação. - continuou ele, a voz baixa, quase como se temesse ser ouvido. - Já fazem quatro anos, e muitos ainda se perguntam por que ele escolheria uma garota que simplesmente surgiu...
Catheryne desviou o olhar, o comentário trazendo de volta lembranças desconfortáveis de sua cerimônia de coroação.
Um pequeno evento, organizado apressadamente por Claude, mais para evitar perguntas futuras do que para realmente celebrá-la como parte da realeza.
Naquele dia, ela se tornara oficialmente princesa, mas a reação do povo foi tudo menos acolhedora.
"Quem era ela?"
"O que ela tem de tão especial?"
"Ele já não possuía uma herdeira?"
Ela sabia que, no fundo, Claude a via como uma conveniência.
Uma desculpa para lidar com questões dinásticas enquanto evitava o tema de um sucessor real.
Não havia planos para casá-la, muito menos para colocá-la no trono.
Ela era uma transcendental de Yggdrasil, um título poderoso, mas que, para Claude, parecia ser apenas uma ferramenta conveniente que ele descidiu esconder.
- Eu não ouvi muito das palavras dele. - disse ela finalmente, pegando a colher e enchendo-a de alimento antes de levá-la à boca.
Donnovan observou-a em silêncio por um momento antes de prosseguir, sua voz séria.
- Seria bom se ele tomasse medidas. Durante quatro anos, a senhorita esteve no ciclo social como um tema central. Está na hora de acabar com isso e dar ao povo um novo tema.
Catheryne franziu o cenho, desconfiada.
- Um novo tema?
Donnovan sorriu levemente, mas seu olhar permaneceu intenso.
- Sim. Temos uma herdeira, não um homem forte e habilidoso mas uma frágil garota. A senhorita não tem mana, mas tem inteligência e aprende rápido... - Ele pausou, olhando para o grande lustre acima deles. - O imperador não pretende noivá-la com ninguém. Nessas horas, um rapaz promissor poderia servir como protetor do império.
Catheryne estreitou os olhos, as palavras dele ressoando em sua mente.
- O que quer dizer?
O sorriso de Donnovan se alargou.
- Quero dizer que está na hora de o mundo saber que Obelia possui uma transcendental, uma filha de Yggdrasil. Mostre aos nossos inimigos que a senhorita é o bastante. Mostre que Obelia possui uma arma.
Ele se inclinou para frente, os olhos brilhando com intensidade.
Catheryne sentiu o ar ao seu redor ficar mais pesado.
- Você quer que eu fale com ele sobre isso? Quer que as pessoas, além de uma parte da nobreza...
Ela não terminou a frase, interrompida pela voz firme de Donnovan.
- E alguns funcionários do palácio... Saibam sobre. - Ele completou, suspirando.
Catheryne abaixou o olhar, sentindo o peso das palavras dele.
Donnovan relaxou levemente na cadeira, cruzando os braços.
- Sabe, alteza, um dia meu pai me disse algo que nunca esqueci. - disse ele, sua voz mais baixa. Catheryne ergueu os olhos, curiosa.
- O que ele disse?
Donnovan hesitou, o olhar perdido em memórias.
Ele estalou a língua antes de balançar a cabeça.
- Não é nada.
- O que? - insistiu ela, inclinando-se ligeiramente.
- Nada, alteza. Apenas esqueça. - Catheryne permaneceu em silêncio, mas o desconforto crescia em seu peito. - Um dia eu irei te contar. Você ainda é muito nova para entender.
Donnovan sorriu gentilmente, mas sua expressão carregava algo que ela não conseguia decifrar.
Algo que a fazia sentir-se pequena.
❌ Capítulo Revisado ❌
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𝚃𝚑𝚎 𝙾𝚖𝚗𝚒𝚙𝚘𝚝𝚎𝚗𝚝 𝙿𝚛𝚒𝚗𝚌𝚎𝚜𝚜 𝚁𝚒𝚜𝚎𝚜 𝙰𝚐𝚊𝚒𝚗
FanfictionCatheryne, uma garotinha albina, cresceu no orfanato Casa da Lareira, onde apenas Tália a tratava com gentileza. Descoberta como uma transcendental, foi levada para a presença do imperador Claude de Alger Obelia, tornando-se a segunda princesa do im...
