⌛1.12⌛

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A tarde havia desaparecido como areia escoando entre os dedos, tão rapidamente que Catheryne quase não percebera o quanto o tempo avançara.

A caneta em sua mão, antes cheia de tinta, agora arranhava o papel em um esforço quase inútil, os últimos resquícios de tinta falhando em dar forma a seus pensamentos.

Os papéis que se espalhavam pelo quarto estavam em um caos que apenas ela compreendia.

Gráficos, anotações, rabiscos indecifráveis para qualquer outra pessoa, mas para ela, eles contavam uma história complexa e detalhada de suas ideias.

Ela queria concluir tudo naquela noite.

Não, ela precisava concluir.

Sua obsessão pelo projeto a consumia.

Se pudesse finalizar o esboço, o restante do tempo poderia ser dedicado a polir cada detalhe, a aprimorar cada falha minúscula até alcançar o nível de excelência que ela exigia de si mesma.

Seus dedos tremiam, os nós marcados em vermelho, fruto da força com que segurava a caneta.

A pressão que ela colocava sobre si mesma era quase palpável, e o ambiente ao redor refletia seu estado mental.

As tesouras estavam largadas no chão, espalhadas junto a pincéis e recipientes de tinta, alguns ainda pingando lentamente e manchando o chão claro com suas cores escuras.

O contraste entre a tinta e o piso imaculado era gritante, quase violento, mas Catheryne não se importava.

Sua atenção estava completamente voltada para o papel à sua frente e a necessidade urgente de finalizar cada detalhe.

A única luz no quarto vinha da vela ao lado da mesa, cuja chama fraca lançava sombras trêmulas nas paredes.

O ambiente era banhado por uma tonalidade alaranjada e quente, que deveria ser aconchegante, mas que para ela parecia apenas aumentar a pressão que sentia.

Ela não teria parado se Covet, não tivesse entrado em seu quarto tarde da noite, praticamente arrastando-a para a cama.

Mesmo na indiferença com que sempre agia, Covet conseguira impedi-la de continuar trabalhando até a exaustão total.

Relutante, Catheryne deixou-se ser guiada, seus olhos ainda presos aos papéis espalhados, até que o sono a dominou.

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Quando acordou, a sensação inicial foi de pânico.

O sol estava alto, seus raios mornos formigando contra seu rosto, fazendo-a estremecer.

Ela se levantou com um sobressalto, o coração disparado no peito.

Estava atrasada!

O horário habitual de despertar já tinha passado, e ninguém havia vindo chamá-la.

Ela se virou rapidamente para a bagunça ao redor, constatando que ninguém havia entrado no quarto.

Seu coração ainda martelava no peito enquanto ela se apressava a pegar os papéis espalhados, dobrando-os em pergaminhos com movimentos rápidos e precisos.

Cada objeto foi recolocado em seu devido lugar na mesa, de maneira quase obsessiva.

A simetria perfeita era algo que a tranquilizava.

Ver tudo no lugar certo, cada caneta, cada folha, cada frasco, dava-lhe uma sensação de controle.

Controle.

𝚃𝚑𝚎 𝙾𝚖𝚗𝚒𝚙𝚘𝚝𝚎𝚗𝚝 𝙿𝚛𝚒𝚗𝚌𝚎𝚜𝚜 𝚁𝚒𝚜𝚎𝚜 𝙰𝚐𝚊𝚒𝚗Onde histórias criam vida. Descubra agora