Era uma tarde ensolarada de sexta-feira, e os corredores da escola estavam cheios de vozes animadas e passos apressados. Satoru Gojo, o garoto mais popular da escola, com seus cabelos brancos como a neve e óculos extravagantes, estava se preparando para sair da escola. Ao seu lado, caminhava Suguru Geto, um garoto de cabelos negros e expressão tranquila, um tanto introspectivo e que vivia à margem dos outros alunos. A amizade dos dois sempre causava estranhamento entre os colegas. Gojo, com seu carisma e status de garoto rico, e Geto, sempre quieto e vindo de uma família humilde. Era uma amizade inesperada e, para muitos, inexplicável.
Os outros alunos, sempre curiosos, não entendiam. “Por que Satoru Gojo, o menino que todos queriam ao lado, escolhia justamente Geto, o mais excluído?” Os sussurros nos corredores eram inevitáveis, mas Satoru, como sempre, parecia não se importar. Ele continuava seu caminho até a casa de Suguru, ignorando os comentários, como se estivesse alheio a tudo.
- Você tem certeza que quer ir lá em casa? - Geto perguntou, enquanto eles caminhavam pela rua de paralelepípedos que levava ao bairro mais simples da cidade - Minha casa não tem nada demais, e... Bom, é pequena.
Gojo sorriu, despreocupado - É claro! Eu não preciso de uma mansão para me divertir, Geto... A gente se diverte com o que temos, não é?
Suguru assentiu, ainda um pouco desconfiado. Ele sempre se perguntava por que Satoru, de todas as pessoas, tinha escolhido ser seu amigo. Mas mesmo assim, gostava da companhia de Gojo. O garoto trazia uma luz e uma alegria que Suguru raramente encontrava em sua vida.
Chegando à casa de Geto, eles foram recebidos pela mãe de Suguru, uma mulher de aparência cansada, mas com um sorriso caloroso - Boa tarde, meninos. Entrem, vou preparar uns biscoitos para vocês enquanto brincam.
- Biscoitos caseiros? - Gojo exclamou com os olhos brilhando - Eu mal posso esperar!
Suguru riu da empolgação do amigo - Vamos subir pro meu quarto. Tenho alguns brinquedos, mas acho que com a nossa imaginação a gente pode criar qualquer coisa.
No quarto de Geto, os dois meninos rapidamente começaram a inventar mundos. Com poucos brinquedos à disposição, criaram batalhas épicas e aventuras fantásticas. O quarto pequeno de Suguru se transformou em um reino de possibilidades infinitas, onde os dois eram reis, heróis e aventureiros.
Depois de um tempo, a mãe de Geto os chamou para comer os biscoitos. Eles desceram as escadas correndo, e Gojo pegou um dos biscoitos quentinhos com entusiasmo. Quando deu a primeira mordida, seus olhos brilharam de surpresa e prazer.
- Uau, isso é incrível! - Gojo disse, mastigando com satisfação - Sua mãe faz os melhores biscoitos do mundo!
Geto riu e pegou um também, mas não resistiu a uma pergunta que estava preso na sua cabeça - A sua mãe não faz biscoitos pra você, Gojo?
Gojo fez uma pausa, o sorriso se esvaindo por um instante. Ele colocou o biscoito de lado, um pouco pensativo - Não... quase nunca vejo minha mãe. Nem meu pai, pra falar a verdade. Eles estão sempre ocupados com trabalho, viagens... essas coisas.
Suguru observou o rosto do amigo, notando uma leve tristeza em seus olhos - Ah, entendi... - Falou Geto, sem saber muito bem o que dizer.
Mas então, como se quisesse afastar o peso daquele momento, Satoru sorriu de repente, aquele sorriso radiante que sempre fazia - Mas tudo bem! Pelo menos eu tenho você, Geto!
Suguru ficou em silêncio por um instante, sentindo o coração acelerar um pouco. Gojo era tão diferente de todos os outros. Ele sempre dizia as coisas de um jeito tão simples, tão honesto. E aquilo sempre o deixava sem palavras.
Criando coragem, Geto perguntou algo que vinha remoendo há muito tempo - Por que... Por que você quis ser meu amigo, Satoru? De todas as pessoas, por que eu?
Gojo, sem perder o sorriso, deu uma mordida em outro biscoito e respondeu como se fosse a coisa mais óbvia do mundo - Porque você gosta de mim pelo que eu sou, não porque eu sou rico ou popular. Quando cheguei na escola, todo mundo queria ser meu amigo só por causa disso. Mas você... Você foi o único que não veio atrás de mim. Isso me deixou curioso.
Suguru sorriu timidamente, sentindo uma sensação quente no peito. Satoru não era como os outros. Ele via além das aparências, além do status, e isso fazia toda a diferença.
Os dois trocaram um olhar sincero e, sem pensar muito, se envolveram em um abraço apertado. Era um abraço cheio de gratidão, de companheirismo e, acima de tudo, de amizade verdadeira.
Mais tarde, quando o sol já começava a se pôr, uma limusine parou em frente à casa de Geto. Era hora de Gojo voltar para casa. O motorista da família rica esperava pacientemente, mas Satoru, como uma criança teimosa, começou a sapatear e reclamar.
- Eu não quero ir embora! Eu quero ficar mais tempo com você! - Gojo exclamou, cruzando os braços e fazendo uma careta.
Suguru riu da reação exagerada do amigo - Calma, Satoru. Segunda-feira a gente se vê de novo. Não é tão longe.
Gojo fez um bico emburrado - Mas dois dias parecem uma eternidade sem você!
A mãe de Suguru, que observava a cena com um sorriso, se aproximou e tocou o ombro de Gojo com delicadeza - Se quiser, Satoru, amanhã eu vou levar Suguru ao parque. Você pode vir com a gente, se quiser.
Os olhos de Gojo se iluminaram instantaneamente - Sério?! Eu adoraria! - Ele deu um último abraço apertado em Geto antes de finalmente entrar na limusine.
Enquanto o carro se afastava, Satoru olhou pela janela, acenando para Suguru, mas, no fundo, um pensamento o incomodava. Ele sabia que, ao chegar em casa, ninguém estaria esperando por ele. A mansão imensa seria fria e vazia, como sempre. Mas, ao pensar no dia seguinte, seu coração se encheu de alegria. Ele não passaria o fim de semana sozinho, afinal. Teria Geto ao seu lado, e isso era tudo o que importava.