O orfanato sempre era um lugar de misturas de sentimentos para Gojo e Geto. Nos últimos meses, os dois faziam visitas regulares com a intenção de adotar quatro crianças que haviam conquistado seus corações. Toda semana, eles estavam lá, interagindo, brincando e cuidando dos pequenos, com o desejo de um dia torná-los parte oficial de sua família.Naquela tarde, o sol entrava timidamente pelas janelas do orfanato. O cheiro de bolos assados pela diretora preenchia o ar, dando àquele lugar simples uma sensação de aconchego. Suguru e Satoru estavam sentados no tapete colorido da sala de recreação, observando as crianças brincarem. Mimico e Nanaco, as gêmeas, já estavam animadas com a chegada dos dois.
As meninas sempre esperavam ansiosamente pelas visitas de Suguru e Satoru. Com olhinhos brilhantes e sorrisos tímidos, elas se aproximaram de Geto, puxando a manga de sua camisa de forma carinhosa e hesitante. Mimico, sempre a mais tímida das duas, tomou a iniciativa de falar.
- Suguru... podemos fazer um penteado no seu cabelo? Por favor? - Mimico mal conseguia olhar para ele de tanta timidez, enquanto puxava levemente a ponta da camisa dele.
Antes que Suguru pudesse responder, Nanaco, mais ousada e cheia de energia, entrou na conversa com um sorriso largo - Prometemos ser muito cuidadosas! Vai ficar incrível! Por favor! - Implorou, balançando as mãos de Suguru de forma entusiasmada.
Geto riu suavemente, sentindo o coração aquecer ao ver o entusiasmo das duas. Ele não conseguia dizer "não" para aquelas carinhas cheias de esperança.
- Bem... - Disse ele, fingindo ponderar - Se vocês realmente querem... eu confio em vocês, só não me deixem careca, hein?
As gêmeas vibraram de alegria, soltando gritinhos de animação, e logo pegaram escovas e fitas coloridas que haviam trazido escondidas nos bolsos. Suguru se sentou de costas para elas, deixando que as meninas começassem o trabalho.
Enquanto isso, Gojo observava tudo de longe, com os braços cruzados e um sorriso satisfeito no rosto.
- Vocês estão arrasando, meninas! Vai ficar ótimo! - Comentou Satoru, se aproximando um pouco mais, sem perder o entusiasmo. No entanto, ele rapidamente percebeu que algo estava faltando. Olhou em volta e notou a ausência de uma figura específica. Foi então que viu Megumi, encostado na parede, de braços cruzados e com o típico olhar desinteressado. Ele estava distante, observando a cena sem nenhuma vontade de participar - Ei, Megumi! - Chamou Gojo, com aquele tom brincalhão que ele sempre usava para provocá-lo - Por que você não está participando? As meninas estão se divertindo tanto! Não acha que seria divertido fazer parte disso também?
Megumi suspirou pesadamente e, sem sequer olhar para Gojo, murmurou com irritação - Não é da sua conta.
Satoru se aproximou mais, sem perder o sorriso no rosto. Ele adorava provocar Megumi de uma forma que só ele sabia.
- Ah, qual é, Megumi... Por que você não pode ser fofo e carinhoso como as meninas? Aposto que você também ficaria ótimo fazendo penteados!
Megumi, com uma expressão ainda mais entediada, virou-se finalmente para Gojo e respondeu com uma pitada de irritação.
- Eu não sou fofo. E, além disso, você não é meu pai para me mandar fazer alguma coisa.
O comentário pegou Gojo de surpresa, mas só por um instante. Ele sabia que, em algum momento, teria que dar a notícia às crianças, mas talvez não estivesse completamente preparado para a reação de Megumi. Porém, sem pensar muito, decidiu que aquela era a hora certa.
Com um sorriso ligeiramente malicioso, Satoru se aproximou mais e respondeu com um tom despreocupado.
- Sinto muito te desapontar, Megumi, mas eu e Suguru vamos adotar todos vocês - Ele fez uma pausa, apontando descaradamente para o garoto com um dedo dramático - Incluindo você, é claro.
O impacto da notícia foi instantâneo. Nanaco e Mimico, que estavam trançando o cabelo de Geto com fitas coloridas, pararam abruptamente e encararam Gojo com olhos arregalados. Elas soltaram as escovas e correram em direção a Suguru, jogando-se nos braços dele, sem conseguir conter as lágrimas de felicidade.
- Sério? Vamos ser uma família? - Perguntou Nanaco, ainda meio incrédula, enquanto apertava o pescoço de Suguru com força.
- Isso é maravilhoso! - Disse Mimico, com os olhos cheios de lágrimas, o rosto vermelho de emoção - Nunca pensamos que isso poderia acontecer!
Tsumiki, que estava por perto assistindo à cena, também começou a chorar de alegria, correndo para abraçar Suguru. O coração de Geto se derreteu ao ver as três meninas tão felizes e emocionadas, e ele as envolveu num abraço apertado, tentando não transparecer a leve irritação que sentia por Gojo ter contado tudo antes do tempo planejado.
- Sim, vamos ser uma família - Disse ele com ternura, beijando o topo da cabeça das meninas - E eu estou muito feliz que vocês também estejam.
Mas, enquanto a alegria tomava conta de parte das crianças, Megumi permanecia parado no mesmo lugar. Ele estava visivelmente abalado pela notícia, com lágrimas acumulando nos olhos, mas sua expressão era de puro desespero. Ele apertou os punhos e, sem conseguir segurar mais, começou a chorar e a gritar.
- EU NÃO QUERO QUE O GOJO SEJA MEU PAI! NÃO QUERO!
Gojo, que até então mantinha um semblante calmo, arregalou os olhos de surpresa e cruzou os braços, indignado.
- Como assim você não quer?! Qualquer criança daria um rim para ser meu filho! - Respondeu ele, meio ofendido, com um tom exagerado.
Megumi, ainda soluçando, tentou responder entre as lágrimas.
- Eu… eu quero dar um rim… para não ser seu filho! - Ele gaguejou, enxugando o rosto com as mãos, tentando controlar o choro.
Gojo, sentindo-se magoado com a resposta, cruzou os braços novamente e fez um beicinho dramático.
- Ah, é? Então vamos chamar um cirurgião para isso... - Murmurou ele, irritado.
- Gojo! - Geto, agora mais sério, o repreendeu com um olhar severo. Suguru já estava acostumado com as brincadeiras infantis de Satoru, mas aquela era claramente uma situação que exigia mais sensibilidade.
- Tá bom, tá bom... - Gojo bufou, levantando as mãos em rendição. Ele respirou fundo e se ajoelhou na frente de Megumi, tentando ser o mais sincero possível - Olha, Megumi... eu sei que isso é um grande choque pra você, e eu entendo que talvez você não goste muito de mim, mas... eu realmente quero que isso funcione - Ele hesitou por um segundo, antes de continuar, sua voz agora mais suave - Querendo ou não, eu me apeguei muito a vocês... E você está incluído nisso.
Megumi continuava chorando, mas não respondia. Ele simplesmente olhou para o chão, evitando o olhar de Gojo.
Suguru, que estava ao lado, também se ajoelhou, colocando a mão suavemente no ombro de Megumi.
- Megumi, nós sabemos que isso não é fácil para você - A voz de Geto era calma e acolhedora - Mas queremos muito que você faça parte da nossa família.. Não estamos tentando substituir ninguém, só queremos que você saiba que vai ter um lar, e que a gente vai estar aqui para você, vamos passar por isso juntos, eu prometo.
Megumi soluçou mais uma vez, mas olhou para Suguru com olhos brilhantes de lágrimas. Ele ainda parecia hesitante, mas o toque gentil de Suguru e a sinceridade nas palavras dele começaram a derreter a resistência que ele tinha erguido.
Enquanto a emoção continuava a tomar conta da sala, Gojo, que agora parecia mais calmo e sensível à situação, observou com um pequeno sorriso. Ele sabia que levaria tempo para Megumi aceitar completamente a ideia, mas também sabia que, no fundo, já eram uma família. Mesmo com todas as dificuldades e as emoções à flor da pele, estavam começando algo novo e importante juntos.
E, assim, entre abraços e lágrimas, a pequena e improvável família começou a se formar, dando início a um novo capítulo de suas vidas.