CAPÍTULO CATORZE

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CAVEIRA

Ele estava nos meus braços, sangue escorria quente pelas minhas mãos. Dava pra ouvir o batucar do meu coração explodindo nos ouvidos, dava pra ouvir os gritos da Manuella da casa, as exigências do PL... Menos o meu neto. Ele tava quieto. Pendia tão calmo no meu colo que toda a velocidade que o carro corria, não parecia nada.

Não me movi um só segundo depois que entrei no carro. A sua cabeça tava nas mãos do Daniel, ele gritava alguma coisa e eu só conseguia implorar pra aquilo não tá acontecendo de verdade. Não com a minha filha.

Perdi um filho uma vez. Uma menina que nem chegou a pousar em meus braços, nunca tinha visto seu rosto, nunca pude tocar sua pele e ouvir o seu sorriso... mas a dor ainda existia. Fechei os olhos implorando pra acordar. Se eu, que nem tinha visto aquela criança tinha sofrido pra caralho, imagina a Manuella perdendo aquele menino.

— Por favor. — Implorei aos sussurros.

A dor de perder um filho é paralisante, parece que alguém te corta a todo instante sem anestesia. Não para. Não tem fim. É constante.

Abri os olhos e desci para observá-lo. A camiseta azul de um super herói qualquer, estava vermelha. O sangue brigava entre o contraste do escudo e da sua pele... senti o aperto no peito ao olhar pro seu rostinho. Tinha sangue próximo a boca, mas ele só parecia estar dormindo. Como aquilo tinha acontecido? Levantei a cabeça ao escutar a freada. O Daniel começou a gritar pela janela e eu só conseguia observar a construção branca a minha frente.

— Respira, respira. — Sussurrei de novo. — Sua mãe precisa que você respire. — A porta foi escancarada e, aos gritos das pessoas, ele saiu dos meus braços.

Sai de dentro do carro. Minhas pernas tremiam, meu corpo todo parecia não conseguir se sustentar. A adrenalina já tinha passado e a única coisa que eu sentia era medo. O medo era o pior dos sentimentos.

— É UMA PERFUSÃO POR ARMA DE FOGO! — Ouvi o Daniel gritar. — NÓS TAVA NUMA FESTA, UNS MALUCO PASSARAM ATIRANDO E FUGIRAM!

— QUANTOS ANOS?! — Vi o meu neto sendo colocado numa maca, o tecido ficou vermelho instantaneamente.

— 5 ANOS!

— UM PAF! — Uma mulher gritou enquanto mais um homem saia correndo de dentro do hospital. — A BALA NÃO SAIU, ENTRADA NO PULMÃO... POSSÍVEL EMBOLIA... ELE PRECISA DE UM RESPIRADOR! DROGA! SATURAÇÃO 66 E CAINDO! UMA BOLSA DE SANGUE "O NEGATIVO"!

— BRADICARDIA! ENTUBAR E CIRURGIA! — Mais um gritou e a maca foi empurrada às pressas.

Eu não conseguia pensar, a única coisa que fui capaz de fazer foi ir atrás deles. Houve mais gritaria lá dentro. Quando as portas automáticas se fecharam, duas pessoas me pararam, eu não ouvia o que elas diziam. Me encaravam, me tocavam, perguntavam. Estendi as mãos... sai do alcance e segui o barulho, a gritaria...

Quando virei o corredor passando por mais gente, parei. Tinha uma mulher de branco em cima do Vinícius, nas mãos uma tesoura rasgando a camiseta... ao redor mais gente. Tanta gente. Alguém colocava algo no peito dele... mais fios eram conectados e de repente... um bip constante.

— SATURAÇÃO CAINDO! A BALA TÁ SE MOVENDO ENQUANTO ELE TENTA RESPIRAR! — A maca foi empurrada de novo, fui atrás... as portas de uma sala foram empurradas e corri pra passar por ela junto com o meu neto.

Tinha mais gente dentro da sala, eles vieram. A gritaria aumentou, eu fui empurrado pra parede, mãos tentavam me colocar pra fora e de alguma forma... puxei a arma da cintura. Eles se afastaram, minha mente tava a milhão, não dava pra pensar, não dava pra conversar!

O Crime Perfeito - Livro 4Onde histórias criam vida. Descubra agora