CAPÍTULO TREZE

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MANUELLA

Tudo passa. Chuva passa, tempestade passa e até furacão passa. Difícil é saber o que sobra depois. O quanto de cacos você vai ter de catar pra se reconstruir, pra seguir em frente, pra não pensar em desistir.

Acredite. Fazia tempo que eu estava na beirada do precipício esperando um vento mais forte. Ver o PL "morto", dentro de um caixão, ver o seu carro sendo jogado pelo ar, aquilo tinha sido uma bela tempestade... beirando um furação. Mas eu estava aqui tentando salvá-lo. Tentando não ter medo de ser forte, tentando ajudar o máximo que conseguia. Mas tem coisas que não se equiparam a um furacão. Tem coisas que não se equiparam a um terremoto de magnitude 9. Tem coisas que nunca passam.

— AAAAAAAAAAH

Gritei.

Gritei.

Gritei.

Não tinha como descrever aquela sensação. Não tem como você suportar a dor que é ter seu filho nos braços enquanto... enquanto sangue saia da sua boca pequena. Enquanto os seus olhos procuravam os meus, buscando abrigo em meus braços.

Eu senti o impacto da bala no exato momento em que ela chegou. Era pra mim. A bala era pra mim e não pra ele.

Eu sentia o aperto no peito enquanto o PL o levava para o carro, sentia a sensação mais maluca da minha vida. Tive que conferir que ele sairia bem, tive que ver ele sendo levado pra longe. Sendo protegido. Esperei no canto, na entrada da sala, e vi o PL não fechar a porta do carro, esperei com o coração na garganta enquanto o meu pai discutia com ele... E quando ele saiu correndo, quando o meu pequeno gritou por mim. Tentei correr até ele, tentei impedi-lo de vim. Mas não fui rápida o suficiente, não protegi o meu bem mais precioso.

Ele chegou em meus braços poucos segundos antes do impacto. Antes do seu grito alto se tornar um sussurro, um gemido fraco.

Era pra ser eu! A bala era pra ser em mim!

— NÃO! — Gritei em agonia vendo o sangue sair, sentindo o sangue escorrer entre meus dedos, vendo sua cabeça pender em meu ombro e seu corpo ficar mole.

— NÃO, NÃO, NÃO! — O PL gritou e se chocou contra nós dois, me empurrando pra dentro de casa, segurando o nosso filho, me segurando em desespero. — POR FAVOR, POR FAVOR, NÃO!

Eu queria gritar, queria sair correndo pra qualquer lugar. O corpinho do meu filho pendia em meus braços, sangue quente escorria pelo meu pescoço. Eu queria morrer no lugar de sentir tudo aquilo.

— Coloca ele no chão! — Escutei o Daniel gritar... eu não queria soltar... queria implorar a qualquer Deus pra me levar no lugar dele. — Coloca ele aqui!

O PL tirou ele dos meus braços... eu tremia. Tentei me levantar, mas no mesmo lugar que estava, eu fiquei. Respirei com dificuldade, buscando uma explicação racional pra tudo isso tá acontecendo. Deixei que as lágrimas rolassem com o resquício do seu calor grudado em mim, o fraco cheiro dele flutuando a minha volta.

— Deixa o meu filho... — Sussurrei pra qualquer Deus que me ouvisse. — Me leva, por favor me leva.

Vi o Vinícius sendo colocado no chão, as mãos do Daniel procurando o ferimento e... o choro alto do PL, o desespero no seu pedido de ajuda, do toque no corpinho pequeno do nosso filho. Como aquela imagem doía... era o meu coração sendo arrancado. Era uma criança de 5 anos. Um menino com um futuro pela frente, um menino... um menino inocente. Era o meu menino.

— Mas que merda! — Levantei os olhos, tentando ver atrás das lagrimas que escorriam, as mãos do Daniel tava puro sangue. — Precisa tirar ele daqui, tipo agora!

O Crime Perfeito - Livro 4Onde histórias criam vida. Descubra agora