CAPÍTULO TRINTA E SEIS

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Não sei como cheguei ali, em que momento a briga começou e eu saí da casa do Conan querendo explodir. Eu lembro de entrar no carro com a Sofia, de sentir a camiseta arranhar o mais novo hematoma no estômago. Mas o percurso até ali, tudo até ali, apagou da minha mente, e tudo que lembro é de ver o prédio do hospital aparecer.

— NÃO! — Abri a porta do carro quando ele parou. — PL! Droga! — A porta bateu.

Encaixei o cap na cabeça e enfiei as mãos no bolso da bermuda, tentei controlar os batimentos insanos do peito e segui até o prédio no fim da rua. Eu conseguia sentir os carros passando, ambulância chegando e saindo, pessoas falando ao telefone ou chorando pela calçada... mas parecia que nada importava. Tudo que importava estava dentro daquele lugar, estava em um quarto fechado e ferida!

— Tem polícia aqui! — Ouvi a Sofia correr ao meu lado. — Precisa ficar calmo, entendeu? Eu concordei com essa merda, mas tenho certeza que ela vai me matar quando acordar!

Não falei, só baixei a cabeça quando o carro preto com o símbolo da PF estampado apareceu na minha visão. Contei pelo canto de olho os quatro carros estacionados e trinquei dos dentes. Eu sabia que eles estariam ali, era obvio que tentaria tirar a culpa do próprio rabo enquanto davam "apoio"! Era isso que eles faziam! Era assim que eles faziam dentro da minha comunidade. Elogiados pelos resgates, mas nunca culpados pela bala perdida que atingiam as vítimas!

— Ouviu o Murilo no telefone? — Levantei os olhos vendo o prédio branco ficar mais próximo. — Ela passou pela cirurgia e está bem, PL. Não pode brigar com ninguém, nem invadir o quarto dela, precisa esperar eles saírem.

Eles estavam lá, eles estavam ao lado dela! Estavam ocupando o meu lugar como fizeram durante todo o último ano! Senti meus punhos se fecharem e desejei que o gosto de morango ainda chamasse a minha atenção. Eu queria um baseado, queria tragar a porra de um cigarro e deixar a raiva enlouquecer a minha mente.

— Vou matá-los!

— Meu Deus! — Derrapei no chão quando a branquinha se jogou na minha frente. Tentei segurá-la quando me choquei contra seu corpo. Ela agarrou meus braços, parecia assustada, quase surtando. — Sem mortes! — Ela tentou sussurrar.

— Eles não cuidaram do que é meu! — Falei alto e senti as suas unhas me agarrem com força.

— Onde escondeu a arma? — Estreitei os olhos. — O Conan revistou você, não tem nenhuma porcaria de arma aí... — Sua boca se abriu e ela me prendeu com mais força, senti suas unhas perfurarem a minha carne. — Tinha arma no carro... me devolva agora!

Bufei e soltei a sua cintura, desviei do seu corpo e voltei a andar. Ela agarrou o meu braço e me surpreendi com a força que usou pra me fazer voltar.

— Devolva ou vou começar a gritar! — Senti raiva... muita! Com quem ela tinha aprendido a ser atrevida e ardilosa? — Não vai conseguir entrar lá antes de ser preso, vou acusar de assédio e, se tiver uma arma, vou dizer que tentou me assaltar!

— Não tem coragem! — Seus olhos se estreitaram e ela se aproximou de mim, senti a sua raiva me atingir.

— Não vou deixar tu foder com o disfarce da Manuella! — Ela estendeu a mão. — Me devolva! Agora!

Se arrependimento matasse, eu estaria morto no chão. A Sofia havia se tornado alguém que passei a odiar tão fodidamente quanto meus inimigos. Talvez se eu tivesse me negado a ir na casa do Trek naquele dia, eu nunca a teria conhecido. Talvez assim a Manuella não tivesse me substituído por ela naquela merda de plano, talvez assim a droga da minha vida não estivesse tão fodida! Levantei a mão e puxei a bolsa do seu ombro, a abri e me virei. Puxei a camiseta e agarrei a arma presa a cintura. Ouvi ela arfar quando puxei a ponto quarenta e enfiei dentro da sua bolsa. Ela arrancou a coisa das minhas mãos antes que eu pudesse fechar a droga do zíper.

O Crime Perfeito - Livro 4Onde histórias criam vida. Descubra agora