CAPÍTULO VINTE E SETE

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ANTES

PAULO - PL

Sua cabeça se movia na minha mão, eu sentia seu desespero, a sua tentativa ferrada pra respirar... mas não me importei e tudo que eu fiz foi segurar com mais força. Com força suficiente pra sentir a água cobrir a minha mão.

— Precisa parar. — Olhei pra frente, pro cara que tentava, no último ano, me manter na linha. — Vai acabar matando, não vai ouvir o que quer desse jeito. — Sorri e olhei pra baixo.

A cabeça estava toda dentro da água, suas mãos, na lateral azul do tanque, tentava se puxar pra fora, pra cima, mas lá estava a minha mão a empurrando pra baixo. Eu gostava daquela sensação, o poder fazia muita merda com a mente, porém, no último ano, tudo o que o poder provocou em mim foi diversão. Eu gostava de matar, de torturar, de mostrar quem mandava, mas ser intocável era a melhor sensação do mundo... quase melhor que o sexo.

— Chefe! — Levantei a mão e a puxada de ar inundou a sala.

Tosses surgiram e ele foi ao chão. Me afastei e olhei pra baixo, pro fardado desesperado se arrastando no chão tentando fugir de mim, tentando correr da minha ira. Fiz sinal e meus homens apareceram, sorri quando o merdinha começou a gritar e foi arrastado pra cadeira ao meu lado. Me diverti com o seu medo, com o seu desespero, com o pavor de morrer como o seu parceiro...

— Eu falei tudo que sei! — Ele gritou quando foi preso de volta nas amarras. — Eu juro, juro pela minha filha! Me deixa sair, me deixa sair!

— Conhece ela! — Gritei, mostrando outra vez a imagem em minhas mãos. — Me diga onde encontrá-la!

— Por favor...

— Me diga onde encontrá-la! — Ele voltou a negar... senti a raiva aumentar. — Vai morrer por causa de um agente? Vai deixar a tua filha, e tua mulher, por causa da merda de um agent...

— Ela é especial! — Ele gritou no mesmo tom... o que provocou algo ruim dentro de mim.

Meus punhos se fecharam com força e me aproximei da cadeira. Dava pra ver suor e sangue escorrendo pelo seu rosto, o cheiro de gasolina inundando a sua pele. Tentei controlar a raiva, o maldito descontrole invadindo a minha mente. Encarei o seu rosto deixando que o cheiro de merda, sangue e gasolina me levasse pra longe dos meus pensamentos.

— Então tu fodeu com ela? — Perguntei e senti meus dentes rangerem.

— O que? — Vi o seu desespero aumentar e ele tentou puxar as amarras do pulso. — Sou casado! — Sorri e vi seus olhos se arregalarem. — Meu Deus! O que é você? — Sorri um pouco mais e adorei sentir o cheiro do seu medo. — Ela é da "especial", um agente que faz parte do grupo especial da PF! Eu não tenho nenhum relacionamento amoroso com a agente Souza!

O nome não me era estranho; o homem morto no canto da parede tinha dito a mesma coisa. A diferença dele para aquele sentado na minha frente era o orgulho. Um era policial, o outro era só um merdinha medroso!

— O nome dela é Manuella Brandão! — Coloquei a imagem na sua cara. — Sabe onde ela está? — Sua respiração saiu pesada e eu analisei seu rosto.

Durante os últimos meses, tudo que fiz foi caçá-los. Não sei quantos torturei ou matei, já tinha perdido as contas de quantas vezes esmurrei um deles e queimei seus corpos numa vala rasa. Todos os fardados que passaram pelas minhas mãos haviam morrido; todos, sem exceção, se negavam a falar o que eu queria. Não me importei em matá-los, não senti nada ao atirar contra suas cabeças ou as dos seus filhos... Eu não me importava com mais nada.

— É a agente especial Souza. — Ele repetiu e analisei os seus olhos negros. Ele não hesitava, não mentia. — Não sei o primeiro nome, só vi ela de longe, não conversamos... Quer dizer, conversamos apenas uma vez, mas porque ela é a primeira em comando.

O Crime Perfeito - Livro 4Onde histórias criam vida. Descubra agora