A campanha para a prefeitura de São Paulo estava pegando fogo. S/n e Tabata Amaral eram as duas principais candidatas, ambas com discursos fortes, visões diferentes para a cidade, e uma rivalidade política que havia se tornado pessoal. As trocas de farpas entre elas eram constantes, tanto nas entrevistas quanto nos debates. Os eleitores estavam divididos, e a imprensa alimentava essa disputa, pintando-as como inimigas ferrenhas.
Tabata era conhecida por sua inteligência afiada, sua capacidade de argumentação e sua trajetória impressionante de ativismo político. Já S/n, com seu carisma, envolvimento em projetos sociais e habilidade de se conectar com o povo, havia ganhado força rapidamente, tornando-se uma adversária à altura.
O último debate antes das eleições seria decisivo. Os nervos estavam à flor da pele, e o clima de tensão era visível. O confronto entre as duas candidatas era inevitável, e o palco do debate estava montado para que tudo viesse à tona.
- O problema da sua campanha, S/n, é que ela é populista demais. Prometer mundos e fundos é fácil, mas a população de São Paulo precisa de soluções reais, e não de promessas vazias - disse Tabata, em tom firme, olhando diretamente para a rival.
S/n respirou fundo, segurando a raiva que crescia a cada provocação. A imagem de Tabata como a "intelectual da política" era algo que sempre a irritava, especialmente porque isso costumava vir acompanhado de uma atitude de superioridade.
- Você fala de promessas, Tabata, mas o povo tá cansado de só ouvir tecnicalidades e não ver nada de concreto. Eu estou nas ruas, ouvindo as pessoas, e sei o que elas realmente precisam. Não adianta ter um discurso bonito e não entender a realidade de quem vive na periferia.
A plateia reagiu, dividida entre as duas candidatas, e o debate continuou esquentando. Cada comentário era uma indireta ou provocação, e o clima entre elas só piorava.
[...]
Depois do debate, os bastidores estavam tão tensos quanto o palco. S/n foi para a sala onde poderia respirar por alguns minutos antes de enfrentar os jornalistas. Ela estava ainda com os nervos à flor da pele, revivendo as provocações de Tabata.
Para sua surpresa, quando entrou na sala, encontrou Tabata lá, aparentemente esperando para confrontá-la longe das câmeras.
- Você vai continuar com essa atitude? - Tabata perguntou, sem rodeios, cruzando os braços. - Fingindo que tem soluções mágicas para os problemas da cidade?
S/n riu, mas sem humor, e fechou a porta atrás de si.
- Você quer falar de atitude, Tabata? Se tem alguém aqui que precisa rever a postura, é você. Toda vez que abre a boca, parece que tá me subestimando, como se eu não soubesse o que estou fazendo.
- E você não sabe. - Tabata deu um passo à frente, claramente provocando. - Está envolvida demais nas suas emoções, não pensa com a cabeça. Política não é só empatia, S/n, é estratégia, é conhecimento.
- Empatia é exatamente o que falta na sua campanha! - S/n deu um passo também, encurtando a distância entre elas, sua voz firme, encarando Tabata de frente. - As pessoas estão cansadas de políticos que falam bonito e não fazem nada. E você, com toda a sua "estratégia", esqueceu disso.
A proximidade entre as duas criou uma nova tensão, mas não era mais só política. Tabata percebeu isso ao olhar diretamente nos olhos de S/n, sentindo a intensidade daquele confronto tão de perto. O tom de raiva começava a se transformar em algo diferente, um sentimento que ela não esperava.
- Você se acha tão diferente de mim, mas no fundo... - Tabata começou, mas parou, sentindo a mudança no ar.
S/n, percebendo que a energia entre elas havia mudado, relaxou o corpo levemente, mas não se afastou. Havia algo naquele confronto, uma linha tênue entre a raiva e outra coisa, uma tensão que estava ali, crescendo a cada segundo.
- No fundo, o quê? - S/n provocou, sua voz agora mais baixa, quase desafiadora.
Tabata hesitou por um momento, antes de finalmente responder.
- No fundo, talvez não sejamos tão diferentes assim.
O silêncio que se seguiu foi carregado de significados. Elas estavam tão próximas agora que podiam sentir a respiração uma da outra. A raiva que existia momentos antes parecia ter se transformado em algo mais intenso e imprevisível. S/n, percebendo o que estava prestes a acontecer, olhou para os lábios de Tabata, seu coração acelerando.
Tabata, que até então sempre mantinha o controle, sentiu-se estranhamente atraída por aquele momento, por aquela proximidade perigosa. E antes que qualquer uma delas pudesse pensar duas vezes, o impulso foi mais forte.
O beijo aconteceu de forma inesperada, mas era inevitável. A tensão entre elas se desfez naquele toque, e o que antes era uma briga agora se transformava em desejo puro. As mãos de S/n seguraram a cintura de Tabata, enquanto Tabata a puxava para mais perto, respondendo com a mesma intensidade. A rivalidade política desapareceu naquele momento, dando lugar a algo que nem elas mesmas podiam entender.
Quando se separaram, ambas estavam ofegantes, olhando uma para a outra com uma mistura de surpresa e desejo.
- Isso... isso não muda nada na campanha - disse Tabata, a voz trêmula, mas ainda tentando manter o controle.
S/n sorriu de canto, passando a mão pelos cabelos enquanto respirava fundo.
- Claro que não. Isso aqui é só entre nós.