21 - Feridas do Passado

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Era uma noite tranquila, e Filipe e Talita estavam deitados no sofá de seu apartamento, assistindo a um filme qualquer, quando ele, curioso, resolveu perguntar algo que estava em sua mente há algum tempo. Eles já estavam juntos há um bom tempo, e Filipe sentia que sabia muito sobre a vida de Talita, mas uma parte importante dela ainda permanecia um mistério: sua família.

– Amor, eu estava pensando– Filipe começou, desligando a TV. – Você nunca me fala muito sobre a sua família. Como eles são?

Talita, que estava deitada com a cabeça no peito dele, imediatamente sentiu um aperto no coração. A simples menção de sua família trazia uma dor que ela tentava evitar, mas sabia que, eventualmente, teria que enfrentar.

Ela se sentou no sofá, afastando-se um pouco, e Filipe percebeu que havia tocado em algo sensível.

– Desculpa,se você não quiser falar sobre isso, tudo bem – ele disse, preocupado.

Talita suspirou, cruzando os braços de forma protetora. Ela sabia que Filipe não tinha culpa e que era natural ele querer saber mais sobre sua vida. Eles estavam construindo algo sólido juntos, mas esse era um capítulo de sua história que ela preferia não abrir.

– Não, tá tudo bem... – Talita começou, sua voz mais baixa do que o normal. – Só que... é difícil. Minha família... não é como era antes.

Filipe permaneceu em silêncio, respeitando o espaço que ela precisava para se abrir no próprio tempo.

– Minha mãe, Joana.– Talita começou, sentindo um nó na garganta ao dizer o nome dela. – Ela faleceu há alguns anos. E, desde então, as coisas nunca mais foram as mesmas.

Filipe segurou a mão de Talita, encorajando-a a continuar. Ela respirou fundo, tentando manter a compostura.

– Antes da minha mãe morrer, éramos uma família muito unida. Eu, meu pai Roberto, meus irmãos Caio, Guilherme e Laura. Éramos inseparáveis. Minha mãe era a cola que mantinha todos juntos, sabe? Ela era o coração da nossa família. Mas depois que ela... se foi, tudo desmoronou.

A voz de Talita começou a falhar, mas ela continuou.

– Meu pai entrou em uma depressão profunda, e, em vez de tentar manter a família unida, ele simplesmente se afastou de todos. Caio e Guilherme... eles seguiram seus próprios caminhos e pararam de se falar. E Laura... ela se mudou pra outra cidade. É como se cada um estivesse lidando com a dor à sua própria maneira, mas sem se apoiar uns nos outros. Eu tentei manter contato, tentei trazer todos de volta, mas foi inútil.

Filipe a olhou com empatia, sem interrompê-la.

– E você? – ele perguntou suavemente. – Como você lidou com isso?

Talita deu um sorriso triste, olhando para suas mãos.

– Eu... me fechei. Tentei focar no trabalho, na minha carreira, mas a verdade é que me sinto sozinha sem eles. Perdi não só minha mãe, mas também minha família. Às vezes me pergunto se algum dia vou conseguir reconectar todos... mas parece impossível. Eu sinto que cada um seguiu sua própria vida, e eu fiquei para trás, tentando juntar os pedaços que ninguém mais quer juntar.

Filipe a puxou para mais perto, envolvendo-a em seus braços.

– Sinto muito, amor. Eu não fazia ideia de que você estava carregando isso sozinha.

Talita deixou algumas lágrimas escaparem, mas se permitiu sentir o conforto do abraço de Filipe. Ele não tentou dar respostas fáceis ou minimizar sua dor, e isso era exatamente o que ela precisava naquele momento.

– Eu só queria que minha mãe estivesse aqui. Ela saberia o que fazer. Ela sempre sabia como manter a família unida – Talita disse, a voz embargada.

– Ela ficaria muito orgulhosa de você – Filipe respondeu, beijando o topo da cabeça dela. – Você tem o coração dela. E, mesmo que sua família esteja distante agora, isso não significa que você não possa tentar aos poucos. Mas só quando você estiver pronta, e se quiser.

Talita assentiu, sentindo-se grata por Filipe estar ao seu lado. Ela sabia que a cicatriz daquela perda sempre estaria ali, mas também sabia que não precisava enfrentar tudo sozinha.

– Obrigada por me ouvir – ela disse, enxugando as lágrimas.

– Sempre. Eu estou aqui pra isso – Filipe respondeu, sorrindo suavemente. – E, se algum dia você quiser tentar reconectar com seus irmãos ou com seu pai, eu vou estar ao seu lado pra o que precisar. Mas também vou entender se não quiser.

Talita olhou nos olhos dele, sentindo uma mistura de tristeza e gratidão.

– Eu acho que, no fundo, eu ainda tenho esperança de que as coisas possam mudar. Mas, por enquanto, eu só preciso de tempo.

Filipe assentiu.

– Vamos dar esse tempo. Sem pressão. Quando você estiver pronta, estarei aqui, como sempre.

Eles ficaram em silêncio por alguns momentos, apenas aproveitando o conforto da presença um do outro. Talita sabia que ainda havia muita dor a ser processada, mas, com Filipe ao seu lado, sentia que podia, aos poucos, começar a lidar com esse capítulo de sua vida.

𝑴𝒊𝒏𝒉𝒂 𝑳𝒖𝒛 - 𝑭𝒊𝒍𝒊𝒑𝒆 𝑹𝒆𝒕Onde histórias criam vida. Descubra agora