03 - Encontros Inesperados

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Alguns dias se passaram desde o clássico no Maracanã, e Talita já havia esquecido parcialmente do encontro com  Ret. Ela estava imersa em um novo projeto, uma série de reportagens sobre a relação entre o futebol e a cultura carioca, que exigia muitas entrevistas e visitas a lugares icônicos da cidade.

Naquela tarde, ela tinha uma pauta na Lapa, um dos bairros mais boêmios do Rio. Seria uma entrevista com um artista de rua famoso por fazer grafites inspirados no Fluminense. Chegou ao local, cumprimentou o artista, e começou a se preparar para a entrevista quando uma figura conhecida passou pela sua visão periférica. Ela congelou.

— Não pode ser — murmurou, ajeitando o cabelo e colocando o bloco de anotações na bolsa. O inconfundível Filipe Ret estava do outro lado da rua, conversando com um grupo de pessoas. Ele parecia completamente à vontade, vestindo uma camisa preta e óculos de sol, mas não tinha como confundir aquele jeito despretensioso de andar.

Talita tentou ignorá-lo, voltando sua atenção para a entrevista, mas o artista percebeu seu desconforto.

— Tá tudo bem? — perguntou ele, curioso.

— Sim, sim, tudo tranquilo — respondeu, forçando um sorriso.

Enquanto ela fazia as perguntas, notou que Filipe a havia visto. Ele começou a caminhar em sua direção, e antes que ela pudesse se afastar, ouviu a voz provocativa dele mais uma vez.

— Olha só se não é a jornalista durona do Maracanã — Filipe disse, parando ao lado dela com um sorriso de canto. — Tô começando a achar que você anda me perseguindo.

Talita fechou os olhos por um segundo, tentando manter a calma, e então se virou para ele.

— Eu? Te perseguindo? Você tem um ego maior do que eu pensei — respondeu ela, seca. — Aliás, esse aqui é um lugar público. Se alguém está no lugar errado, não sou eu.

— Relaxa, tô só brincando — Filipe levantou as mãos, como se se rendesse, mas o sorriso travesso não saiu de seu rosto. — Achei que a gente podia começar de novo, sabe? Sem esbarrões dessa vez.

Talita arqueou uma sobrancelha, desconfiada.

— Começar de novo? Você faz parecer que temos algo inacabado.

— Talvez tenhamos — Filipe disse, inclinando a cabeça de lado, observando-a atentamente. — Não costumo encontrar pessoas que não ligam a mínima pro fato de eu ser... quem sou.

— Ah, então é disso que se trata? — Talita riu, mas o som foi mais de ironia do que de diversão. — Você está surpreso porque alguém não ficou deslumbrado com o grande Filipe Ret?

— Ei, calma lá — Filipe riu de volta, desta vez parecendo mais genuíno. — Não é isso. É que você me desarmou no Maracanã. Nunca sei o que esperar de gente assim.

Talita o encarou por alguns segundos, avaliando as palavras dele. Podia ver que havia algo por trás daquele jeito confiante e provocador. Talvez ele estivesse mesmo tentando ser sincero.

— Desarmar gente assim é o meu trabalho — disse ela, soltando um leve sorriso. — Não posso deixar que qualquer coisa me distraia.

— Então, me distrairia se eu te convidasse pra tomar um café ?— Filipe sugeriu, inclinando-se levemente em direção a ela.

Talita ficou surpresa pela oferta. Ela não esperava que Filipe fosse tão direto, mas ao mesmo tempo, havia algo interessante ali. Ela mordeu o lábio, pensativa.

— Café? Com você? — repetiu, cruzando os braços.

— Aham, um café. Nada de mais. Você me conta sobre o seu trabalho, eu conto um pouco do meu. E a gente evita esbarrões futuros. Que tal?

Ela hesitou por um momento, mas acabou soltando um suspiro.

— Só café. E nada de provocações, combinado?

Filipe levantou as mãos de novo, desta vez com um sorriso genuíno.

— Fechado, jornalista durona.

Talita balançou a cabeça, rindo.

— O nome é Talita. Vai aprender isso com o tempo.

Eles trocaram olhares por um instante, e Talita sentiu que talvez tivesse julgado Filipe cedo demais. Havia mais ali do que ela imaginava. Talvez, por trás de todo aquele ego, houvesse uma pessoa com quem valeria a pena passar um tempo.

— Tá bem, Talita — Filipe respondeu, com um tom mais suave. — Vamos ver até onde esse café nos leva.

E com isso, ele deu um sorriso, se afastando lentamente, enquanto Talita voltava sua atenção para a entrevista. O encontro inesperado com Filipe agora tinha outro significado. Ela ainda não sabia onde aquilo levaria, mas, por algum motivo, já não estava mais tão irritada.

𝑴𝒊𝒏𝒉𝒂 𝑳𝒖𝒛 - 𝑭𝒊𝒍𝒊𝒑𝒆 𝑹𝒆𝒕Onde histórias criam vida. Descubra agora