20 - Dribles e Desentendimentos

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Era um sábado à tarde e Filipe, todo animado, tinha comprado ingressos para levar Talita ao Maracanã, assistir ao jogo do Fluminense. Para ele, aquela era uma chance de compartilhar uma parte importante de sua vida com ela, especialmente porque sabia o quanto Talita se envolvia em eventos esportivos como jornalista. Mas, para Talita, o futebol era mais trabalho do que paixão, e a ideia de passar a tarde no meio de uma torcida tão fervorosa não a animava tanto quanto Filipe esperava.

Assim que chegaram ao estádio, Filipe estava eufórico, conversando com amigos e cantando junto com a torcida. Ele até tentava envolver Talita na energia, mas ela estava um pouco deslocada, olhando ao redor, mais preocupada com as confusões que poderiam surgir na multidão.

– Vamos, amor, canta comigo! – Filipe disse, empolgado, tentando puxá-la para o momento.

Talita deu um sorriso, mas era forçado. Não conseguia entrar no clima como ele esperava.

– Eu estou tentando, Filipe, mas isso aqui é demais pra mim – ela respondeu, tentando não estragar o entusiasmo dele, mas sem conseguir esconder o incômodo.

Conforme o jogo avançava, a tensão entre os dois crescia. Filipe estava concentrado no jogo, enquanto Talita ficava cada vez mais desconfortável com a agitação ao redor. Depois de um gol importante do Fluminense, Filipe se levantou, comemorando com os outros, e acabou não percebendo o desconforto de Talita, que ficou ainda mais distante.

Quando o jogo terminou e estavam voltando para casa, o silêncio no carro era palpável. Filipe ainda estava em êxtase, relembrando cada detalhe do jogo, mas logo percebeu que algo estava errado.

– Você não curtiu, né? – ele perguntou, quebrando o silêncio.

– Não é isso... – Talita suspirou, olhando pela janela. – É só que parece que você ficou tão envolvido com o jogo e seus amigos que nem percebeu como eu estava me sentindo. Eu me senti completamente fora do lugar.

Filipe franziu a testa, surpreso.

– Mas eu estava tentando te envolver. Pensei que você fosse gostar, como sempre fala tanto de esporte.

– Gosto de esporte no trabalho, Filipe. Não necessariamente gosto de estar no meio de uma multidão torcendo. E, hoje, pareceu que você nem se importou se eu estava desconfortável. Só estava focado em você e no jogo.

O clima no carro ficou pesado. Filipe suspirou, tentando entender o ponto dela.

– Não era minha intenção te fazer sentir assim. Eu só queria compartilhar algo que é importante pra mim.

– Eu entendo. Mas às vezes parece que você esquece que somos dois nesse relacionamento. Não é só sobre o que você gosta – Talita respondeu, a voz ficando mais firme.

Ao chegarem no apartamento de Filipe, Talita pegou sua bolsa e fez algo que Filipe não esperava.

– Acho melhor eu ir pra casa do João hoje. Preciso de um tempo pra pensar.

Filipe a olhou, incrédulo.

– Tá falando sério? A gente tá só discutindo... Não precisa ir embora por causa disso.

– Eu preciso de um tempo – ela respondeu, decidida. – Fica bem.

Sem mais palavras, Talita saiu, pegou um táxi e foi direto para a casa de João, seu melhor amigo. Ele a recebeu com um abraço e sem fazer muitas perguntas, entendendo que ela precisava de um espaço para desabafar.

– O que houve? – João perguntou, sentando-se ao lado dela no sofá.

Talita suspirou, contando a ele tudo o que havia acontecido no estádio e no caminho de volta.

– Eu sei que parece bobo, mas é como se ele não se importasse com o que eu sinto, sabe? Hoje foi só futebol, mas e se isso acontecer com outras coisas?

João a ouviu atentamente, sempre sendo o ombro amigo que Talita precisava. Ele sabia o quanto ela estava investida naquele relacionamento e o quanto Filipe era importante para ela.

– Eu acho que vocês precisam conversar. Ele provavelmente nem percebeu o quanto te machucou, mas também precisa entender que não é só sobre o que ele gosta. Você tem todo o direito de querer ser ouvida.

Talita assentiu, sabendo que João tinha razão. Ela precisava falar abertamente com Filipe sobre o que estava sentindo.

Na manhã seguinte, Filipe enviou várias mensagens pedindo desculpas e tentando marcar um encontro para conversarem. Apesar de ainda estar chateada, Talita sabia que precisava resolver a situação, então aceitou.

Eles se encontraram em um café, longe de qualquer distração. Filipe parecia sinceramente arrependido e, antes mesmo de ela dizer algo, ele começou:

– Eu pensei muito sobre o que você disse ontem... E você tá certa. Eu fui egoísta em achar que você ia gostar só porque eu gosto. Desculpa por não perceber como você estava se sentindo.

Talita respirou fundo, sentindo um peso sair de seus ombros.

– Eu não quero que você mude quem você é, Filipe. Eu só preciso que você perceba que estamos juntos nisso. Não é só sobre você, sabe?

– Eu entendo – ele respondeu, segurando a mão dela sobre a mesa. – Eu vou tentar ser mais atento a essas coisas. Porque você é importante demais pra mim, e eu não quero que você se sinta de lado.

Talita sorriu, sentindo a sinceridade nas palavras dele.

– Eu também vou tentar ser mais compreensiva. Sei que o futebol é parte da sua vida, mas talvez a gente possa encontrar um equilíbrio.

Eles conversaram por mais algumas horas, rindo e desabafando, até que o peso da discussão parecia ter desaparecido. Ao final, Filipe olhou nos olhos dela e, com um sorriso, disse:

– Vamos fazer o seguinte: da próxima vez, você escolhe o programa. Só não me leve a um jogo do Flamengo, por favor.

Talita riu, aliviada por ver que, apesar das dificuldades, eles estavam prontos para seguir em frente, mais fortes do que antes.

𝑴𝒊𝒏𝒉𝒂 𝑳𝒖𝒛 - 𝑭𝒊𝒍𝒊𝒑𝒆 𝑹𝒆𝒕Onde histórias criam vida. Descubra agora