Capítulo 48

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Raphael observava Adeline enquanto ela tragava o cigarro com calma, seus olhos perdidos na escuridão à frente. Ele já havia passado tanto tempo observando as pessoas, manipulando suas ações, que era raro ser surpreendido por qualquer coisa. Mas estar com Adeline, especialmente agora, era diferente. A cada momento, ele sentia que algo dentro dele estava mudando, como se algo estivesse despertando. Ele se aproximou um pouco mais, sentindo a brisa fria da noite, e ela notou.

— Gosto da sua companhia — disse Adeline, quebrando o silêncio com uma voz baixa e tranquila. — É... bom estar com você.

Aquelas palavras, por mais simples que fossem, atingiram Raphael de uma maneira inesperada. Ele ficou quieto por um instante, o olhar fixo em Adeline, enquanto seu coração acelerava de forma incomum. Ela era alguém que jogava o jogo tão bem quanto ele, e talvez por isso, ouvir algo tão honesto dela teve um efeito perturbador.

— Você realmente acha isso? — Raphael perguntou, um riso leve escapando de seus lábios, embora seu tom de voz traísse uma curiosidade genuína.

— Acho. — Ela deu de ombros, virando-se para encará-lo. — Com você, sinto que não preciso fingir o tempo todo. Pelo menos, não tanto quanto com os outros.

A confissão pairou no ar por um segundo, fazendo Raphael sentir um calor crescer em seu peito, algo que ele não reconhecia completamente. Havia algo no jeito que ela falava que o tocava de uma maneira inesperada. Ele se pegou rindo, mas dessa vez, não de forma sarcástica ou calculada. Era um riso verdadeiro, quase nervoso.

— O que foi? — Adeline perguntou, arqueando uma sobrancelha.

— Nada... — Raphael deu um leve sorriso, ainda digerindo aquele sentimento estranho. — Só que... você me surpreende, Adeline.

Adeline soltou a fumaça devagar, como se estivesse ponderando sobre algo.

— Sobre o Andy... — começou ela, e Raphael ficou imediatamente atento. — Não sei o que vai acontecer no final, mas não quero ter que descartá-lo agora.

Raphael sentiu o corpo ficar tenso. Adeline falava de "descartar" Andy com a mesma frieza que ele conhecia dela, mas havia algo mais ali.

— Eu faria o que fosse preciso para mantê-lo por perto. — Ela continuou, sua voz ganhando um tom mais suave. — Talvez... quem sabe... poderia haver algo a mais.

Raphael ficou em silêncio por um momento. Ela estava falando sobre Andy, mas não sabia que estava falando diretamente dele. E, por algum motivo, aquelas palavras despertaram um tipo de felicidade incomum dentro dele. Um sorriso lento se formou em seus lábios, e ele não pôde evitar rir novamente, mas desta vez, o riso carregava algo mais profundo — uma satisfação que ele não sabia que poderia sentir.

— Isso vai ser divertido — disse Raphael, seus olhos brilhando com uma mistura de expectativa e curiosidade.

Adeline apenas sorriu, lançando-lhe um olhar cúmplice antes de voltar a tragar seu cigarro. Raphael, por sua vez, ficou ali, observando-a. A tensão entre eles crescia lentamente, e ele sentia que algo muito maior estava se desenvolvendo entre ambos.

"Ela quer manter Andy por perto," Raphael pensou, um calafrio de excitação percorrendo seu corpo. "Mal sabe ela que já está exatamente onde eu quero que esteja."

Mas agora, ele não sabia se o jogo ainda era só sobre controle. Talvez, pela primeira vez, Raphael se visse querendo mais do que isso. Adeline tinha despertado algo nele, e ele estava ansioso para ver onde isso os levaria.

Raphael e Adeline, depois de conversarem e trocarem olhares cúmplices, finalmente decidiram entrar para dentro da casa, onde o restante do grupo ainda estava se recuperando. A tensão e o desconforto ainda pairavam no ar, com todos tentando superar o trauma da recente perseguição. Adeline, ou melhor, "Addi" como gostavam de chamá-la, parecia mais tranquila, o que, para Raphael, era sempre um sinal de alerta. Ele sabia que ela era boa em disfarçar o que realmente sentia.

Dentro da casa, o grupo parecia ter decidido uma distração. Para tentar esquecer, pelo menos por um momento, tudo o que tinham passado, resolveram assistir a um filme. Raphael se acomodou no canto do sofá, onde podia observar tudo e todos. Seus olhos estavam fixos em Adeline, que estava ao lado de Ayllia, sua melhor amiga. Elas riam e conversavam como se a perseguição mortal que haviam acabado de enfrentar fosse um pesadelo distante, enterrado por um momento de distração.

No entanto, enquanto Raphael olhava para elas, algo começou a se agitar dentro dele. Ver Adeline tão próxima de Ayllia, rindo e tocando-a de maneira casual, fez um incômodo surgir em seu peito. A sensação era nova, estranha, como se uma faísca de ciúme e possessividade o atravessasse. Ele se sentia incomodado ao ver Adeline tão próxima de outra pessoa, como se, de alguma forma, ela pertencesse a ele, e ele não gostava da ideia de ninguém mais a tocando.

"Ela é minha!" Raphael pensou, um pensamento rápido e irracional que ele logo tentou afastar. "Isso é ridículo. Ela não é de ninguém. Certamente não minha." Mas, por mais que tentasse ignorar, o incômodo continuava a crescer.

O filme começava a passar na TV, as luzes estavam baixas, e todos estavam tentando relaxar. Raphael, no entanto, não conseguia prestar atenção na tela. Seus olhos estavam grudados em Adeline, e toda vez que ela ria ou tocava o braço de Ayllia, uma onda de ciúmes o invadia. Ele respirou fundo, tentando manter a calma, mas sua mente estava a mil.

Por mais que ele tentasse racionalizar, algo em Adeline o atraía de maneira poderosa. A confiança, o jeito imprevisível, a forma como ela o entendia sem que ele precisasse dizer uma palavra. E agora, vê-la com outra pessoa, tão à vontade, estava mexendo com ele de um jeito que ele não sabia lidar.

"Não seja idiota, Raphael,"ele se repreendeu mentalmente. "Você está aqui para jogar seu jogo. Não tem espaço para esse tipo de distração."

Mas era mais fácil falar do que fazer. Ele se revirava no sofá, tentando encontrar uma posição confortável, enquanto as risadas e o filme enchiam a sala. Sua mente, porém, estava longe. Ele sabia que essa sensação de possessividade era irracional, mas não conseguia evitar. Algo em Adeline despertava o lado mais sombrio dele, o lado que queria controlar, dominar, ser o único a quem ela se voltava.

Por fim, Raphael desistiu de tentar ignorar seus sentimentos. Ele passou o resto do filme absorto, pensando na estranha conexão que tinha com Adeline. Aquela noite havia mudado algo entre eles, e ele sabia que, a partir daquele momento, não seria mais o mesmo. O jogo que eles jogavam estava prestes a ficar muito mais complicado, e Raphael estava ansioso, e ao mesmo tempo inquieto, para ver até onde isso o levaria.

Ao final do filme, o grupo começou a se dispersar, e Raphael observou mais uma vez Adeline se despedindo de Ayllia com um sorriso casual. Ele não disse nada, mas seus pensamentos estavam cheios de caos, uma mistura de ciúmes e curiosidade sombria. "Vamos ver quanto tempo isso dura,"ele pensou, observando Adeline antes de sair da sala.

Sick  stallkerOnde histórias criam vida. Descubra agora