Capítulo 58

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Nos dias que se seguiram, Adeline desempenhou seu papel com maestria. Sempre presente, sempre disposta a ajudar. Quando o assunto voltava para Andy e as recentes movimentações suspeitas, ela era a primeira a sugerir ideias para caçá-lo. Fazia questão de parecer determinada, mas não excessivamente. Equilibrava as atitudes com um cuidado meticuloso, como uma atriz experiente desempenhando o papel de sua vida.

Otto, Fernando, e Ayllia seguiam confiando em sua presença, mas ela percebia os olhares. De tempos em tempos, Ayllia olhava fixamente para ela, como se tentasse ler através de suas palavras. Otto parecia mais distante, mais introspectivo, enquanto Fernando oscilava entre ser o cético e o otimista.

— Se continuarmos nesse ritmo, não vamos chegar a lugar nenhum — Fernando comentou uma tarde, cansado, enquanto jogava os braços para trás, encostando-se na cadeira da sala. — A cada passo que damos, ele parece três à frente.

Adeline, sentada no sofá, tentava não parecer afetada. — É por isso que precisamos ajustar o plano. Criar uma distração maior, algo que ele não possa ignorar.

Ayllia cruzou os braços, olhando de lado para Adeline. — E você tem alguma ideia do que seria essa distração?

Adeline sorriu de leve, fingindo um ar pensativo. — Talvez algo pessoal. Otto, você poderia fingir... sair do grupo por se sentir ameaçado demais. Andy parece gostar de jogar com nossas emoções. Se pensarmos bem, isso pode atrair ele.

Otto olhou para ela, visivelmente desconfortável com a ideia, mas antes que pudesse responder, Fernando interveio.

— Pode funcionar. Otto, se você se afastar e ele acreditar que estamos vulneráveis, é provável que ele ataque. Mas, ao mesmo tempo, estaremos prontos para revidar.

Ayllia continuou a observar Adeline, seus olhos afiados como lâminas. — Não acho que seja tão simples assim, mas... vale a tentativa. Só espero que tudo isso não seja uma cilada maior do que a que estamos tentando armar.

Adeline quase congelou por dentro. Por um breve segundo, sentiu o peso das palavras de Ayllia ameaçar desmoronar sua fachada, mas respirou fundo e respondeu com serenidade. — Eu entendo sua preocupação, mas é um risco que temos que correr. Se continuarmos na defensiva, ele vai nos controlar.

***

Naquela noite, enquanto todos se dispersavam, Adeline voltou a encontrar Raphael em uma ligação secreta. Desta vez, sua voz estava carregada de uma inquietação que não conseguia mais disfarçar.

— Eles estão desconfiando, Raphael. Ayllia não vai parar de me observar, e Otto está ficando cada vez mais distante. Eles estão começando a ver através de mim — confessou, apertando o telefone contra o ouvido.

Raphael, do outro lado, manteve seu tom despreocupado. — Isso era esperado. Mas não se preocupe. Você só precisa continuar a ser convincente o suficiente. Eles podem desconfiar, mas nunca terão provas. Não enquanto eu estiver no controle.

— E se eles descobrirem? — Adeline questionou, mais desesperada desta vez. — Se descobrirem que eu sou "o novo amigo" que apareceu para ajudar, vai acabar tudo.

— Eles não vão. Confie em mim, Adeline — Raphael insistiu, com uma calma que a irritava. — Quando o momento certo chegar, estarei lá para resolver tudo. Enquanto isso, você tem um papel a desempenhar. E, pelo que vejo, você está indo muito bem.

Adeline mordeu o lábio, seus dedos apertando com força o telefone. — Não parece assim. O plano está ficando fora de controle. Estou começando a achar que você está me usando tanto quanto está usando eles.

Raphael riu do outro lado, uma risada suave, mas fria. — Todos nós somos peões nesse jogo, Adeline. A diferença é que você sabe disso. Agora, faça o que tem que fazer. Finja que está lutando contra mim, e eu prometo que, no fim, estaremos do lado vencedor.

Adeline desligou o telefone sem responder, sentindo o coração bater forte contra o peito. Raphael estava certo — ela sabia que era apenas uma peça no grande esquema dele. Mas o que a assustava era a sensação de que, no final, nem mesmo ela sabia qual seria o verdadeiro desfecho.

***


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