Riquele não conseguia respirar direito. As palavras de Eunha ainda ecoavam, como um veneno que lhe corroía por dentro. "Yoongi é um deles." Era impossível, ou pelo menos ela desejava que fosse. Mas a dor nos olhos dele, enquanto lutavam lado a lado, agora ganhava outro significado.
Naquele final de tarde, o grupo reuniu-se no que restava do esconderijo. Seokjin estava ao lado de JungKook, que ainda mantinha o semblante duro. Yoongi, por sua vez, mantinha-se à distância, seu olhar perdido em pensamentos profundos.
— Precisamos decidir o próximo passo, — JungKook declarou, seu tom frio, mas resoluto.
Seokjin assentiu, examinando o mapa desgastado. — Os reforços da organização logo estarão aqui. Devemos evacuar e nos reagrupar.
Yoongi permaneceu em silêncio, e Riquele, embora se esforçasse para manter a calma, sentiu o peso das revelações. Ela não podia mais ignorar o que Eunha dissera. Sua desconfiança agora era uma presença quase tangível.
Quando o grupo finalmente se dispersou para fazer as preparações, Riquele aproveitou o momento e se aproximou de Yoongi. Ele parecia perceber a aproximação, mas não olhou para ela.
— Precisamos conversar, — ela disse, a voz embargada.
Ele finalmente ergueu o olhar, e o que ela viu ali era mais do que tristeza. Era uma mistura de resignação e culpa.
— Eu sei o que está pensando, — ele murmurou. — E você tem o direito de perguntar. Eu... menti para você.
Ela sentiu o peito apertar. — Então é verdade? Você tem uma ligação com a organização?
Yoongi fechou os olhos por um breve instante, como se estivesse revivendo algo doloroso.
— Eles me recrutaram há anos, — ele começou, a voz sombria. — Quando eu ainda acreditava que havia algo bom no que faziam. Não demorou para perceber o quanto estava errado. Mas, quando quis sair, já era tarde. Eu estava preso. Eu pensei... pensei que poderia usar minha posição para lutar contra eles, por dentro. Mas então você apareceu, e tudo mudou.
Ela queria acreditar, queria desesperadamente que ele fosse sincero. Mas a dúvida estava lá, atormentando-a.
— Por que você nunca me contou isso? — Riquele perguntou, tentando conter o tremor na voz.
Yoongi abaixou a cabeça, o peso do que carregava estampado em seu semblante. — Porque eu sabia que você não me perdoaria por manter essa ligação, por mais que eu tentasse usá-la para o bem.
Riquele recuou um passo, o coração dilacerado. Mas antes que pudesse responder, JungKook entrou na sala, interrompendo a conversa.
— Precisamos ir. O perímetro já foi comprometido, — ele disse, olhando diretamente para Yoongi com uma frieza inabalável.
O caminho até o próximo esconderijo foi silencioso, cada um absorto em seus próprios pensamentos. Quando finalmente chegaram, Seokjin providenciou o necessário para a noite enquanto JungKook assumia a vigília. Riquele tentou descansar, mas os olhos de Yoongi, a promessa de proteção de JungKook, e as palavras venenosas de Eunha rodopiavam em sua mente, formando uma tempestade de emoções conflitantes.
***
Na madrugada, um sussurro despertou Riquele. JungKook estava ao lado dela, seus olhos sérios e determinados.
— Precisamos conversar, — ele disse, puxando-a para fora da sala. Ele parecia pronto para revelar algo que mantinha guardado há muito tempo.
Eles se sentaram lado a lado em uma escada de metal no exterior do esconderijo, onde apenas o som da respiração de ambos quebrava o silêncio da noite. JungKook olhou para ela, com uma intensidade que fazia o mundo ao redor desaparecer.
— Eu não suportei vê-la naquela sala com ele, — JungKook começou, a voz carregada de emoção. — Não posso esconder o que sinto por você, Riquele. E, apesar de tudo, eu preciso que você saiba que estou ao seu lado. Não importa o que aconteça.
Ela não conseguiu responder de imediato, o peito cheio de emoção. Ele segurou a mão dela com firmeza, transmitindo uma segurança que ela sabia que era genuína.
— Obrigada, JungKook. Eu... — Ela hesitou, as palavras falhando.
Mas antes que pudesse continuar, um som de passos interrompeu o momento. Yoongi apareceu, a expressão enrijecida, o olhar de relance para as mãos entrelaçadas de JungKook e Riquele. A tensão entre os três aumentou, como se o ar estivesse eletricamente carregado.
— Temos uma pista sobre o próximo passo de Eunha, — Yoongi disse, cortando o silêncio.
JungKook levantou-se, liberando a mão de Riquele, mas lançou um último olhar carregado de significado para ela. A missão os chamava, e Riquele sabia que seria o divisor de águas para todos.
***
Naquela noite, eles seguiram para o local onde Eunha supostamente estaria. Ao chegarem, o prédio abandonado parecia vazio, mas a presença ameaçadora pairava no ar. Yoongi liderou o grupo, os passos firmes apesar das sombras da dúvida que carregava.
De repente, um som metálico ecoou. Portas trancadas se fecharam ao redor deles, e o sorriso cínico de Eunha ressoou no alto-falante.
— Bem-vindos ao último jogo, — ela disse, o tom ácido. — Yoongi, JungKook, Riquele... Vamos ver até onde vai a lealdade de cada um de vocês.
Luzes fortes se acenderam, revelando capangas da organização ao redor. Estavam cercados, mas nenhum deles hesitou. Riquele, Yoongi e JungKook prepararam-se para lutar, cada um movido por seus próprios motivos.
Durante a batalha, Eunha apareceu, empunhando uma arma e mirando diretamente em Yoongi. Riquele, sem pensar, atirou-se na frente dele, mas JungKook foi mais rápido, empurrando ambos para longe. A bala passou raspando por JungKook, mas ele manteve-se firme, enfrentando Eunha com uma determinação feroz.
Finalmente, depois de um confronto intenso, conseguiram subjugar os capangas e capturar Eunha. O olhar de fúria dela era acompanhado por um sorriso enigmático, como se tivesse conseguido o que queria.
— Vocês não podem escapar da verdade, — ela sussurrou, os olhos fixos em Riquele.
Quando tudo terminou, Riquele, JungKook e Yoongi ficaram em silêncio, exaustos, mas com a sensação de que aquele era apenas o começo de uma nova batalha. Os sentimentos não resolvidos entre eles eram como feridas abertas, que sangravam lenta e continuamente, mas cada um sabia que a lealdade e a confiança seriam testadas novamente.
E no fundo, Riquele sabia que sua escolha ainda estava por vir — uma escolha que determinaria não apenas o futuro do grupo, mas o seu próprio.
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Sombras de Seoul
FanfictionRiquele, uma jovem brasileira de espírito livre e determinada, é transferida para Seoul para uma nova fase de sua vida. Logo, ela se vê envolvida no mundo perigoso de Min Yoongi, um mafioso frio e calculista, também conhecido como Suga. Em um mundo...