Pablo examinava os desenhos que retratavam Taehyung com atenção. Os irmãos haviam decidido entregar as folhas ao humano que o acompanhava quando viram o pela primeira vez no oceano. Ele provavelmente era o autor daquelas artes, essa entrega fazia parte de uma "missão" que eles mesmos haviam criado — cada irmão que subiu à superfície tinha uma tarefa única a cumprir. Era uma tentativa de tornar a viagem mais interessante e, inevitavelmente, mais caótica e divertida.
Enquanto admirava os traços habilidosos no papel, Pablo refletia sobre algo que, finalmente, fazia sentido: a proibição tão severa do pai sobre a terra firme. Ele nunca havia entendido completamente as razões por trás disso, mas agora, vivendo essa experiência, compreendia.
Pois não era amor o que sentia pela jovem da casa onde estava hospedado, disso ele tinha certeza. No entanto, havia algo viciante em estar perto dela. Seu cheiro era inebriante, quase hipnótico; sua voz, um deleite que fazia sua mente vacilar. Ele percebia que, inconscientemente, sempre queria mais daquilo, e isso o assustava. Esse desejo era perigoso.
A cada instante ao lado dela, tornava-se evidente por que seu pai temia tanto o mundo humano. As humanas eram um ponto fraco para os sirenes, fossem tritões ou sereias. Essa constatação o fez estremecer. Era fácil entender de onde surgiam as lendas de monstros aquáticos que sequestravam ou engravidavam jovens humanas como a do Boto. Não eram meras histórias; eram advertências para as moças.
Depois de guardar os desenhos em um local seguro, longe da curiosidade dos moradores da casa, Pablo começou a refletir sobre como poderia encontrar o humano responsável por aquelas artes. Ele tinha quase certeza de que o autor era alguém ligado à família real. Os desenhos carregavam uma assinatura peculiar, um detalhe específico que, para ele, sugeria uma conexão direta com a realeza. Além disso, as histórias que ouvira sobre o príncipe humano e a forma como as descrições físicas coincidiam com o homem que avistara no mar reforçavam ainda mais sua teoria.
No entanto, infiltrar-se na nobreza parecia uma missão quase impossível. Além disso, todos os membros da corte haviam sido deslocados para longe devido ao recente alagamento que devastou aquela parte do reino humano. Essa distância só tornava a tarefa ainda mais complicada, mas Pablo não pretendia desistir. Encontrar aquele humano prometia tornar sua viagem ainda mais divertida e memorável, e os obstáculos só iriam adicionar um toque de aventura.
Um som de batidas na porta interrompeu seus pensamentos. Pablo levantou-se, dirigindo-se até a entrada. Ao abrir a porta, deu de cara com Liliana, que trazia consigo um rapaz alto, de pele morena e cabelos cacheados. O jovem estava visivelmente desconfortável, embora tentasse mascarar sua irritação — sem muito sucesso.
— Pablo, esse é meu namorado, Miguel! — Liliana disse com um sorriso doce, sua voz animada cortando a tensão no ar.
Pablo olhou de Miguel para Liliana e, então, de volta para Miguel. A postura rígida do rapaz, a maneira como seus olhos avaliavam cada movimento de Pablo, denunciavam o que ele sentia. Era evidente que Miguel não gostava da sua presença, ou talvez apenas não apreciasse a atenção que Liliana dedicava ao hóspede.
— Prazer, Miguel. — Pablo estendeu a mão, mantendo um sorriso amigável. Ele podia sentir a tensão no ar e, por instinto, sabia que aquilo seria interessante.
Miguel olhou para o rapaz com atenção antes de apertar sua mão. No instante em que o fez, um arrepio percorreu sua espinha, como se algo nele despertasse um alerta silencioso. Pablo era bonito — de uma forma peculiar e magnética que, de algum modo, o fazia lembrar de Taehyung. Não que eles compartilhassem traços semelhantes, mas havia algo na aura, na intensidade do olhar ou talvez na postura confiante que os conectava em sua mente.
A ideia o incomodou. Ele não conseguia definir exatamente o que era, mas aquela semelhança abstrata mexia com ele. Miguel afastou o pensamento rapidamente, convencendo-se de que não passava de paranoia misturada com o ciúme que sentia do rapaz. Porém, não pôde evitar se perguntar se havia algo mais profundo naquilo, algo no moço que o fazia se sentir tão... desconfortável.
— Prazer. — Miguel respondeu seco, seus olhos avaliando Pablo de cima a baixo.
— Eu sou um mercador viajante. Estou passando alguns dias nesse reino — disse Pablo, com um sorriso cordial. — Estou... vendo se há como montar um negócio por essas bandas.
— Os meninos falaram que você tem muitas pérolas... e sal — Miguel comentou, tentando parecer casual, mas sua voz entregava a intenção de investigar.
— Sim, minha família tem uma forte conexão com o mar. Vendemos recursos de lá para diferentes reinos — respondeu Pablo, ampliando sua história com uma naturalidade impressionante. — E você? O que faz? — retrucou, sua expressão mantendo um misto de curiosidade genuína e calculada.
Miguel hesitou por um momento, como se ponderasse se deveria responder ou não.
— Eu sou o escudeiro da rainha. Recebi essa promoção recentemente, mas já trabalho no castelo há alguns anos. — Ele cruzou os braços, adotando um tom levemente defensivo, embora tentasse não demonstrar insegurança.
Pablo assentiu, os olhos brilhando com o novo dado.
— Interessante. Então, talvez possamos fazer negócios juntos. Sua conexão com a rainha pode ser bastante útil... A maioria dos plebeus não pode pagar pelas pérolas, mas a realeza sempre parece adorá-las. — Ele sorriu, como se estivesse apenas sendo amigável, mas, por dentro, agradecia aos deuses pela oportunidade que havia surgido inesperadamente.
Essa conexão direta com o palácio parecia ser a chave perfeita para cumprir sua tarefa. Miguel estreitou os olhos, considerando a proposta enquanto cruzava os braços de forma mais relaxada, deixando a birra inicial de lado. O estrangeiro poderia ser um atirado, mas negócios eram negócios.
— E como isso me beneficiaria, exatamente? — Ele perguntou, testando as intenções de Pablo, embora claramente interessado.
Pablo sorriu, como se já esperasse essa pergunta. — Bem, sem sua ajuda, não vou conseguir vender nada do meu estoque além fazer escambos. Isso significa perder muitas pérolas e reduzir muito o valor do que tenho. Se você fizer a conexão com a rainha e outros membros da nobreza, como príncipes ou barões, posso oferecer um quinto dos lucros a você. — Ele fez uma pausa estratégica. — Pense nisso como um investimento... e uma oportunidade de fortalecer sua posição como escudeiro.
Miguel o encarou por um momento, considerando a proposta. O rapaz claramente sabia negociar. A possibilidade de lucrar e, ao mesmo tempo, se aproximar de figuras importantes da corte era tentadora.
— Um quinto? — Ele arqueou a sobrancelha, inclinando-se ligeiramente. — Parece justo... desde que você tenha mesmo algo valioso no seu estoque para atrair a atenção deles.
Pablo manteve a expressão confiante, embora internamente estivesse satisfeito com a resposta. — Ah, eu tenho. Você vai ver que a qualidade do que trago não será um problema.
Miguel ponderou mais um instante antes de estender a mão novamente. — Está bem. Mas saiba que, se me meter em confusão com a realeza, essa parceria acaba.
— Justo. — Pablo apertou a mão dele, o sorriso largo de quem acabava de garantir um passo importante para seus objetivos.
Liliana, que havia sido deixada de lado na conversa, observava a interação com um sorriso satisfeito. Quando Miguel chegou à casa mais cedo, claramente alterado e cheio de ciúmes devido às fofocas, ela temeu que ele fizesse uma cena. No entanto, ver como ele agora se mostrava racional e estrategista a enchia de orgulho.
Era exatamente essa determinação dele, junto com essa vontade de crescer e melhorar, que ela admirava tanto nele. Miguel nunca aceitava ficar parado acomodado com sua situação; ele estava sempre buscando oportunidades, mesmo em situações inesperadas como aquela.
PS: Tem um spinoff em andamento focado no Miguel e como ele impactou na vida das pessoas ao seu redor o nome é "As cronicas de Miguel", tem alguns capitulos já postados mostrando o ponto de vista do Miguel sobre as coisas. Tem o passado do Jimin nas cronicas porque ambos são amigos desde a infancia e lá introduz também outros personagens que aparece no livro principal
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Destiny - Vmin
FanfictionNos confins do oceano e no coração de um reino terrestre, dois mundos colidem através de segredos, alianças políticas e um amor proibido. Jimin, o príncipe herdeiro de um reino humano, luta contra a opressão de um rei cruel e os perigos de uma corte...