55. Motivos

6 4 13
                                    

Mikha percorria os corredores do palácio, os dedos inquietos segurando as dobras de sua saia. A cada passo, o silêncio parecia gritar, intensificando o caos de pensamentos que a dominava. A ausência de notícias de Joon era um lembrete cruel de que o tempo estava se esgotando. Ela confiava nele, mas o silêncio era ensurdecedor.

Enquanto vagava sem rumo, uma porta entreaberta chamou sua atenção. Lá dentro, em uma cama luxuosa, uma mulher estava recostada, pálida e com olhos cansados. Mikha hesitou, mas sua curiosidade a impeliu a entrar.

Ela já ouvira muitos comentários sobre aquela mulher — alguns bons, mas a maioria carregados de críticas. Até Miguel, normalmente justo, não economizava palavras duras ao falar dela. Ao se aproximar, Mikha percebeu algo que nunca tinha testemunhado antes: uma mulher humana grávida.

Os olhos da jovem se fixaram na barriga arredondada, movendo-se suavemente com a respiração da mulher. "Então é assim que elas carregam seus filhos...", pensou, intrigada.

De repente, a mulher abriu os olhos, a voz fraca, mas cautelosa:

— Quem é você?

Mikha hesitou, mas sorriu gentilmente.

— Só alguém curioso. Como você está?

A concubina suspirou, fechando os olhos novamente.

— Cansada. E preocupada. Meu filho... quero que ele tenha um futuro seguro.

Mikha inclinou a cabeça, observando-a mais de perto. Havia sinceridade em suas palavras, algo que não combinava com a imagem de uma mulher manipuladora que tanto ouvira falar. Talvez os rumores estivessem errados.

Em outro canto do palácio, Pablo sentava-se em um banco de madeira, espalhando papéis e listas sobre a mesa diante dele. Sua expressão estava concentrada, quase severa.

— Quem está por trás disso? — murmurou para si mesmo, rabiscando nomes e cruzando informações.

Miguel entrou na sala, carregando um prato de frutas.

— E estranho ver você tão empenhado em descobrir quem está tentando matar o Jimin, vocês sirenes só me confundem — falou, colocando o prato sobre a mesa — Mas mesmo que eu não entenda é bom confiar em você, o Jimin está quase saudavel e fora de perigo com sua ajuda.

Pablo ergueu uma sobrancelha, pegando uma uva.

— Não entende? Miguel, se algo acontecer a Jimin, o que acha que Taehyung fará?

Miguel suspirou, sentando-se em frente do tritão.

— Ele ficaria devastado, claro. Eu também, não quero nem pensar nisso

Pablo bufou.

— Devastado é pouco. Taehyung poderia destruir o  reino inteiro sem perceber.

— Você acha mesmo que ele seria capaz disso? — Miguel perguntou, desconfiado.

— Eu já te disse que sim antes, não por escolha, mas pela natureza dele, a nossa natureza e nossos sentimentos são ligados ao mar. — Pablo deu uma mordida na uva, inclinando-se para frente. — Se a pessoa que está tentando matar Jimin for bem-sucedida, estaremos todos em apuros.

Miguel franziu o cenho, preocupado.

— Você encontrou alguma coisa?

— Algumas pistas. — Pablo apontou para um nome destacado na lista. — Excluí os criados mais antigos e confiáveis e rastreei vendedores de belladona na região. Um jovem criado da cozinha contratado recentemente chamou minha atenção. Ele supostamente comprou belladona de um vendedor local recentemente.

— Tem certeza?

— Ainda não — respondeu Pablo, levantando-se e organizando seus papéis. — Mas vou ter.

Antes que ele pudesse sair, Miguel segurou seu braço.

— Espere. Se esse homem é capaz de envenenar um príncipe, você acha que ele hesitaria em te machucar?

Pablo olhou para Miguel e com um sorriso confiante, apontou para ele com uma uva que pegou do prato.

— Não sou tão forte quanto Taehyung, mas ainda sou um tritão. Isso me dá muita vantagem. — Ele colocou a uva na boca antes de continuar: — Mas o que mais me intriga não é ele em si, e sim quem está por trás dele.

Miguel franziu o cenho.

— Você acha que ele está seguindo ordens?

— Com certeza. — Pablo inclinou-se para a mesa, pegando a lista. — Jimin é bem-visto por todos neste palácio. Um criado comum não teria motivos pessoais para matá-lo.

Miguel ponderou por um momento.

— A menos que ele fosse um bastardo e tivesse raiva do filho legítimo por ser o herdeiro.

— Hm, improvável. — Pablo balançou a cabeça, descartando a ideia. — Bastardos podem sentir rancor, mas em geral isso não leva a assassinatos. Além disso, há algo que me intriga mais.

— O que seria?

— O rei.

Miguel piscou, confuso.

— O que tem o rei?

Pablo começou a andar de um lado para o outro, gesticulando.

— Os criados disseram que ele mudou. Começou a passar mais tempo com Jimin pouco antes do príncipe adoecer. Ele até cuidava pessoalmente da saúde do rapaz. Isso não é estranho?

Miguel ficou em silêncio por um momento antes de responder:

— Muito. Ele sempre ignorou Jimin. Quando o príncipe era criança, isso o machucava profundamente.

— Interessante... — murmurou Pablo, juntando as informações mentalmente. — Então ele mudou de comportamento logo antes de Jimin adoecer.

Miguel pegou uma maçã do prato e a girou entre os dedos.

— Isso me incomodou desde o começo. Fiquei surpreso quando os criados comentaram que o rei estava dedicando atenção ao Jimin. Foi tão... repentino.

— Exatamente. — Pablo parou de andar e olhou para Miguel, pensativo. — O rei pode não gostar do filho, mas mesmo assim, um herdeiro saudável é precioso. Não faria sentido matá-lo, especialmente porque a concubina pode estar grávida de uma menina.

— Desconfiado do rei? — Miguel pergunta — Mesmo se tivesse a remota chance de ser ele, qual seria o motivo?

— Essa é a pergunta que eu vou responder.

Com passos decididos, Pablo deixou a sala, carregando o peso de suas suspeitas. Ele sabia que as respostas estavam próximas e que a verdade tinha consequências que iam além da segurança de Jimin.

Enquanto isso, Mikha caminhava em silêncio por outro corredor do palácio, seus pensamentos tão agitados quanto seus passos. O encontro com a concubina ainda estava fresco em sua mente. Ela parou em frente a uma das janelas altas, observando o céu acinzentado lá fora.

"Eu a julguei cedo demais..." pensou Mikha, mordendo o lábio inferior. A lembrança da mulher pálida e visivelmente debilitada, com a mão repousando sobre a barriga arredondada, voltou à sua mente. 

As palavras da mulher ainda ecoavam na mente de Mikha. Havia sinceridade naquelas poucas palavras. O tipo de sinceridade que dificultava acreditar que ela fosse culpada por algo tão cruel quanto envenenar Jimin.

Mas havia mais no palácio do que aparentava à primeira vista. Mikha sabia disso. O silêncio dos corredores parecia ocultar segredos em cada canto, e cada nova descoberta a aproximava mais do verdadeiro responsável.

Assim como Pablo, ela estava determinada a encontrar respostas — isso a destraia de seus proprios problemas.

Destiny - VminOnde histórias criam vida. Descubra agora