Mikha percorria os corredores do palácio, os dedos inquietos segurando as dobras de sua saia. A cada passo, o silêncio parecia gritar, intensificando o caos de pensamentos que a dominava. A ausência de notícias de Joon era um lembrete cruel de que o tempo estava se esgotando. Ela confiava nele, mas o silêncio era ensurdecedor.
Enquanto vagava sem rumo, uma porta entreaberta chamou sua atenção. Lá dentro, em uma cama luxuosa, uma mulher estava recostada, pálida e com olhos cansados. Mikha hesitou, mas sua curiosidade a impeliu a entrar.
Ela já ouvira muitos comentários sobre aquela mulher — alguns bons, mas a maioria carregados de críticas. Até Miguel, normalmente justo, não economizava palavras duras ao falar dela. Ao se aproximar, Mikha percebeu algo que nunca tinha testemunhado antes: uma mulher humana grávida.
Os olhos da jovem se fixaram na barriga arredondada, movendo-se suavemente com a respiração da mulher. "Então é assim que elas carregam seus filhos...", pensou, intrigada.
De repente, a mulher abriu os olhos, a voz fraca, mas cautelosa:
— Quem é você?
Mikha hesitou, mas sorriu gentilmente.
— Só alguém curioso. Como você está?
A concubina suspirou, fechando os olhos novamente.
— Cansada. E preocupada. Meu filho... quero que ele tenha um futuro seguro.
Mikha inclinou a cabeça, observando-a mais de perto. Havia sinceridade em suas palavras, algo que não combinava com a imagem de uma mulher manipuladora que tanto ouvira falar. Talvez os rumores estivessem errados.
Em outro canto do palácio, Pablo sentava-se em um banco de madeira, espalhando papéis e listas sobre a mesa diante dele. Sua expressão estava concentrada, quase severa.
— Quem está por trás disso? — murmurou para si mesmo, rabiscando nomes e cruzando informações.
Miguel entrou na sala, carregando um prato de frutas.
— E estranho ver você tão empenhado em descobrir quem está tentando matar o Jimin, vocês sirenes só me confundem — falou, colocando o prato sobre a mesa — Mas mesmo que eu não entenda é bom confiar em você, o Jimin está quase saudavel e fora de perigo com sua ajuda.
Pablo ergueu uma sobrancelha, pegando uma uva.
— Não entende? Miguel, se algo acontecer a Jimin, o que acha que Taehyung fará?
Miguel suspirou, sentando-se em frente do tritão.
— Ele ficaria devastado, claro. Eu também, não quero nem pensar nisso
Pablo bufou.
— Devastado é pouco. Taehyung poderia destruir o reino inteiro sem perceber.
— Você acha mesmo que ele seria capaz disso? — Miguel perguntou, desconfiado.
— Eu já te disse que sim antes, não por escolha, mas pela natureza dele, a nossa natureza e nossos sentimentos são ligados ao mar. — Pablo deu uma mordida na uva, inclinando-se para frente. — Se a pessoa que está tentando matar Jimin for bem-sucedida, estaremos todos em apuros.
Miguel franziu o cenho, preocupado.
— Você encontrou alguma coisa?
— Algumas pistas. — Pablo apontou para um nome destacado na lista. — Excluí os criados mais antigos e confiáveis e rastreei vendedores de belladona na região. Um jovem criado da cozinha contratado recentemente chamou minha atenção. Ele supostamente comprou belladona de um vendedor local recentemente.
— Tem certeza?
— Ainda não — respondeu Pablo, levantando-se e organizando seus papéis. — Mas vou ter.
Antes que ele pudesse sair, Miguel segurou seu braço.
— Espere. Se esse homem é capaz de envenenar um príncipe, você acha que ele hesitaria em te machucar?
Pablo olhou para Miguel e com um sorriso confiante, apontou para ele com uma uva que pegou do prato.
— Não sou tão forte quanto Taehyung, mas ainda sou um tritão. Isso me dá muita vantagem. — Ele colocou a uva na boca antes de continuar: — Mas o que mais me intriga não é ele em si, e sim quem está por trás dele.
Miguel franziu o cenho.
— Você acha que ele está seguindo ordens?
— Com certeza. — Pablo inclinou-se para a mesa, pegando a lista. — Jimin é bem-visto por todos neste palácio. Um criado comum não teria motivos pessoais para matá-lo.
Miguel ponderou por um momento.
— A menos que ele fosse um bastardo e tivesse raiva do filho legítimo por ser o herdeiro.
— Hm, improvável. — Pablo balançou a cabeça, descartando a ideia. — Bastardos podem sentir rancor, mas em geral isso não leva a assassinatos. Além disso, há algo que me intriga mais.
— O que seria?
— O rei.
Miguel piscou, confuso.
— O que tem o rei?
Pablo começou a andar de um lado para o outro, gesticulando.
— Os criados disseram que ele mudou. Começou a passar mais tempo com Jimin pouco antes do príncipe adoecer. Ele até cuidava pessoalmente da saúde do rapaz. Isso não é estranho?
Miguel ficou em silêncio por um momento antes de responder:
— Muito. Ele sempre ignorou Jimin. Quando o príncipe era criança, isso o machucava profundamente.
— Interessante... — murmurou Pablo, juntando as informações mentalmente. — Então ele mudou de comportamento logo antes de Jimin adoecer.
Miguel pegou uma maçã do prato e a girou entre os dedos.
— Isso me incomodou desde o começo. Fiquei surpreso quando os criados comentaram que o rei estava dedicando atenção ao Jimin. Foi tão... repentino.
— Exatamente. — Pablo parou de andar e olhou para Miguel, pensativo. — O rei pode não gostar do filho, mas mesmo assim, um herdeiro saudável é precioso. Não faria sentido matá-lo, especialmente porque a concubina pode estar grávida de uma menina.
— Desconfiado do rei? — Miguel pergunta — Mesmo se tivesse a remota chance de ser ele, qual seria o motivo?
— Essa é a pergunta que eu vou responder.
Com passos decididos, Pablo deixou a sala, carregando o peso de suas suspeitas. Ele sabia que as respostas estavam próximas e que a verdade tinha consequências que iam além da segurança de Jimin.
Enquanto isso, Mikha caminhava em silêncio por outro corredor do palácio, seus pensamentos tão agitados quanto seus passos. O encontro com a concubina ainda estava fresco em sua mente. Ela parou em frente a uma das janelas altas, observando o céu acinzentado lá fora.
"Eu a julguei cedo demais..." pensou Mikha, mordendo o lábio inferior. A lembrança da mulher pálida e visivelmente debilitada, com a mão repousando sobre a barriga arredondada, voltou à sua mente.
As palavras da mulher ainda ecoavam na mente de Mikha. Havia sinceridade naquelas poucas palavras. O tipo de sinceridade que dificultava acreditar que ela fosse culpada por algo tão cruel quanto envenenar Jimin.
Mas havia mais no palácio do que aparentava à primeira vista. Mikha sabia disso. O silêncio dos corredores parecia ocultar segredos em cada canto, e cada nova descoberta a aproximava mais do verdadeiro responsável.
Assim como Pablo, ela estava determinada a encontrar respostas — isso a destraia de seus proprios problemas.
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Destiny - Vmin
Fiksi PenggemarNos confins do oceano e no coração de um reino terrestre, dois mundos colidem através de segredos, alianças políticas e um amor proibido. Jimin, o príncipe herdeiro de um reino humano, luta contra a opressão de um rei cruel e os perigos de uma corte...