៚ Alice Trindade
Minha cabeça doía. Não uma dor qualquer, estava prestes a explodir.
O latejar insistente nas minhas têmporas tornava impossível qualquer tentativa de abrir os olhos completamente, e, por um instante, desejei que o mundo ao redor simplesmente parasse. Cada movimento me fazia lembrar do ardor na garganta, das luzes fortes e de... Gv. Aquela última memória veio com uma intensidade que quase me fez perder o fôlego.
"Não, não é possível que tudo aquilo tenha acontecido de verdade", pensei, apertando os olhos e enterrando o rosto no travesseiro, tentando afastar a confusão que me assombrava. As lembranças vinham fragmentadas, mas uma coisa era clara: ele estava lá, segurando-me para que não caísse, ouvindo o que eu mesma não tinha certeza se queria dizer.
Lentamente, comecei a me sentar, sentindo o movimento me desorientar. A luz que entrava pela janela parecia um ataque à minha sanidade. O gosto amargo de Ballena ainda estava na minha boca, e eu me sentia tão envergonhada que queria desaparecer. Não conseguia acreditar que havia me entregado à bebida daquela forma. Me levantei e fui até o banheiro, esperando que uma ducha fria pudesse me ajudar a clarear a mente.
Enquanto a água escorria pelo meu corpo, tentei juntar os pedaços da noite anterior. A dança, as risadas, a sensação de liberdade... e depois, Gv. Sua expressão, o jeito que ele me segurou, o olhar intenso e... Guilherme, esse era o seu nome. Meu coração disparou com a lembrança.
Após me vestir, decidi encarar a realidade. A casa estava em silêncio, mas a presença dele me fazia sentir nervosa. A ideia de encontrar Gv me deixou tensa, e me perguntei como eu conseguiria olhar em seus olhos e lembrar do que havia acontecido. Tentei organizar meus pensamentos enquanto me dirigia à cozinha, mas o coração batia mais rápido a cada passo que eu dava.
Quando entrei na sala, ele estava ali, sentado à mesa, olhando para o celular, com uma expressão fechada. No instante em que nossos olhares se cruzaram, um frio percorreu minha espinha. Ele parecia tão sério, tão distante. O que eu estava esperando? Que ele sorrisse e dissesse que tudo estava bem?
— Bom dia — falei, tentando soar despreocupada, mas minha voz saiu quase como um sussurro.
Gv levantou os olhos, e o olhar intenso dele me pegou de surpresa. Uma mistura de emoções passou pelo seu rosto, mas ele rapidamente disfarçou.
— Bom dia — respondeu, a voz mais fria do que eu esperava.
— Amiga, você acordou — só então notei que Gabriela também estava na cozinha, fazendo um suco — Fiz pra você, vai precisar.
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No Morro do Alemão
RomantizmQuando o quente e o frio se misturam, ocasiona um choque térmico. Então, o que mais poderia acontecer no encontro de duas almas tão diferentes? De um lado há Alice, uma menina doce e ingênua, tem seus princípios e segue o caminho de Deus no evangelh...