Sombras do passado

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Carl Grimes POVs

Malia então fechou os olhos e dormiu, seus traços se suavizando como se, por um momento, o peso do dia tivesse desaparecido. Acho que tudo isso foi demais para ela, tadinha. Passei os dedos de leve pela sua mão, observando cada detalhe. Seus cabelos longos e escuros estavam tão lisinhos, pareciam refletir a pouca luz que vinha do corredor. Sua pele era tão branca quanto a neve, e os lábios levemente rosados davam um contraste perfeito. Suspirei baixinho, sentindo meu coração acelerar. Será que eu estava ficando louco por essa garota?

Antes de sair, me inclinei para perto dela e deixei um beijo suave em sua testa. Algo dentro de mim dizia que precisava protegê-la, de tudo e de todos, inclusive do que estávamos enfrentando. Com um último olhar para ela, caminhei em direção à porta da cela e saí.

No corredor, as vozes pareciam ainda mais altas. Todo mundo estava ali, reunido, e claramente não era para uma conversa amigável. Meu pai entrou de repente, com uma expressão carregada, o que me fez parar e observar de longe.

— Não podemos simplesmente abandonar esse lugar! — Rick começou, sua voz ecoando pelo corredor. — Nós construímos isso juntos, fizemos daqui nosso lar!

Hershel, sempre calmo, respondeu com firmeza:

— Rick, eu entendo o que você quer dizer, mas esses muros não vão aguentar por muito tempo. É perigoso, principalmente para as crianças.

— E pra onde vamos? Hein? — meu pai rebateu. — Não existe outro lugar. Não agora.

As pessoas começaram a murmurar, claramente divididas. Daryl cruzou os braços e entrou na conversa:

— Rick, o velho tá certo. Esses muros são fracos, qualquer outro ataque como esse e já era.

— É, e se tiverem outros atiradores? — falei, dando um passo à frente. Todos me olharam. — Nós não temos como saber de onde pode vir o próximo ataque. Esses muros não vão segurar pra sempre.

Daryl concordou comigo, balançando a cabeça.

— O moleque tem razão. Estamos expostos aqui, e se eles voltarem mais preparados?

Meu pai parecia estar perdendo a paciência, mas antes que pudesse responder, Maggie interveio:

— Então o que você sugere, Rick? Que esperemos outro ataque? Que coloquemos todo mundo em risco?

Carol, que até então estava calada, soltou:

— E se não tivermos escolha? Talvez lutar seja a única opção.

Hershel balançou a cabeça em desaprovação.

— Não estamos falando só de lutar, Carol. Estamos falando de sobrevivência.

A discussão esquentou ainda mais, com todos falando ao mesmo tempo. Glenn parecia dividido, olhando para Maggie e depois para Rick.

Finalmente, meu pai ergueu a voz, encerrando a conversa:

— Escutem bem. Vamos ficar aqui e lutar se for preciso. Esse lugar é tudo o que temos, e eu não vou abandonar o que construímos.

Eu cerrei os dentes. Que ideia brilhante... só que não. Mas ele parecia decidido, e a conversa se desfez, com cada um indo para seu canto.

Me virei e caminhei até o refeitório, onde Beth estava sentada com Judith no colo. A bebê balbuciava algo que parecia um resmungo.

— Ei, Carl — Beth sorriu, tentando animar o clima pesado. — Como você tá?

— Já estive melhor — admiti, sentando ao lado dela. Olhei para Judith, que me encarava com seus grandes olhos curiosos. Não importa o que acontecesse lá fora, ela era um lembrete de tudo pelo qual valia a pena lutar.

My refuge.- Carl GrimesOnde histórias criam vida. Descubra agora