Capítulo 59: O Peso do Silêncio

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O ambiente estava tenso, e o silêncio da sala só aumentava a inquietação. Christiane passava a mão pelos cabelos, andando de um lado para o outro.

— Isso não é normal. Ela disse que não ia demorar, e olha o relógio. Já se passaram horas!

Meryl, sentada no sofá com os braços cruzados, tentava manter a calma.

— Eu sei... Mas Jules é responsável. Talvez tenha perdido a noção do tempo ou esteja presa em algum compromisso. Vamos esperar mais um pouco.

Christiane parou abruptamente e apontou para o celular em cima da mesa.

— Esperar? Eu não consigo só ficar sentada aqui enquanto não sei onde ela está! Vou ligar pra ela.

Meryl suspirou, pegando o aparelho e entregando para ela.

— Tudo bem. Liga, mas tenta não surtar, por favor.

— Não vou surtar, só quero ouvir a voz dela e saber que está tudo bem.

Enquanto Christiane discava o número, o som do celular de Jules ecoou pela sala. As duas olharam em direção ao aparador próximo à porta e viram o aparelho esquecido ali. O toque persistia, como uma provocação.

— Não acredito... Ela deixou o celular aqui? — Meryl franziu o cenho, surpresa.

Christiane desligou a chamada e bufou, indignada.

— Isso só torna tudo pior! Como é que vamos falar com ela agora?

Meryl respirou fundo, tentando manter a racionalidade.

— Calma. Ela pode estar a caminho de casa neste exato momento. Jules não é do tipo que se mete em problemas sem avisar.

— É exatamente isso que me preocupa! E se... e se aconteceu alguma coisa? E se ela está precisando de ajuda e não pode nos avisar?

Meryl se levantou e colocou as mãos nos ombros de Christiane, olhando diretamente para ela.

— Hey... Respira. Vamos pensar com clareza. Se não conseguirmos contato, ligamos para alguém que possa saber onde ela está. Mas vamos esperar um pouco antes de imaginar o pior, tudo bem?

Christiane balançou a cabeça e respirou fundo, tentando se acalmar.

— Você está certa. Não adianta eu me desesperar. Mas se ela não aparecer nos próximos trinta minutos, vou ligar para o mundo inteiro se for preciso.

— Fechado. Trinta minutos. Até lá, tentamos nos distrair.

Ambas voltaram a se sentar, mas o clima de apreensão permaneceu. O silêncio entre elas era pesado, cheio de pensamentos que nenhuma queria verbalizar.

Assim que Jules entrou no chalé, pingando chuva e carregando uma mistura de emoções que parecia prestes a explodir, deu de cara com Christiane deitada no peito de Meryl, recebendo um carinho delicado nos cabelos. A cena, que em outro momento poderia ser completamente inofensiva, foi a gota d'agua para o caos que já fervilhava em sua cabeça. Racionalmente, sabia que não tinha motivo para se incomodar, mas naquele instante não havia espaço para racionalidade. Estava sensível demais, exausta demais, irritada demais e, para completar, completamente molhada.

As duas mulheres se levantaram imediatamente ao vê-la entrar. O olhar de preocupação genuína que lançaram só serviu para aumentar o peso em seus ombros. Elas começaram a se aproximar, prontas para ajudá-la ou ao menos entender o que havia acontecido, mas Jules levantou a mão, cortando qualquer tentativa de contato.

— Vou dormir — disparou, quase trincando os dentes, enquanto cruzava a sala sem sequer olhar para trás.

Christiane franziu o cenho, irritada com a atitude abrupta.

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