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Sophie trancou a porta do quarto ao entrar . Então olhou ao redor. Estava um tanto escuro, ja era noite, e ela podia ver o céu azul escuro e profundo afora. Ela foi até sua janela e a abriu, deixando um vento frio e suave entrar em seu quarto. As estrelas brilhavam intensamente no céu, a lua cheia estava grandiosa e silenciosa como a própria noite. Através dos muros Sophie podia ver as colinas verdes e árvores em certos cantos. Todos silenciosos.
Por um momento ela apenas observou aquele silêncio todo. Ela sempre vivera trancada dentro dos muros da própria casa. Nunca conhecera ninguém além de familiares. Ela se sentia só no meio daquela solidão silenciosa que era a noite naquele lugar.
Sophie virou-se para o quarto, e se deparou com os livros jogados no chão.
A maioria presente do pai. Ela afastou esse pensamento. Estava com raiva dele no momento por obrigar ela a ir para a casa de sua tia, por nunca a ouvir. Ela sentiu uma pontada de curiosidade quando pensou no porquê dele ir viajar tão cedo, mal havia chegado!
-Ele só precisa ser o homem mais rico da redondeza.-disse a si mesma enquanto pegava os livros do chão e colocava de volta na estante.
Então, quando estava no meio do ato de colocar Hamlet na estante, ela avistou um livro diferente no chão. Pôs o clássico de Shakespeare na estante e pegou o estranho livro. Era branco, e parecia muito antigo, fino, e com um elástico mantendo seu conteúdo escondido. Na capa havia a inscrição "O mundo dos sonhos".
Sophie franziu o cenho. Será que seu pai havia lhe trazido um livro e ela não sabia? O garoto loiro poderia ter colocado em seu quarto enquanto ela estava no andar de baixo com seu pai, poderia ter entrado pela porta dos fundos e ter jogado esse livro no meio dos outros. Ela estremeceu ao imaginar um estranho como ele em seu quarto. De qualquer forma não fazia nem um sentido. Por quê não a entregar pessoalmente? O que havia de tão especial no livro? E se ele já soubesse da sua reação após a conversa,e então tivesse pedido para o garoto por o livro no quarto de Sophie como um modo de amenizar a situação?
Ela encarou o livro. Então deixou em cima de sua escrivaninha. Não havia como amenizar a situação. Ela estava a dois dias dos meses mais torturantes de sua vida e nem um livro poderia mudar isso.
Sophie deitou em sua cama e apenas observou o céu, imaginado como seria se ele tivesse outra cor, se as estrelas fossem pessoas e a lua falasse...
Alguém bateu na porta, e Sophie percebeu que havia adormecido. Mais uma batida. Ela levantou e então abriu a porta. Era Joane com uma bandeja de comida na mão.
-Como a senhorita não veio jantar, seu pai pediu para trazer o jantar para a senhorita no quarto.-disse ela.
Sophie apenas encarou a bandeja.
-Não estou com fome.
Joane balançou a cabeça.
-Senhorita...
-Ja disse que não estou com fome.
A empregada suspirou e saiu.
Sophie fechou a porta. Ela estava faminta mas não ia ceder fácil, estava disposta a fazer qualquer coisa para não ir para a casa de sua tia.
Ela sentou na cama e olhou a escrivaninha. O livro ainda estava lá. Mas o que teria dentro? Ela sentiu vontade de abri-lo. Mas então estaria aceitando o presente de seu pai, e ele acharia que estava tudo bem. Não. Ele não podia compra-la com um livro.
Ela deitou novamente, e ficou assim por um tempo, encarando o teto. Até que cedeu. Foi até lá e pegou o livro. Ele não saberia.
O elástico que prendia o livro era roxo e de uma textura estranha. Ela o puxou para o lado , a fim de abrir o livro, porém ele voltou para o lugar. Sophie franziu o cenho. Então puxou de novo. Mas ele voltou ao lugar de início. Ela bufou.
-Mas o que é isso?!
Foi aí que, as letras douradas do nome do livro, na capa, acenderam com se fossem os raios do sol nascendo, e ficaram cada vez mais forte.
Sophie deixou o livro cair no chão.
Ele acendeu totalmente e iluminou o quarto. A garota sentia seu coração disparar a toda, enquanto fechava os olhos para manter a luz afastada. Mas o que era aquilo? Ela estava ficando louca ou o pai dera a ela um livro que brilhava?
Então a luz apagou. E o quarto ficou escuro novamente.
Ela abriu os olhos, e lá estava o livro no chão, sem o elástico.
Ela hesitou, mas não por muito tempo. Quando Sophie abriu o livro veio a surpresa. Estava em branco. Todas as páginas, que pareciam feitas com folhas usadas em pergaminhos, estavam vazias.
Ela encarou o livro por um longo tempo perplexa. Será que seu pai dera o livro para ela usar como um diário? Ela não se mexeu, apenas encarou o livro. Então depois do que pareceu uma eternidade, o livro ganhou vida.
Ela arregalou os olhos enquanto palavras se formavam nele, como se alguém estivesse escrevendo nele, mas não havia ninguém no quarto além de Sophie. Então as palavras se formaram e dançaram formando no final uma frase.
Bem vinda, minha querida Sonhadora.
Sophie sentiu seu coração pular para a boca. Sonhadora era um apelido que suas primas a deram. Se isso era uma brincadeira não havia graça, e elas iriam pagar por aquilo. Já haviam passado dos limites.
Mas o livro não parou aí.
Novas palavras começaram a dançar nele e formaram outra frase.
Você está pronta para voltar para casa?
Ela franziu o cenho.
-Estou em casa.-disse, e como se pudesse entende-la, o livro respondeu.
Não, não está. Você pertence ao mundo dos sonhos.
Então as páginas do livro foram viradas, até chegar a uma imagem. Era uma espécie de cidade medieval, mas muito bonita, com um castelo de cristal no final, acima de uma montanha grande, as casas eram antigas, mas haviam algumas com enfeites de ouro, e pontes rodeadas de diamante , árvores coloridas , torres com detalhes de pedras preciosas, e estátuas com detalhes em ouro e diamante. Ela não sabia dizer se era dia ou noite, o céu não estava visível.
Então a imagem sumiu.
-O... O que é o mundo dos sonhos?
Um lugar onde tudo é real. Onde nascem os sonhos. Você o conhece, Sonhadora, é a sua casa.
Sophie sentiu vontade de jogar o livro contra a parede, de jogar nas próprias primas. Aquela brincadeira ridícula só poderia vim delas.
-Ah é? Bom eu não sei com que tipo de magia negra você andou mexendo Marie, ou Elena, seja quem for, mas isso não vai ficar assim. Não mais.
Não fale sobre magia negra, Sonhadora. Muito cuidado.
Sophie sorriu.
-Está com medo que eu conte a sua mãe, não está?
O livro não respondeu. Sophie o encarou. Como suas primas conseguiram fazer algo como esse?
Então as páginas viraram novamente.
E novas palavras se formaram.
Chegou a hora.
Ela sentiu um calafrio. Do que o livro estava falando?
Venha para casa, Sonhadora.
Ela estremeceu, e então o livro começou a brilhar novamente. Ela o soltou no chão. O que estava acontecendo? Isso não parecia mais brincadeira de suas primas. Ela se sentia cada vez mais estranha. Tonta, e tudo começou a girar.
-Sophie.-ela ouviu ao longe alguém bater na porta. Era seu pai. Mas ela já estava na cama. Tinha que dormir. Mas uma batida. A luz aumentou.
-Sophie!-a voz ficou urgente. A porta foi aberta, e alguém entrou, parecendo em pânico,mas ela já não estava em seu quarto. A luz a cegou.
E ela adormeceu.

O labirinto dos sonhosOnde histórias criam vida. Descubra agora