XXV

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Sophie estava em um lugar de paredes altas e escuras, feitas de mármore, e é claro, frias. Estava deitada sobre algo macio e extremamente confortável. Uma cama, grande. Do outro lado havia uma janela grande que ia do chão ao teto, mas ela não podia ver nada além de escuridão através dela. Uma luz fraca azulada vindo de uma luminária em um dos cantos do quarto iluminava era toda a luz que havia ali.
Ela sentia seu coração acelerado e tentou levantar, mas era como se seu corpo não ouvisse as ordens que o cérebro passava. Sophie olhou ao redor e viu sombras se movendo. Nesse instante ela ja estava em pânico. Até que uma mão fria tocou sua testa.
Sophie gritou.
–Shhh...calma minha querida, não farei nada a você.
Ela olhou para cima com a respiração acelerada e viu um par de olhos roxos a encarando. Os reconheceu imediatamente, mas antes que pudesse gritar, a mulher pôs uma mão sobre sua boca, evitando que saísse qualquer som, e Sophie arregalou os olhos apavorada.
–Pare com isso, ja disse que não farei nada.-Sophie percebeu que ela estava sussurrando, e havia se aproximado para dizer tais palavras, o que fez a garota poder ver melhor suas feições.
Tinha um rosto bonito, apesar de que aparentava estar doente, os olhos roxos eram protegidos por grandes e bonitos cílios negros, o nariz fino e longo, as maçãs do rosto elevadas e uma boca perfeitamente desenhada tinha um tom roxo, os cabelos eram lisos de um tom azul quase preto. Mas seus olhos não expressavam maldade, e sim algo que a fez ficar mais calma.
A mulher assentiu e abriu um pequeno sorriso, então tirou a mão da boca de Sophie, afastando-se e sentando em uma cadeira que havia ao lado da cama.
–Sophie.-Ela falou novamente, porém como se a repreendesse–Por que você fez isso meu bem?
Sophie franziu o cenho. Do que ela estava falando? Estava repreendendo-a por ter se entregado? Mas ela estava do lado do rei. Do que ela estava falando?
Sophie tentou falar, mas sua voz não saiu.
–Oh, desculpe...eu precisei fazer isso, para que você não grite novamente.
Sophie balançou a cabeça dizendo que não iria gritar novamente.
A mulher virou a cabeça de lado e colocou uma mão nos lábios, como se ponderasse a decisão. Todos os seus movimentos eram delicados e exalavam magia, com certeza era uma feiticeira, e Sophie estava encantada com aquilo, apesar de saber que ela estava do lado dos vilões, a feiticeira parecia ter saído de um conto de fadas.
–Sim, sou uma feiticeira meu doce-disse, como se pudesse ler os pensamentos de Sophie, e balançou as mãos em um gesto.
Sophie sentiu sua voz voltar e seu corpo se libertar.
–Obrigada.-disse ela sentando-se,apesar de não saber por que exatamente estava agradecendo, ja que a feiticeira que havia a prendido e a feito ficar sem voz.
A mulher sorriu.
Sophie sorriu também, mas logo desfez seu sorriso. Por que estava tão encantada com a feiticeira, quando deveria estar com medo do que ela poderia e iria fazer com ela? E por que a feiticeira estava sendo tão gentil? Havia algo errado ali.
–Por que você está sendo tão gentil comigo?
O sorriso da feiticeira se transformou em uma careta triste, e ela baixou os olhos.
Só então Sophie viu que a feiticeira estava vestida com um vestido negro de mangas longas coberto de palavras na língua do mundo dos sonhos, que brilhavam no escuro em um tom leve de azul, uma capa pendia dos ombros da mesma e descia até seus pés, que estavam cobertos pela mesma.
–Sei o que está pensando.-disse ela no mesmo tom de voz anterior, quase sussurrando, e Sophie ergueu os olhos novamente para o rosto da feiticeira que a encarava.
Uma vez que fazia contato visual, Sophie não conseguia parar de olhar. Ela se sentiu incomodada com isso.
–Pode parar com isso por favor?-disse instantaneamente.
A feiticeira arregalou os olhos de leve e então franziu o cenho.
–Oh, eu sinto muito...é natural dos feiticeiros.
Sophie assentiu, mas ainda assim, não conseguiu evitar pensar que Dinny não possuía toda aquela magia que a deixava enfeitiçada como a feiticeira que estava a sua frente, talvez ele a tenha contido, ou a tenha perdido para o labirinto...
–Você não respondeu a minha pergunta.-disse Sophie soando mais severa do que realmente queria.
A feiticeira suspirou.
–Eu não tenho motivos para ser nada além de gentil com você, apesar do que acaba de fazer.
–Apesar de eu me entregar?-Sophie perguntou erguendo uma sobrancelha.
A feiticeira se aproximou e sussurrou mais baixo.
–Você tem idéia do que fez? Tem idéia do que estava em jogo? Por que você fez isso?- sua voz soou pela primeira vez desesperada, e Sophie se sentiu imediatamente triste por ter feito ela ficar assim.
–Eu sinto muito...não, espera, o que você esta fazendo comigo? Foi você que me levou ao labirinto!-sua voz se elevou e a feiticeira fez um sinal com a mão.
–Fale baixo, ou o rei virá.
Sophie franziu o cenho.
–Mas...
–Sim, eu a coloquei no labirinto, por que era o único jeito de trazer você para cá, de acabar com tudo, era o que tinha que acontecer. -ela falava rápido, como se estivesse de repente com pressa–Eu sabia que Arthur viria atras de você, fiz o rei pensar que ele estava me obrigando a fazer aquilo, ele me prometeu que se eu a trouxesse para o labirinto Dinny seria libertado,mas é claro que ele mentiu...
–Espera, não estou entendendo.-Sophie a interrompeu–Você queria que eu viesse para o mundo dos sonhos? Mas me julga por que me entreguei.
–Não era para você se entregar , Sophie, você deveria vir com Arthur e acabar com isso, então estaríamos livres, Dinny estaria livre.
–E como você conhece Dinny?-Perguntou Sophie, apesar de la no fundo saber a resposta.
A feiticeira suspirou triste e olhou para a janela do outro lado do quarto, então levantou-se rapidamente e foi na direção de Sophie.
–Você precisa sair daqui, agora.
Sophie encarou a feiticeira.
–Quem é você?
Ela balançou a cabeça mas antes que pudesse dizer qualquer outra coisa, a porta do quarto se abriu com um estrondo e uma figura alta entrou.
–Lunna, vejo que veio ver como está nossa futura rainha.-disse uma voz grave e Sophie estremeceu, e pode ver que a feiticeira teve a mesma reação. Então ela era Lunna, de quem Dinny falara. E pelo que Sophie podia ver, havia sido encontrada, e estava tão livre quanto Sophie no momento.
...
Arthur encarava o papel em sua mão como se pudesse apagar aquelas palavras, ou mudar o que havia acontecido.
–Ela não fez isso.-repetia ele.
Dinny colocou uma mão sobre seu ombro e o fez levantar-se da beira da cama.
–Eu sinto muito Arthur, eu não queria isso também, você sabe como eu gostaria de ver tudo isso acabar, e como ao fazer isso ela botou tudo...
–Cale-se!- Arthur gritou, fazendo Dinny calar-se involuntariamente. O garoto não fazia isso a muito tempo, dar uma ordem. Mas suspirou e abaixou os olhos.
–Desculpe Dinny, você pode falar.
O feiticeiro mordeu o lábio inferior.
–Eu entendo que você esteja assim, mas mantenha a calma. Sabe que desse jeito não conseguirá salva-la.
Arthur sentou-se e botou a cabeça entre as mãos puxando seu cabelo com força.
–Por quê diabos ela fez isso? -ele disse dando um tapa na cômoda causando um estrondo– Sophie sua...ahg! O que aquele nojento sem coração não deve estar fazendo nesse momento...ahg!
Dinny suspirou e estalou os dedos, fazendo aparecer um copo com um conteúdo verde claro dentro.
–Beba isso.-disse entregando o copo a Arthur.
–Não quero um calmante, só quero estrangular alguém! -disse levantando-se da cama e andando pelo quarto–Como puder ser tão idiota?! Eu a tive aqui comigo...a pouco tempo, ela estava aqui, Dinny! E agora está nas mãos dele, agora está em perigo, por que eu não a protegi? Por quê não fui mais forte? Por quê...
O feiticeiro segurou com uma das mãos a camisa de Arthur o fazendo parar.
–Basta. Beba isso agora e vamos traçar um plano para pega-la. Ficar se culpando não a trará de volta.
Arthur arregalou os olhos, então pegou o copo e bebeu.
O efeito foi imediato. Ele suspirou e em seguida sentou-se na cama, sentindo-se mais leve.
–Tudo bem.
Dinny assentiu sorrindo.
–Isso! Agora vamos repassar o que aconteceu ontem.
–Ela disse que ficaria, nós dormimos e quando acordei...-Ele olhou para cama onde estivera Sophie algumas horas antes, e mordeu a mandíbula.
–Sim, porém, ela levou armas, uma das quais é a adaga da profecia.
Arthur franziu o cenho.
–Não significa nada. Ela apenas pegou para se defender dos monstros do labirinto.
–Você insiste em negar o que esta no livro não é mesmo?-Disse Dinny.
–É uma história Dinny. Ela deveria estar em casa nesse momento, lendo um de seus livros na biblioteca, ou praticando aulas de piano.
–Mas não está. Então voltemos a realidade meu garoto.-Dinny falou impaciente.–Não seja tolo. Ontem seus irmãos estiveram aqui, e a levaram, porém você não viu pois achou que estava tudo bem, com sua princesinha nos seus braços.-Havia um pouco de raiva no tom que Dinhy usou.
Arthur olhou para a cômoda novamente e encarou o L desenhado na madeira.
–É hora de acordar para a realidade, Arthur. Não pode protege-la para sempre. É hora de acabar com tudo isso.
O garoto levantou e foi em direção a janela. O dia estava claro, quase alegre naquela manhã. O céu estava em seu tom verde azulado de sempre, porém mais brilhante, como se houvesse um sol no mundo dos sonhos que brilhava mais intensamente.
Dinny tinha razão, e Arthur sabia. Havia tentado salvar Sophie, não queria vê-la sofrer nas mãos de seu pai, não queria condena-la. Mas era isso que fizera ao se negar a aceitar seu destino. Talvez se ele tivesse aceitado o que Dinny estava tentando lhe avisar a muito tempo, se concordasse com a ideia de ir para o castelo com ela e matar seu pai, Sophie não teria motivos para ter feito aquilo. Agora ele estava sozinho, e ela estava nas mãos do rei. Fora tolo. E isso não poderia acontecer novamente. Jamais.
–Você esta certo.-disse ele afinal.-Não posso mais fugir. Não sou mais um garotinho com medo do pai. Tenho que enfrentar isso, ja está na hora de por um fim nisso tudo.
Ele virou para Dinny e sorriu, o mesmo sorriso que seu pai dava, um sorriso que herdara do rei.
–Eu vou salvar Sophie-disse.-E vou matar o rei.

O labirinto dos sonhosOnde histórias criam vida. Descubra agora